São Paulo, março de 2025 — A pandemia redefiniu o mundo do trabalho e implementou novas práticas profissionais de forma profunda. Há cinco anos, milhões de trabalhadores foram forçados a trabalhar de suas casas, transformando permanentemente suas relações com o escritório, a profissão e o equilíbrio pessoal.
“Hoje, temos a perspectiva necessária para analisar as consequências desse momento decisivo, que reformulou prioridades e expectativas. Se, a curto prazo, as empresas reagiram com agilidade, agora é preciso consolidar essas mudanças. Os desafios do futuro estarão na capacidade de conciliar flexibilidade, inovação e gestão de talentos, sem deixar de lado os aprendizados dos últimos anos”, explica Lucas Nogueira, diretor regional da Robert Half.
A seguir, uma análise das transformações que estão redesenhando o mercado de trabalho nos últimos cinco anos, com base nos estudos da Robert Half e em insights de especialistas.
1) Uma mudança no equilíbrio de poder entre empregadores e funcionários
Nos últimos cinco anos, o setor de recrutamento passou por algumas oscilações. Após a crise da Covid-19, que suspendeu diversas contratações, a necessidade de uma retomada econômica acelerada, acompanhada pelo reaquecimento do mercado de trabalho, gerou uma demanda intensa por profissionais qualificados.
À medida que as oportunidades de emprego cresceram exponencialmente, recrutadores enfrentaram um duplo desafio: atender às expectativas cada vez mais altas dos profissionais e lidar com um mercado mais exigente e volátil.
- 54% dos profissionais planejam trocar de emprego em 2025. Destes, 69% manifestam interesse em mudar de empresa, mantendo sua área profissional, e 31% o desejo de explorar um novo ramo (Fonte: Índice de Confiança Robert Half):
- TOP motivos para troca de empresa: melhores oportunidades de crescimento, salário mais alto e novos desafios.
- TOP motivos para mudança de carreira: realização pessoal, qualidade de vida, salário mais alto.
- TOP motivos para troca de empresa: melhores oportunidades de crescimento, salário mais alto e novos desafios.
Essa mudança de poder alterou radicalmente as expectativas dos talentos. Além do salário e benefícios, flexibilidade, saúde mental e perspectivas de crescimento se tornaram critérios igualmente importantes.
2) A busca por propósito: uma reflexão intensificada pela crise
A pandemia destacou a importância dos chamados “trabalhadores da linha de frente” – aqueles que continuaram atuando durante o período de confinamento, como profissionais da saúde, professores, entregadores e funcionários do varejo. Enquanto esses trabalhadores essenciais mantinham suas atividades presenciais, grande parte dos profissionais se viu em home office ou com suas carreiras temporariamente interrompidas.
Esse cenário gerou uma profunda reflexão sobre o significado do trabalho, tornando a busca por propósito mais forte do que nunca. De acordo com dados da 6ª edição da Pesquisa Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, realizada em parceria com a The School of Life:
- Líderes sentem-se prioritariamente felizes em razão de realização profissional e senso de propósito (61%), equilíbrio entre vida pessoal e profissional (58%) e desafios contínuos (54%).
- Entre os liderados, destacam-se o clima organizacional e relacionamentos positivos (75%), equilíbrio entre trabalho e vida pessoal (72%) e realização profissional e/ou senso de propósito (48%).
3) Vida profissional x vida pessoal: um novo equilíbrio após a fusão das fronteiras
O trabalho remoto forçado pela pandemia impactou drasticamente o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Durante o isolamento, milhões de trabalhadores precisaram conciliar reuniões virtuais, cuidados com os filhos e tarefas domésticas. Com as fronteiras entre trabalho e vida pessoal desfocadas, a busca por um novo equilíbrio se tornou prioridade.
- 69% dos profissionais indicam a possibilidade de equilíbrio entre vida pessoal e profissional como um dos aspectos mais importantes na escolha de uma vaga, o que representa um crescimento de cinco pontos percentuais entre uma edição e outra (Fonte: Índice de Confiança Robert Half).
- Embora a maioria das pessoas nas empresas (58%) considere estabilidade e salário igualmente importantes, uma parte significativa (30%) valoriza mais a segurança no trabalho do que os ganhos financeiros (Fonte: Guia Salarial 2025)
A crise redefiniu prioridades individuais, aumentando a demanda por flexibilidade. Modelos híbridos e direito à desconexão se tornaram fatores inegociáveis. Empresas precisam adaptar suas práticas para atender a essas novas necessidades de bem-estar e autonomia.
- 64% dos empregados apontaram a possibilidade de trabalho remoto ou híbrido como um dos fatores mais relevantes, além do salário, no aceite de uma oportunidade, um aumento de seis pontos percentuais entre uma edição e outra (Fonte: Índice de Confiança Robert Half).
4) Aceleração da transformação digital: uma nova relação com o tempo e a produtividadeO ano de 2020 impulsionou uma digitalização repentina e obrigatória para as companhias. Ferramentas virtuais de comunicação e colaboração se tornaram indispensáveis no dia a dia profissional. Esse avanço tecnológico alterou a relação com o tempo, tornando-o mais fragmentado, e aumentou a procura por produtividade. Nesse contexto, a inteligência artificial vem se consolidando como um novo “colega de trabalho”, auxiliando no crescimento da eficiência.
De acordo com o Guia Salarial 2025 da Robert Half:
- 87% das empresas incentivam o uso ou exploração da usabilidade da IA generativa para tarefas rotineiras a fim de aumentar a produtividade.
- 47% dos profissionais utilizam ferramentas de IA generativa todos os dias ou quase todos os dias de trabalho.
5) Funções gerenciais: paradigma para as novas gerações
Com o avanço dos modelos de trabalho, o papel das lideranças mudou significativamente. Equipes híbridas, maior preocupação com o bem-estar dos colaboradores e a necessidade de flexibilidade tornaram a gestão mais complexa. Além disso, muitos profissionais – especialmente os mais jovens – estão evitando promoções para cargos executivos, preferindo se especializar em suas áreas de atuação.
Essa escolha não reflete falta de ambição, mas sim uma nova forma de encarar a evolução profissional dentro das empresas. Às organizações, isso representa um grande desafio: repensar o apoio aos gestores e criar alternativas para a retenção de talentos sem depender exclusivamente de promoções gerenciais. A mobilidade interna emerge como um fator estratégico para o engajamento dos colaboradores.