Em 2023, foram registrados mais de 140 mil casos de violência contra pessoas idosas no Brasil, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Já entre janeiro e junho deste ano, tivemos um aumento de 20% em relação ao mesmo período do ano passado, com 78 mil denúncias registradas.
Embora esses números sejam alarmantes, eles podem indicar que, na verdade, mais pessoas têm buscado ajuda e denunciado casos de violência contra idosos, que vão desde física e psicológica à financeira.
A participação de cuidadores e familiares é um dos principais pilares na prevenção e no combate desses casos. Familiares, amigos e vizinhos podem formar uma rede de proteção que ajude a identificar sinais de abuso e atitudes suspeitas.
“É importante criar um ambiente onde o idoso se sinta ouvido e valorizado. Não é fácil para apenas um cuidador, por isso, a criação de uma rede de apoio é essencial para que eles tenham mais de uma pessoa a quem recorrer”, explica Danilo Suassuna, doutor em psicologia e diretor do Instituto Suassuna, que realiza congressos, extensões e cursos de pós-graduação voltados para psicólogos.
Cerca de 40% dos casos envolvem algum tipo de violência física e 30% correspondem à violência psicológica, quando envolvem ameaças, humilhações e isolamento social. Segundo Suassuna, sinais de abuso psicológico incluem mudanças de comportamento, como o idoso se tornar mais retraído, ansioso ou deprimido.
“Podem também surgir sinais de medo ou nervosismo na presença de certas pessoas”, sinaliza o psicólogo. “Outro sinal é quando o idoso começa a se autodepreciar ou expressar sentimentos de inutilidade ou desesperança”, aponta.
A negligência também é considerada um tipo de violência, caracterizada pela falta de cuidados básicos, como alimentação, higiene e medicação, que representa cerca de 20% dos casos. Promover a independência e autonomia do idoso dentro de suas capacidades é essencial para sua autoestima e bem-estar. No entanto, manter uma presença constante e regular pode ajudar o idoso a seguir uma rotina saudável.
“Incentivar a participação em atividades sociais, como clubes, grupos comunitários e esportes recomendados pelos profissionais de saúde que o acompanham, podem ser muito benéficos. Além de manter o idoso ativo, pode estimular outras funções cognitivas”, salienta Suassuna.
Outra preocupação crescente é a violência material, especialmente com a vulnerabilidade dos idosos a fraudes e golpes. Esta representa os restantes 10% dos casos de violência registrados, uma das mais difíceis de detectar devido à dificuldade de identificar sinais de alerta sem a devida gestão financeira.
Sinais de abuso financeiro incluem mudanças inexplicáveis na situação financeira do idoso, saques bancários incomuns, alterações ou adições súbitas em documentos legais como testamentos, e a presença de novos amigos ou cuidadores que parecem excessivamente interessados em questões monetárias.
“Novamente voltamos à questão da mudança de comportamento e alterações na rotina ou vida social do idoso”, explica o doutor em psicologia. “É crucial que a rede de apoio esteja atenta e ajude o idoso a monitorar suas finanças de forma segura, talvez com a ajuda de um profissional de confiança, e acionar suporte jurídico quando necessário”.
O Banco Central recomenda a utilização de contas conjuntas ou autorizadas para que familiares possam acompanhar as movimentações, sempre respeitando a autonomia do idoso. Dessa forma, eles podem ajudar a verificar regularmente extratos bancários e faturas de cartão de crédito para detectar atividades suspeitas. Estipular limites para saques e transferências também pode ajudar a prevenir golpes.
Como muitos golpes financeiros têm origem na internet, também é importante ensinar os idosos a utilizar a tecnologia de maneira segura. Eles devem ser orientados a nunca fornecer informações pessoais ou bancárias por telefone ou redes sociais sem a devida verificação da identidade do solicitante, entre outras medidas de segurança. Existem diversos materiais e recursos educativos que podem ser compartilhados pela família.
“É importante que os idosos se sintam independentes tendo seu próprio celular e perfis em redes sociais, por exemplo. O papel dos mais novos pode ser orientar quais caminhos seguir”, recomenda Suassuna.