O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) costuma ser um marco transformador na vida de uma família. Embora frequentemente associado às crianças, há um aumento significativo na identificação de autismo em adultos, incluindo pais que, ao buscarem entender melhor seus filhos, acabam reconhecendo sinais do TEA em si mesmos. Essa nova perspectiva lança luz sobre dinâmicas familiares complexas e oferece oportunidades únicas para fortalecer os laços familiares.
Para muitos pais, o diagnóstico pode ser libertador. Eles encontram explicações para características que, por vezes, foram incompreendidas ao longo da vida, como dificuldades em interações sociais, sensibilidade sensorial ou uma propensão ao hiperfoco. Esse reconhecimento não apenas contribui para o autoconhecimento, mas também fortalece o vínculo entre pais e filhos, pois cria um espaço de empatia mútua.
A descoberta de um diagnóstico de TEA em pais também pode reformular a maneira como as famílias lidam com desafios cotidianos. Pais que compartilham características com seus filhos autistas muitas vezes possuem insights únicos sobre as necessidades e preferências deles. Contudo, essa realidade pode apresentar desafios adicionais, como a necessidade de equilibrar as próprias dificuldades com o papel de apoio e orientação para os filhos.
Do ponto de vista social, a crescente visibilidade do autismo em adultos desafia estereótipos antigos que limitavam a compreensão do TEA a crianças ou manifestações mais severas. Isso destaca a importância de uma abordagem mais inclusiva e ampla sobre o espectro, reconhecendo que cada indivíduo, independentemente da idade, apresenta um perfil único. Em muitos casos, o autismo em adultos pode se manifestar de forma mais branda, o que dificulta o diagnóstico na infância. Com o tempo, essas características podem se tornar mais evidentes.
Além do diagnóstico dos pais, outros familiares também estão se descobrindo dentro do autismo. Uma nova pesquisa, divulgada na revista Pediatrics, traz à tona um dado alarmante: irmãos de crianças autistas têm 20% mais chances de receber o mesmo diagnóstico. Esse achado reforça a importância de estudos genéticos e neurobiológicos para entender as causas do autismo e oferecer melhores cuidados às famílias.
Para além da questão diagnóstica, é essencial abordar as estratégias de suporte e adaptação que podem melhorar a qualidade de vida dos adultos autistas e suas famílias. Isso inclui o desenvolvimento de rotinas mais estruturadas, apoio psicoterapêutico e a busca por comunidades de apoio. Em muitos casos, a conexão com outros pais autistas pode fornecer um sentimento de pertencimento e uma troca valiosa de experiências e estratégias. É importante ressaltar que o diagnóstico de autismo em adultos é um processo complexo e individual. Nem todos os pais de crianças autistas se identificarão com o transtorno, e o diagnóstico deve ser realizado por profissionais especializados.
O reconhecimento tardio do autismo em adultos também levanta questões importantes sobre acessibilidade e suporte dentro dos sistemas de saúde e educação. Ainda há desafios significativos na formação de profissionais para atender a essa população de maneira adequada e inclusiva. Políticas públicas voltadas para a conscientização e o acolhimento de adultos autistas são fundamentais para garantir que essas pessoas tenham acesso a diagnóstico, tratamento e suporte adequados.
* Por Paloma Herginzer