Nesta semana, completou-se um ano do ataque realizado pelo Hamas, que levou Israel a declarar guerra na Faixa de Gaza. O conflito, que teve início em 7 de outubro de 2023, resultou na morte de mais de 41 mil pessoas e outras 96 mil ficaram feridas. A guerra, no entanto, gerou preocupações internacionais a respeito das relações econômicas e comerciais entre países, que foram afetadas pela intensificação dos ataques.
Abaixo, seguem comentários dos professores da instituição sobre o tema.
– Alexandre Uehara, Coordenador do Curso de Relações Internacionais da ESPM. Coordenador Acadêmico do Centro Brasileiro de Estudos de Negócios Internacionais & Diplomacia Corporativa (CBENI & DiC) da ESPM.
“O conflito envolvendo Israel contra o Hamas e mais recentemente, com intensificação das ações militares contra o Hezbollah, gera de imediato preocupações internacionais que afetam a economia dos países. De um lado, existe a apreensão com uma escalada do conflito que influencia diretamente a elevação do preço do petróleo, trazendo repercussões negativas sobre a economia, como a alta da inflação. Uma outra inquietação de diferentes atores econômicos é que uma ampliação do conflito pode fazer com que países como EUA e a China, que são a primeira e a segunda economia do mundo, sejam obrigados a terem um maior envolvimento. Neste último caso, os temores com essa possibilidade fazem com que os investidores contenham seus investimentos, resultando em menor crescimento da economia dos países e do mundo. Com isso, mesmo o Brasil, que não é próximo geograficamente nem está diretamente envolvido com esses conflitos, seria impactado, pois um crescimento menor da economia norte-americana e chinesa levaria a uma menor demanda por produtos que o as empresas brasileiras exportam para esses dois países”.
– Leonardo Winocur, professor de Finanças na ESPM. Bacharel em Ciências Econômicas na Universidade de São Paulo (USP). Tem experiência em empreendedorismo e finanças, com foco em avaliação de empresas e mercado financeiro.
“A intensificação do conflito entre Israel e o Hezbollah traz à tona dois efeitos econômicos de grande relevância. No curto prazo, a possibilidade de que os Houthis intensifiquem seus ataques a navios no Mar Vermelho. Isso, por sua vez, obriga a mudança de rotas comerciais e pode desencadear um aumento nos preços, gerando inflação global, com impacto mais
acentuado na Europa, que depende fortemente de importações vindas do oriente. Além disso, a instabilidade na região pode afetar o fluxo de petróleo, pressionando ainda mais os preços internacionais. No longo prazo, essas tensões exacerbam o conflito econômico entre o Ocidente e o Oriente, alimentando a desglobalização. A desglobalização pode resultar em cadeias de suprimentos mais regionalizadas, uma redução na interdependência econômica global e um aumento no protecionismo. Esse cenário desafia o comércio internacional e a cooperação econômica, levando os países a reconsiderarem suas estratégias de segurança econômica e alianças comerciais”.
– Mariana Oreng, economista e Doutora em Finanças formada pela FGV. Professora de finanças e economia na ESPM, onde também pesquisa sobre riscos políticos e econômicos em processos de internacionalização de empresas. Recebeu três prêmios de pesquisa acadêmica aplicada.
“A análise dos impactos econômicos e financeiros do conflito Israel-Hamas deve levar em conta três fatores principais: os preços das commodities, a aversão ao risco e as questões comerciais. A escalada do conflito pode levar a um aumento no preço do petróleo, que poderia afetar o crescimento global e gerar inflação, complicando a previsão orçamentária das empresas. Além disso, a incerteza geopolítica tende a deixar investidores e empresas mais cautelosos, potencialmente reduzindo a atividade econômica e afetando decisões de política monetária, em um contexto de menor sincronia na normalização de juros pós-pandemia. Por último, a participação de outras potências no conflito pode impactar as políticas comerciais, embora as previsões atuais sugiram que o impacto sobre a segurança alimentar e os preços de commodities, especialmente alimentos, possa ser limitado nos próximos anos.”
– Raphael Almeida Videira, professor do Curso de Relações Internacionais da ESPM, onde atua também como coordenador do Risk Analysis and International Affairs (RAIA).
