Você já imaginou saber exatamente o que quer dizer, mas não conseguir mover a boca para formar as palavras? Essa é a realidade de milhares de crianças com Apraxia de Fala na Infância (AFI), um distúrbio neurológico que afeta o planejamento dos movimentos da fala. Apesar de pouco conhecida, a AFI não é tão rara quanto se pensa: estudos recentes indicam que 1 em cada 1.000 crianças pode ter o transtorno. No Brasil, onde há cerca de 35 milhões de crianças entre 0 e 14 anos (IBGE, 2022), isso significa que milhares de pequenos brasileiros lutam diariamente para serem entendidos.
Apesar de ser considerada rara na população geral, a AFI pode ser bastante comum em algumas condições clínicas específicas, como na síndrome de Down e no transtorno do espectro do autismo (TEA). A condição é compreendida como um transtorno neurológico que impacta diretamente o planejamento e a coordenação dos movimentos da fala, dificultando a comunicação funcional desde os primeiros anos de vida. “A criança sabe o que quer dizer, mas não é capaz de planejar como vai mexer os músculos da boca para realmente conseguir dizer. Pode-se dizer, portanto, que é uma alteração do movimento no cérebro”, explica a doutora Vanessa Magosso, otorrinolaringologista e coordenadora do Departamento de Foniatria da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF).
Por que precisamos falar sobre AFI?
- A AFI é frequentemente confundida com atrasos simples de fala ou autismo, atrasando o diagnóstico.
- Crianças com AFI entendem tudo, mas seu cérebro não consegue programar e planejar os movimentos necessários para falar claramente.
- O tratamento precoce faz toda a diferença! Estudos mostram que intervenções especializadas podem melhorar significativamente a comunicação.
Para ampliar a visibilidade do tema, a ABORL-CCF promove, entre os dias 12 e 18 de maio, a Semana de Conscientização da Apraxia de Fala na Infância, em alusão ao dia 14, data de Conscientização Mundial sobre o tema, instituída pela Lei nº 1.274-A/2022.
A campanha tem como objetivo ampliar a visibilidade da condição e sensibilizar a sociedade sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento especializado. “É fundamental que haja uma abordagem inclusiva capaz de assegurar a todas as crianças, independentemente de suas dificuldades de comunicação, o direito de se expressar e interagir”, reforça a especialista.
Nesse sentido, um dos principais destaques da ação é a valorização da Foniatria e da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) no suporte às crianças com dificuldades de fala. “A CAA, reconhecida por instituições como a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) e a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), abrange recursos como aplicativos interativos, pranchas de símbolos e dispositivos com voz sintetizada, que permitem a expressão de pensamentos, emoções e necessidades de forma funcional, social e acadêmica”, complementa a médica.
Outro ponto importante é o reconhecimento de sinais precoces de atraso na fala, o que pode fazer toda a diferença no desenvolvimento da criança. “A fala, considerada a ‘cereja do bolo’ no desenvolvimento infantil, geralmente aparece por volta do primeiro ano de vida, após uma intensa fase de integração sensorial. Quando isso não acontece, é preciso investigar possíveis transtornos motores de fala, como a AFI”, alerta a doutora.
O que observar: 10 sinais que podem indicar apraxia de fala em crianças
Embora o diagnóstico de apraxia de fala deva ser feito por especialistas, alguns sinais precoces podem ajudar pais e cuidadores a buscar ajuda profissional o quanto antes. Fique atento se a criança:
- Tem dificuldade frequente para iniciar palavras ou sons, como se “procurasse” a forma de começar a falar.
- Repete sons ou sílabas diversas vezes, tentando corrigir a própria fala.
- Apresenta distorções ou troca de sons.
- Fala com ritmo incomum, como se separasse sílabas de forma exagerada.
- Faz pausas estranhas ou prolonga sons, especialmente em palavras mais longas ou complexas.
- Tem uma fala que parece hesitante ou truncada, com “falsos começos” e tentativas de reorganizar a frase.
- Fala muito devagar, mesmo quando parece saber o que quer dizer.
- Tem dificuldades para repetir sequências de sons ou palavras rapidamente.
- Muda a forma como pronuncia uma mesma palavra em diferentes momentos, sem padrão consistente.
- Fica frustrada ao tentar se comunicar, especialmente porque entende bem o que ouve, mas não consegue se expressar com clareza.
Programação e conteúdos educativos
Durante toda a semana, a ABORL-CCF disponibilizará vídeos, materiais informativos e conteúdos educativos voltados a profissionais de saúde, educadores e familiares. O objetivo é promover uma cultura de escuta, respeito e inclusão, reforçando que a comunicação é um direito humano inegociável. A programação completa estará disponível nos canais oficiais da entidade.
Para mais informações, acesse: https://aborlccf.org.br/inicio/