Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda transporta o universo único, multifacetado e subversivo de um dos mais profícuos e talentosos estilistas brasileiros para os espaços expositivos do Museu Judaico de São Paulo. Mais do que ter acesso a um acervo de roupas, sapatos, bolsas, chapéus, fotos e vídeos exclusivos de desfiles, a partir de 20 de abril, o público poderá conhecer mais sobre a trajetória e o processo criativo do filho de imigrantes judeus de segunda geração que deu seus primeiros passos como estilista ao aprender com sua mãe Regina Herchcovitch, dona de uma confecção de lingeries na época, a costurar e logo pôs suas ideias em prática ao criar roupas para ela.
“Estou bastante feliz em poder mostrar parte do meu acervo e de minhas ideias ao grande público. Sempre sonhei com este momento”, diz Alexandre. A curadoria de Maurício Ianês reconta os anos de trabalho árduo, criativo e impecável de Herchcovitch que o levaram para as principais semanas de moda de São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Paris e Nova York; e a vestir personalidades como a estrela islandesa Björk e a atriz estadunidense Scarlett Johansson, além de grandes modelos como Gisele Bündchen, Caroline Ribeiro e Fernanda Tavares, ícones da moda internacional nos anos 1990 e 2000.
Já no fim da adolescência, desenhou uma caveira, que, junto da sua assinatura, se tornou a sua primeira logomarca. Inspirada em imagens de livros de anatomia, foi também a sua primeira estampa, um símbolo da sua produção que é utilizado – e desejado – até os dias de hoje. Um dos itens presentes na exposição, é justamente a primeira caveira desenhada por Alexandre em 1986, antes mesmo de haver de iniciar o curso de moda na Faculdade Santa Marcelina. Além desse elemento histórico, a mostra conta com mais de 40 looks que remontam sua trajetória, entre eles destacam-se o macacão de poliamida criado especialmente para o DJ Johnny Luxo em 1993, peças feitas de látex, uma bolsa com o formato da personagem infantil Hello Kit, e a reedição, feita exclusivamente para a exposição no MUJ, de 5 looks da coleção de inverno 2012 que foi inspirada nas vestes de judeus religiosos.
Herchcovitch fez da moda uma ferramenta de questionamento dos padrões de gênero e de representatividade. A mostra relembra o senso de coletividade, subversão e inclusão que guiou o estilista para colocar abaixo com sua força criativa os preconceitos e limites de um mercado exclusivo, reconstruindo um sistema desde as suas bases a partir de um olhar queer. Esse universo criado pelo estilista, fica evidente na instalação criada pelo Estúdio Campo que ocupa todas as paredes da galeria em um grande papel de parede. São dezenas de fotografias de família, desfiles, bastidores e editoriais, que servem como fundo para 30 pequenos monitores que apresentam os desfiles das coleções criadas por Alexandre Herchcovitch.
Desde os anos 1990 passou a fazer parte da efervescente noite paulistana e logo se aproximou de drag queens, travestis, transexuais e de toda a multiplicidade de personagens que compunham a cena da música eletrônica desse período. A fascinação do estilista pelas performances das drag queens, que se tornaram suas amigas, e pela subversão dos gêneros normativos estarão presentes, inclusive, na abertura para convidados em 18 de abril quando a drag queen e modelo Marcia Pantera fará uma performance artística vestindo um look criado especialmente para a ocasião, e que remonta ao desfile de formatura do estilista em que Márcia foi a principal atrações.
“Este olhar nunca deixou de levar em conta as vivências de Herchcovitch como judeu, mas abrange também suas outras vivências, sociais e políticas, de forma intensa”, afirma Ianês relembrando também a inclusão de indígenas, negros, asiáticos e marginalizados pela normatividade hegemônica. O curador completa: “essas parcerias e universos marginais foram centrais para Herchcovitch, e essa exposição é uma celebração desse caleidoscópio mutante que é a cabeça do criador”.
Nos bastidores da carreira estrelada, o estilista nunca deixou de prezar por sua família, seu círculo de amigos e sua origem judaica. Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda também aborda como a estética das mulheres judias religiosas da Europa Central e do Leste e as roupas dos Haredim (judeus ultraortodoxos) se misturaram a macacões sadomasoquistas, sapatos de saltos altíssimos, roupas de látex, vestidos de cetim de seda desconstruídos, lingeries, babados inspirados por Carmen Miranda, burkas e biquínis, sempre com um pé nas comunidades alternativas que o receberam quando era jovem: os punks, góticos, ravers, as drag queens, as trabalhadoras sexuais, as travestis e as transexuais. A exposição é um retrato de um estilista que exprimiu a influência de sua identidade judaica, sempre em diálogo com outras perspectivas e identidades.
Sobre o Museu Judaico de São Paulo (MUJ)
O Museu Judaico de São Paulo cultiva e apresenta a diversidade das expressões da cultura judaica em diálogo com o contexto brasileiro e com o contemporâneo, dedicando à defesa dos direitos humanos e ao combate ao antissemitismo e a todas as formas de preconceito. Fruto de uma mobilização da sociedade civil, o MUJ foi inaugurado em 2021 como o maior museu judaico da América Latina e guardião do maior acervo judaico brasileiro. Além de quatro andares expositivos, com exposições permanentes e temporárias, o museu realiza festivais literários, concertos musicais, seminários, debates, publicações, oficinas e um amplo programa educativo, sempre entrelaçando perspectivas judaicas e não judaicas. Os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas.
Para os projetos de 2024, o MUJ conta com Itaú, B3, Banco Safra, Klabin, Porto, Banco Alfa, Banco Daycoval, Deutsche Bank, Dexco, Leal, BMA Advogados, Cescon Barrieu, Leo Madeiras e Verde Asset. Os apoiadores da exposição: Tapetes São Carlos, Mionetto, JC Decaux.
Serviço:
Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda
Abertura para convidados: 18 de abril, a partir das 19h
Aberta para o público a partir das 10h de 20 de abril (sábado)
Local: Museu Judaico de São Paulo
Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP
Funcionamento: Terça a domingo, das 10 horas às 18 horas (última entrada às 17h15). Excepcionalmente nas quintas-feiras, o horário é das 12h às 21h (última entrada às 18:15)
Ingresso: R$ 20 inteira; R$10 meia. Entrada gratuita aos sábados
Classificação indicativa: Livre
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida