Nos últimos anos, o congelamento de óvulos e de embriões se tornou uma escolha cada vez mais comum entre mulheres e casais que desejam adiar a maternidade, seja por motivos pessoais, profissionais ou de saúde. Os tratamentos têm sido impulsionados por diversos fatores, como o aumento da expectativa de vida, os avanços na medicina reprodutiva e maior foco na carreira e nos projetos individuais.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mulheres que engravidam após os 35 anos tem crescido significativamente: entre 2010 e 2020, a taxa de gestações na faixa etária de 35 a 39 anos aumentou em 63%.
Diante dessa realidade, muitas mulheres enfrentam a decisão de postergar a gravidez, o que gera a necessidade de tratamentos para tentar minimizar o impacto na fertilidade. Com isso, surgem dúvidas: qual a melhor opção, o congelamento de óvulos ou de embriões? O que cada procedimento envolve? Para quem cada um é indicado? Qual oferece as melhores chances de sucesso?
Entenda como funciona o congelamento de óvulos
O tratamento consiste na administração de hormônios que visam estimular os ovários a amadurecer a maior quantidade de óvulos possível. Em um ciclo natural, eles possuem a capacidade de amadurecer, geralmente, somente um óvulo – fazendo com que o processo dure em torno de 14 dias.
“Quando prontos, são coletados por meio de uma punção ovariana, procedimento simples e minimamente invasivo. Em seguida, são congelados e mantidos em um banco de células reprodutivas até o momento em que a mulher decide se serão utilizados para tentar uma gestação”, explica a Dra. Michelle Nagai, especialista em reprodução assistida da clínica VidaBemVinda, unidade do Fertgroup em São Paulo. Vale ressaltar que a quantidade de óvulos obtida por tratamento é diferente e limitada por características específicas de cada mulher.
Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que, entre 2020 e 2023, houve um aumento de 76,3% no número de mulheres que recorreram ao congelamento de óvulos no Brasil.
E o congelamento de embriões?
Nesse caso, o tratamento medicamentoso é bem semelhante ao feito para o congelamento de óvulos. A diferença é que após coletados, esses óvulos serão fecundados com espermatozoides em laboratório, gerando embriões que posteriormente serão congelados e utilizados quando o casal decidir.
O procedimento é indicado principalmente para casais ou pessoas que buscam banco de óvulos ou espermatozoides com o objetivo de formar o embrião. “Quando o congelamento é realizado, já em estágio de embrião, o tempo após o descongelamento e transferência é menor, além de termos resultados imediatos sobre taxa de blastulação (formação de embrião), entre outros, nos fornecendo dados sobre a chance de gravidez mais fidedignos. Dessa forma, se não forem obtidos bons resultados na formação de embriões, um novo estímulo ovariano para coleta de óvulos pode ser feito a seguir”, esclarece a especialista.
Quando uma mulher opta por congelar apenas óvulos, não é possível prever com precisão como será o processo de descongelamento nem as taxas de formação de embrião ou embriões. Por isso, é necessário congelar uma quantidade maior de óvulos para aumentar as chances de sucesso.
Como escolher o tratamento adequado?
O congelamento de óvulos é uma estratégia que garante mais autonomia reprodutiva da mulher, mesmo para aquelas em relacionamentos estáveis. Esta técnica oferece um importante salvaguarda, pois em caso de fim do relacionamento, a mulher ainda manterá a possibilidade de utilizar seus próprios óvulos congelados. No entanto, essa decisão deve ser feita em conjunto com a mulher ou o casal, sempre de forma clara, detalhando os riscos e benefícios de cada tratamento.
“Quando optamos apenas pelo congelamento de embriões (óvulos já fertilizados), criamos uma situação de dependência. Em caso de término do relacionamento, estes embriões não poderão ser utilizados sem o consentimento de ambas as partes. Esta limitação torna-se particularmente problemática considerando que, no momento da separação, a mulher frequentemente já está em idade reprodutiva mais avançada, quando um novo ciclo de estimulação ovariana pode não ser mais uma opção viável do ponto de vista médico”, explica a médica.
Esta realidade contrasta com a situação masculina, já que os homens geralmente mantêm a capacidade de produção de espermatozoides por um período muito mais extenso de suas vidas, oferecendo-lhes naturalmente mais opções reprodutivas a longo prazo.
Segundo um estudo publicado na revista Fertility and Sterility, mulheres que congelam óvulos antes dos 35 anos apresentam uma taxa de sobrevivência dos óvulos superior, além de maiores chances de fertilização e subsequente maiores chances de gravidez.
“A idade é o principal fator que influencia o sucesso do congelamento de óvulos. Mulheres mais jovens conseguem uma maior quantidade de óvulos por estímulo, além destes terem qualidade superior, fatores que impactam diretamente nos resultados a longo prazo”, pontua a especialista, que complementa: “O importante é entender os riscos e benefícios de cada técnica e assim escolher a mais adequada”.
O que considerar antes de tomar uma decisão?
A decisão entre congelar óvulos ou embriões vai além das taxas de sucesso. É fundamental avaliar aspectos como a idade, a fase da vida reprodutiva, o desejo de ter filhos com um parceiro e o tempo disponível para aguardar até a gestação.
Para mulheres que ainda não encontraram um parceiro ou que desejam adiar a maternidade para priorizar a carreira ou outras questões, o congelamento de óvulos é uma escolha mais segura. Já para casais que estão prontos para começar a jornada da paternidade, mas preferem adiar a gravidez por alguns anos, o congelamento de embriões pode ser mais vantajoso.
“Antes de tomar qualquer decisão, é essencial conversar com um especialista em fertilidade, que pode ajudar a entender as particularidades de cada processo e quais são as opções mais adequadas para o momento de vida de cada pessoa”, conclui Michelle Nagai.