A cidade de São Paulo recebeu, nesta semana, 50 ônibus elétricos a bateria que vão integrar a frota do transporte público municipal. As operações terão início ainda este mês.
A legislação de mudanças climáticas da capital paulista prevê a substituição de cerca de 15 mil veículos a diesel por ônibus elétricos. Até 2024, a prefeitura pretende ter 20% da frota (2,6 mil ônibus) composta por eletrificados.
Um primeiro passo para eletrificar a frota da maior metrópole brasileira, é também um modelo de negócio que pode ser replicado para outras cidades do país.
Em todo o Brasil, a frota de transporte público soma cerca de 107 mil veículos, cuja substituição abre possibilidades para alavancar a indústria nacional de fabricação de ônibus, avalia Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES.
O banco de fomento está olhando para a eletrificação do transporte urbano em mais de 30 cidades brasileiras.
Pelo lado do custo, a diretora do BNDES garante que a conta se paga. E o banco de fomento está disposto a ajudar na transição do transporte público.
“Biometano e eletrificação de frota já fecham a conta. Já fica mais barato no longo prazo substituir um ônibus a diesel por elétrico. O desafio é que o capex é maior e o benefício vem do opex em 15 anos. Então o desafio é estruturar bons projetos”, comenta.
Para o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, o Brasil precisa discutir qual modelo adotará na transição da mobilidade urbana: elétrico, hidrogênio ou atualizar a frota diesel para Euro 6? Essa decisão ajudará a indústria automotiva a planejar os investimentos.
“Precisamos entender e planejar como vamos fazer a transição para fazer com que a energia limpa chegue, a infraestrutura para tornar isso realidade e qual a transição que faremos. O Brasil precisa apontar para que a indústria automotiva possa fazer seus investimentos”, defende o ministro.
Jader Filho e Luciana participaram na segunda (18/9) de um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na Semana Climática de Nova York.
Na pauta da eletrificação do transporte coletivo, o ministro das Cidades acredita que a substituição da frota pode ajudar o Brasil a superar um modelo ultrapassado de remuneração da operação a partir da tarifa.
Ele observou que o sistema que já enfrentava dificuldades para se pagar antes da pandemia de covid-19 está em deterioração. E precisa encontrar caminhos para deixar de depender da tarifa paga pelo usuário e de subsídios – também pagos pela população.
“O que tem se observado é a degradação do transporte público e as pessoas se afastando. Com isso, o custo aumenta porque diminui a base. Uma das alternativas é mudar para os ônibus elétricos porque tira uma das maiores partes da tarifa que é o combustível fóssil”.
O gargalo, na visão do ministro, é levar a infraestrutura de recarga para parte das cidades brasileiras mais carentes de serviços públicos.
Títulos soberanos para financiar eletrificação. Lançado no início de setembro pelo Ministério da Fazenda, o arcabouço brasileiro para títulos soberanos sustentáveis promete dar um empurrão no financiamento de projetos de eletrificação no Brasil.
Sem condições de reproduzir o IRA, que destina subsídios bilionários nos Estados Unidos para acelerar a transição doméstica, o Brasil conta com a captação de recursos para bancar o orçamento público com critérios de sustentabilidade social ou ambiental.
Na prática, os instrumentos irão possibilitar que o Brasil obtenha investimentos internacionais para projetos e programas que resultem, necessariamente, em benefícios ambientais e sociais para o país.
É aí que entram os projetos de eletrificação: transporte público com zero ou baixa emissão, ônibus elétricos; estações de carregamento de elétricos e eletrovias; e a eletrificação de frotas públicas, entre outras, são candidatos ao financiamento público.
Por Nayara Machado/epbr