Ademir Ramos (*)
O Amazonas é muito mais do que um produto no mercado da indústria cultural. É expressão de um povo marcado pela diversidade de valores materiais e simbólicos que representa nossa identidade no imaginário das relações sociais conectados com o vasto mundo das culturas enquanto fundamentos da sociedade.
Nossa formação é plural regida pelo extrativismo até a ciência da nanotecnologia. Contudo, a natureza como unidade determinante tem sido uma das forças condicionantes de nossa formação.
A história do Amazonas e do seu povo não é linear é compreendida a partir das rupturas manifestas em suas relações com a própria natureza e, particularmente, contra os afoitos exploradores travestidos de religiosos, negociantes e políticos de ocasião, promotores do que se denominou chamar de “guerra justa”, como prática civilizatória para aprisionar nossa gente, não só pela força da política da dominação como também pela matriz do cristianismo etnocêntrico marcado pela redução dos povos sob o taco de uma cultura romana do padroado do saque e da rapinagem.
O Amazonas é nossa plataforma de resistência contra o avança das frentes extrativistas e neocoloniais. Vários torpedos políticos foram destinados para destroçar os valores substantivos da nossa cultura enquanto representação da sua gente, cultura esta que nos unifica e diferencia frente aos aventureiros e oportunistas.
A façanha política dos aventureiros é fragilizar cada vez mais os valores culturais de nossa gente negando sua diversidade e exaltando a monocultura como manifestação de massa fonte de riqueza para indústria cultural à custa da perversa desigualdade que nos assola tanto na capital como no sertão do Amazonas.
Da mesma forma promovem também investimentos na Educação desconectados da cultura como prática indutora de novos valores para desqualificar e desmoralizar a ciência, a sabedoria e as práticas da nossa cultura popular. Para estes formuladores da indústria cultural os valores de nossa gente são apresentados como exóticos servindo tão-somente para registrar a concentração dos indicadores econômicos da política de turismo do Estado.
Somos pelo fortalecimento de uma política cultural assentada nas matrizes históricas de nossa gente conectadas com o processo educacional centrado na ciência, no saber e inovação tecnológica interativa capaz de garantir a sustentabilidade articulada com as culturas e suas práticas sociais no curso da nossa formação econômica e social.
(*) É professor, antropólogo, coordenador do projeto jaraqui e do NCPAM do Dpto. de Ciências Sociais da Ufam. [email protected]