A renda média das famílias das comunidades periféricas do País alcança R$ 3,036,23 e gera um potencial de consumo que supera R$ 167 bilhões ao ano, com a maioria dos consumidores pertencentes à classe C. Os dados foram divulgados no levantamento “Persona Favela I Dia da Favela 2023”, desenvolvido pelo Nós – Pesquisas.
Com mais de 6 mil comunidades distribuídas pelo País, um número superior a 12 milhões de habitantes e 4 milhões de famílias, as favelas representam um importante canal para o fortalecimento do ambiente de negócios nacional.
O estudo revela uma leve predominância de mulheres consumidoras nas favelas (51%). A predominância etária do público, por sua vez, foi a faixa etária de 25 a 49 anos (30%).
Além disso, há uma ampla diversidade de produtos consumidos: dos produtos de cuidados pessoais e higiene – que movimentaram mais de R$ 465 milhões em 2023 considerando as maiores comunidades do País – ao consumo digital de aplicativos, streaming e serviços financeiros; há diferentes indicadores que demonstram o quanto a população das favelas é um termômetro relevante para as tendências econômicas do País.
“Quando consideramos os fatos coletados na pesquisa, não é difícil afirmar que a favela tem poder de compra e uma ampla capacidade de movimentar o mercado. A favela gera renda, negócios, consumo e é onde empresas, marcas e anunciantes atentos a todo esse potencial econômico devem estar”, explica Emilia Rabello, fundadora e CEO da holding Nós, o Novo Outdoor Social.
A beleza nas favelas
Os indicadores revelam que a percepção de beleza nas comunidades brasileiras vem mudando ao longo dos últimos anos e gera reflexos sobre o consumo de produtos de beleza, moda e higiene nas comunidades periféricas.
Segundo o levantamento, 7 em cada 10 moradores das maiores favelas do País relatam essa mudança de perspectiva, especialmente entre mulheres (74%) e pretos/pardos (72%). Dentro desse contexto, 66% declaram comprar ou usar produtos de acordo com as características físicas (tipo de pele e de cabelo).
Entre os homens, chama a atenção a busca por profissionais de beleza, feita por 79% do público masculino das favelas. De modo geral, a busca por um especialista em serviços de beleza é feita por 7 a cada 10 moradores de comunidades, especialmente aqueles que atuam nas próprias favelas (91%), sendo o principal fator de escolha a confiança no atendimento do profissional (82%).
Em termos quantitativos, além do consumo de produtos de higiene e cuidados pessoais, que superou R$ 465 milhões nas maiores favelas do País em 2023, merece destaque também a compra de itens de moda, como calçados (R$ 80,4 milhões).
Vale ressaltar ainda que os produtos de beleza geram oportunidade para a revenda de grandes marcas, já que 4 em cada 10 moradores compram seus produtos com maior frequência com revendedoras ou consultoras.
Streamings, apps e compras online no radar das comunidades
A inserção digital e a democratização do uso de aplicativos alcança as favelas brasileiras e vai muito além das compras por delivery: 98% dos entrevistados afirmaram ter uma média de 60 aplicativos baixados no celular, com destaque para as redes sociais (82%), aplicativos de bancos (79%), de lojas/compras online (46%), streaming de filmes e séries (43%) e apps de entrega (36% no geral).
Ao todo, vale o destaque dos apps que geram movimentação financeira nas comunidades: além dos aplicativos de compras/lojas, bancos, streamings, deliveries; transportes (24%), streaming de música (20%), apostas (13%) e cursos/apps de educação (12%) são canais eficientes e uma verdadeira oportunidade para marcas de produtos e serviços se aproximarem desses consumidores.
Dos transportes a alimentação fora do lar
A pesquisa mostra, ainda, que 47% dos residentes nas favelas possuem algum transporte próprio, 38% viajam ao menos uma vez por ano e a maioria consome e curte as grandes festas do País, como o Carnaval (54%).
Em relação ao transporte, os homens são os que mais investem na compra de veículos próprios (63%) e os que mais viajam (44%), sendo que, de modo geral, o índice de uso de veículos próprios e de ônibus fretados são as escolhas principais quando o assunto são viagens (37% em ambos os casos).
O consumo de alimentos fora do lar gerou um potencial de consumo superior a R$ 438,3 milhões em 2023, chamando a atenção as compras por delivery (30% dos consumidores pedem comida por aplicativos de entrega ao menos uma vez por semana; 54% uma vez por mês e 66% dos jovens entre 18 e 24 anos possuem apps de delivery em seus celulares).
Enquanto isso, os investimentos em alimentação nos domicílios superaram R$ 1,2 bilhão e têm como predominância a aquisição de produtos em mercadinhos/mercearias e supermercados nas comunidades (52%). O estabelecimento ser perto de casa (81%) é o principal fator de escolha na hora de fazer as compras.
Não por acaso, o empreendedorismo é uma tendência importante nas favelas, com mais de 260 mil comércios mapeados com CNPJ.
Por M&C
Foto: Tânia Rêgo/Abr