Metade dos estagiários ou candidatos a vagas de estágio no país (49%) pertencem às classes D e E, segundo pesquisa da Companhia de Estágios, líder em recrutamento e seleção de estagiários, trainees e jovens aprendizes. Trata-se de uma parcela de estudantes que possuem baixa renda familiar mensal (Até 3 salários mínimos, somada a renda de toda família). Além disso, 36% deles são responsáveis pelo pagamento da sua educação.
Este panorama mostra que há uma quantidade significativa de estudantes que enfrentam desafios maiores para finalizar a educação superior, acessar o mercado de trabalho, complementar a formação com cursos extras e contribuir com a renda familiar. Considerando esse cenário, junto a um mercado de trabalho competitivo, as empresas começam a adotar a estratégia de investir na formação de pessoas a partir de um olhar social. Um exemplo é a Softys, que este ano investiu, pela primeira vez, na realização de um programa de estágio que reservou 60% das vagas para estudantes de baixa renda.
Segundo Emily Gois, Analista de Desenvolvimento Organizacional da Softys, a empresa vê inclusão e diversidade como pautas importantes. Por isso, estabelece metas anuais para contratações de mulheres no quadro geral e na liderança, além de contratação de pessoas com deficiência. No que diz respeito à inclusão racial, mais da metade do seu quadro de colaboradores é formado por pessoas que se autodeclaram pretas e pardas. “Na Softys, de forma genuína, acreditamos que o programa de estágio é uma porta de entrada importante para que talentos que se autodeclaram negros ou baixa-renda encontrem uma oportunidade de aprendizado e desenvolvimento profissional, acrescentando também à empresa diversidade de ideias e contribuindo para um fluxo contínuo de inovação.
Jéssica Gondim, Gerente de Projetos da Companhia de Estágios, explica que empresas que têm a intenção de criar programas de estágio voltados para este público possuem o desafio duplo de derrubar barreiras, como a exigência de cursos de inglês e demais qualificações extras, bem como criar caminhos para garantir a inserção e o desenvolvimento desses talentos. “Por vezes, candidatos competentes podem ser barrados por não terem tido a chance de estudar em instituições de prestígio ou aprender um segundo idioma. É importante que a empresa esteja disposta a buscar meios para priorizar o potencial dos candidatos. Os programas de estágio que eliminam barreiras e oferecem a capacitação técnica aliada ao suporte necessário, como feedback e acompanhamento do aprendizado, são os que conferem oportunidades reais a esses estudantes”, diz Gondim. A especialista destaca ainda que estudantes de baixa renda por vezes não têm roupas sociais e podem ter mais dificuldade de participar de etapas presenciais de um processo seletivo em razão do custo com deslocamento.
Para identificar propriamente o grupo de baixa renda, a Softys disponibiliza formulário específico durante a inscrição para o processo seletivo, conduzido pela Companhia de Estágios. A empresa segue a mesma régua do Governo Federal e considera estudantes de baixa renda aqueles integrantes de famílias que recebem até meio salário mínimo por pessoa ou que possuam renda mensal total de até três salários mínimos. A empresa também oferece suporte financeiro para os candidatos que precisam de apoio com a locomoção e participação das etapas presenciais do processo seletivo.
Ainda sobre a questão de eliminar barreiras, Sabrina Masuchelli, Gerente de Desenvolvimento Organizacional da Softys compartilha: “Nosso programa existe desde 2021 e, aos poucos, fomos evoluindo e nos preparando para desconstruir vieses relacionados a cursos, universidades renomadas ou idiomas, focando nas competências do candidato e no seu potencial. Sabemos os desafios que essa quebra de barreiras gera e por isso, também realizamos agendas de preparação com os líderes para que durante o processo seletivo, sejam acolhedores e cuidadosos. Além disso, contamos com a Companhia de Estágios para aplicar trilhas de conhecimento e fazemos uma agenda chamada #TrocandoIdeias, que ocorre mensalmente para discussão dos aprendizados. Também temos uma agenda de conversa de valor com a participação dos nossos diretores, que é uma excelente oportunidade do contato direto desses estagiários com a alta liderança, para que eles possam ampliar a sua visão do mundo corporativo.”
No quesito desenvolvimento, a Softys também possui projetos de estágio, avaliação de desempenho e feedback quanto ao crescimento deles no trabalho, além de apoiar com auxílio-deslocamento as pessoas candidatas que participam da etapa presencial no processo seletivo, caso seja necessário.
A especialista da Companhia de Estágios avalia que é crítico que as empresas desenvolvam uma consciência interna sobre a importância da diversidade socioeconômica, o que inclui a sensibilização das lideranças e supervisores, que devem estar alinhados com os objetivos de inclusão e equidade. “Empresas que já praticam a equidade de gênero, por exemplo, têm um modelo a seguir: utilizam indicadores para demonstrar a importância da diversidade e como ela contribui para o crescimento organizacional. Por isso, as métricas e dados são importantes para entender os perfis de colaboradores”, diz a especialista.
Os especialistas em recrutamento abordados concordam que a diversidade de vivências e pontos de vista enriquecem o ambiente de trabalho e promovem inovação, criatividade e novas abordagens para resolução de problemas. Além disso, do ponto de vista da empresa, pode promover maior interação com a comunidade, tornando-a referência em gestão de pessoas e políticas de impacto.