“A escalada do conflito no Oriente Médio pode resultar em impactos econômicos de diferentes magnitudes e perspectivas. O impacto regional pode ser sentido por uma potencial queda no PIB dos países envolvidos diretamente no conflito, como é o caso de Israel e Líbano, bem como na região de Gaza. Além destes impactos regionais, o conflito na região aumenta a volatilidade do preço do petróleo, sendo que existe uma tendência de aumento no preço deste ativo desde a intensificação das tensões. Um outro impacto importante é o aumento dos custos de transporte para a região, visando os pontos mais críticos do conflito. Com relação ao mercado financeiro, com o aumento do risco na região, os investidores podem retirar seus investimentos da região e levar seus recursos para os EUA, um país com risco menor. O impacto sobre o Brasil de um conflito pode ser sentido com a pressão sobre os preços destes produtos citados acima e uma consequente pressão inflacionária doméstica; além disso, outro fator que pressionaria a inflação seria a valorização do Dólar norte americano frente ao Real.”
– Silvio de Vasconcelos, professor do curso de Relações Internacionais da ESPM. Professor titular no Programa de Pós-Graduação em Administração da ESPM São Paulo. Doutor (2016) e mestre (2012) em Administração pela UNISINOS.
“Após um ano de conflitos entre Israel e seus oponentes estabelecidos em países do Oriente Médio, é possível antever efeitos na internacionalização das empresas. A instabilidade que se instalou afeta especialmente uma das dimensões que mais impactam o investimento estrangeiro direto: o risco político. Para investir, é preciso ter previsibilidade, possibilidade de desenhar cenários. Quando o nível de incerteza é alto, os investidores preferem transferir seus investimentos para outras regiões, o que afeta não só Israel, mas toda a região.
Nesse sentido, a América Latina — com todas as suas restrições em termos de infraestrutura e economia — se torna uma alternativa. São claros os esforços da diplomacia brasileira e de outras nações da região de tentar evitar o contágio de tensões políticas sejam elas endógenas ou exógenas.”
– Roberto Uebel, Doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professor de Relações Internacionais da ESPM em temas da Geopolítica, Geoeconomia e Geografia dos Negócios Internacionais
“Os conflitos atuais entre Israel e o Irã, Hezbollah, Hamas podem ser interpretados pela lente da Diplomacia Corporativa, na medida em que grandes corporações são forçadas a atuar como intermediárias entre interesses estatais e regionais, buscando proteger suas operações e reduzir os riscos em áreas de instabilidade. Esses conflitos, marcados por questões geopolíticas, religiosas e econômicas, afetam significativamente o mercado energético e de defesa. Empresas multinacionais na região, principalmente as que atuam nos setores de petróleo e gás, defesa e telecomunicações, estão profundamente inseridas nesse cenário, onde precisam lidar com um ambiente instável, proteger seus ativos e manter boas relações com governos e organizações regionais. Nesse sentido, muitas vezes, as grandes corporações tornam-se intermediárias entre os interesses de governos e outros atores locais, utilizando a Diplomacia Corporativa para reduzir riscos e maximizar oportunidades em meio ao conflito, tornando-se, de fato, atores não-estatais indispensáveis. Nesse contexto, a Diplomacia Corporativa se torna uma ferramenta fundamental para manter uma imagem de responsabilidade social corporativa e garantir a continuidade das operações. Ao engajar-se em iniciativas de desenvolvimento local e estratégias de mitigação de impacto, essas corporações tentam não apenas proteger seus ativos, mas também contribuir para a estabilidade regional, que é fundamental para a previsibilidade nos mercados globais e a segurança das cadeias de suprimento internacionais.”
– Fábio Pereira de Andrade, economista e professor do Curso de Relações Internacionais da ESPM
“Considerando a perspectiva Diplomacia Corporativa, os conflitos em que o Estado de Israel está imerso geram dois desafios. O primeiro se relaciona com a necessidade das empresas Israelenses se comunicarem com investidores e agentes envolvidos nos negócios (Stakeholders), essa comunicação precisa ser organizada para trazer clareza sobre os impactos dos conflitos e as estratégias para amenizá-los. O segundo se relaciona com as estratégias de empresas e da sociedade civil organizada influenciarem o governo israelense, seja para promoção de paz ou estratégias de defesa. Cumpre destacar que a economia israelense é caracterizada por setores tecnológicos e de novos negócios (startups).”