O imbróglio diplomático causado pela rede francesa de supermercados Carrefour, que acusou o setor de carnes brasileiro de não observar regras sanitárias e não ser sustentável, pode ter reflexos mesmo após o pedido formal de desculpas do CEO do Carrefour, Alexandre Bompard.
Alguns já devem impactar a empresa diretamente. A Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) anunciou, nesta semana, que vai tomar medidas contra o Grupo Carrefour e outras empresas francesas no âmbito da União Europeia. Além disso, a Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal convidou o CEO da rede de supermercados e o embaixador da França para se posicionarem sobre o tema.
Para Fernando Canutto, sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Empresarial, alguns dos possíveis impactos jurídicos e econômicos envolvem danos à reputação da rede de varejo, perda de contratos e mercados, uma vez que suas declarações ofenderam consumidores e fornecedores e, até mesmo, eventuais ações legais ações judiciais por danos à reputação ou quebra de contratos movidos pelos fornecedores brasileiros.
“Ao voltar atras em sua declaração, o Carrefour entra em uma situação delicada, pois evidencia que suas declarações iniciais, de que um fornecedor que não atendia aos requisitos sanitários e de sustentabilidade e, passa a atender a estes requisitos 2 dias depois, após uma série de protestos, não estavam embasadas em dados e informações fidedignas, era puro achismo, aliado ao oportunismo”, explica o advogado.
De acordo com Canutto, uma maneira de demonstrar que seu discurso está alinhado com critérios técnicos aceitos no mercado é o Carrefour impor um sistema de compliance rigoroso. “Eles vão precisar demonstrar que seus fornecedores atendem a padrões internacionais de qualidade, sustentabilidade e bem-estar animal, mantendo canais de comunicação abertos com stakeholders internacionais, fornecendo informações claras sobre práticas sustentáveis e certificações obtidas e acompanhando continuamente as tendências e exigências dos mercados internacionais para antecipar e responder a possíveis crises”, acrescenta.
A crise, segundo o especialista, expôs a necessidade de compliance rigoroso, transparência e comunicação estratégica, demonstrando que empresas multinacionais devem monitorar seus fornecedores, manter canais de diálogo abertos e antecipar riscos.