Sou amante da música, mas quando surgiu em Manaus um espaço que ensinava música clássica gratuitamente para meninos e meninas, situado na rua Major Gabriel, no Centro de Manaus, fiquei curiosa por saber quem seria Claudio Santoro.
Eu ainda muito jovem e mesmo sendo uma grande orgulhosa de ser amazonense na minha “sã ignorância” desconhecia quem era Claudio Santoro. A grande realidade é que infelizmente o brasileiro acaba não cultuando os seus grandes representantes artísticos. Após de alguns dias, debruçada sobre a música de Santoro quis deixar aqui uma singela homenagem e, quem sabe, estudo “raso” sobre quem foi esse grande manauense.
Considerado um dos maiores compositores e maestros brasileiros, sendo reconhecido por seu trabalho tanto no Brasil como no exterior. Sua vida foi marcada por desafios e superações, e seu legado continua inspirando artistas e amantes da música até os dias de hoje.
Nascido em Manaus, no coração da Amazônia, em 23 de novembro de 1919. Claudio cresceu ouvindo música clássica e jazz, além de ter se encantado com a música popular brasileira, especialmente o samba e a bossa-nova. Ele aprendeu a tocar diversos instrumentos, como o violino, o violoncelo e o saxofone, e mostrou-se um aluno dedicado e talentoso.
Com seu empenho no âmbito musical, o Governo do Amazonas encaminhou Claudio para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades na área musical. Lá, ele estudou na Escola Nacional de Música e conheceu importantes artistas da época, como Villa-Lobos e Francisco Mignone. Foi Villa-Lobos, inclusive, que o incentivou a seguir a carreira como compositor.
Em 1941, Santoro compôs sua primeira obra de impacto, a Sonata para Violino e Piano, que lhe rendeu o Prêmio Nacional de Música. A partir daí, sua carreira deslanchou, e ele se tornou um dos principais compositores brasileiros da época, com obras que transitavam entre a música clássica e a popular.
Em 1947, Santoro foi premiado com uma bolsa de estudos da Fundação Guggenheim. Contudo, não pode dela usufruir, pois teve seu visto de entrada nos Estados Unidos da América do Norte negado.
Foi então para a França, onde estudou com Nadia Boulanger, uma das mais importantes e requisitadas professoras de composição do século XX. Boulanger teve entre seus alunos ninguém menos que Astor Piazzolla, Igor Stravinsky, Leonard Bernstein, Aaron Copland, entre tantos outros.
De Paris, Santoro foi para Varsóvia e Praga, estabelecendo uma forte ligação com a cultura dos países da então Cortina de Ferro. Em 1948 foi o delegado Brasileiro no 20. Congresso de Compositores Progressistas de Praga. Esse congresso condenou a música dodecafônica como “Burguesa e Decadente”. Isso causou grande impacto sobre Cláudio Santoro, que vinha trabalhando uma espécie de mistura entre os estilos dodecafônico e nacionalista.
Sua carreira internacional foi bastante intensa, com apresentações em países como Estados Unidos, Alemanha, França e Inglaterra. Ele recebeu diversas honrarias e prêmios ao longo dos anos.
Poucos sabem mas no início da “Era Chateaubriand” elaborou um programa infantil na Rádio Tupi e escreveu partituras para cinema que lhe fizeram merecer um prêmio da Associação Brasileira de Críticos de Arte.
Sua única ópera composta em 1984, “Alma”, foi inspirada na primeira parte da trilogia “Os Condenados”, de Oswald de Andrade. A ópera é dividida em quatro atos e dura duas horas e trinta minutos, relata uma trama em São Paulo da década de 20, onde uma moça chamada Alma não correspondia a paixão do escritor João do Carmo e preferiu se relacionar com um cafetão que a agredia e obrigava ela se prostituir em cabarés.
A ópera só foi apresenta duas vezes, a primeira em 1998, no Teatro Amazonas em Manaus, no II Festival Amazonas de Ópera (FAO) e no mesmo festival em 2019, nas comemorações do centenário de Claudio Santoro.
Maestro Santoro foi professor fundador do Departamento de Música da Universidade de Brasília. Em 1979 fundou a Orquestra do Teatro Nacional de Brasília, atualmente Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, da qual foi regente titular até sua morte em março de 1989.
Infelizmente, a carreira de Claudio Santoro foi interrompida precocemente: em 1989, ele sofreu um acidente vascular cerebral que o deixou gravemente debilitado vindo a falecer no mesmo ano.
Com mais de 600 composições, Santoro também compôs trilhas sonoras para filmes e espetáculos teatrais, além de ter se dedicado à pesquisa musical e folclórica, especialmente no âmbito das culturas indígenas do Brasil.
A vida e a obra de Claudio Santoro são um legado precioso para a cultura brasileira. Seus esforços para unir a música clássica ao popular, para valorizar a riqueza das tradições musicais brasileiras e para difundir a cultura musical do país no exterior são exemplos de dedicação e comprometimento artístico. Santoro deixou um legado musical imenso, que continua inspirando e emocionando artistas e amantes da música em todo o mundo.
Escute algumas de suas obras a seguir: