Com a proximidade do Dia das Mães, a publicidade costuma reforçar uma imagem idealizada da maternidade: mães sempre sorridentes, disponíveis e plenas. Mas, para muitas mulheres, a experiência materna passa longe desse retrato. A romantização da maternidade pode ter efeitos negativos no bem-estar psicológico das mães, especialmente quando ela se vê sobrecarregada, solitária ou incapaz de atingir um padrão de perfeição irreal.
“A ideia de que a maternidade é sempre linda e instintiva faz com que muitas mulheres se sintam culpadas por não estarem felizes o tempo todo ou por enfrentarem dificuldades emocionais”, diz Danielle Adomoni, psiquiatra da infância e adolescência, supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Essa culpa pode até levar a sentimentos de ansiedade, baixa autoestima e depressão.
De acordo com um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma em cada quatro mulheres desenvolve depressão pós-parto. Mas esses sintomas de tristeza, ansiedade, baixa autoestima e sensação de inadequação podem aparecer também ao longo dos anos de maternidade.
Para além da rotina exaustiva, muitas vezes aprofundada pela dupla ou tripla jornada entre trabalho, filhos e casa, as mães ainda enfrentam uma cobrança silenciosa: a de manter a aparência de que está tudo sob controle. A mulher moderna é cobrada para ser mãe presente, profissional de sucesso, parceira amorosa e ainda manter o autocuidado em dia. “É uma carga mental pesada”, diz a psiquiatra.
As redes sociais também cumprem um papel ambíguo. Ao mesmo tempo em que criam espaços de troca de informações e acolhimento, por outro alimentam comparações com outras mães que parecem dar conta de tudo com leveza. Especialmente ao acompanhar o dia a dia de influenciadoras ou mesmo amigas que postam uma realidade cuidadosamente editada – e muitas vezes nada realista. “Essa comparação com realidades selecionadas pode piorar a sensação de inadequação e fracasso”, diz Danielle Admoni.
Uma dica de ouro é simplesmente deixar de seguir perfis ou influenciadores que façam o seguidor se sentir inferior ou menos bem sucedido. É o velho ditado em ação: “o que olhos não veem, o coração não sente”.
Para enfrentar essa realidade, é preciso adotar uma abordagem mais realista e empática sobre a maternidade, tanto nas campanhas publicitárias quanto no debate público. “Precisamos falar sobre as adversidades da maternidade com naturalidade e incentivar que mulheres não sintam vergonha de procurar o apoio de profissionais de saúde mental caso sintam essa necessidade”, afirma a psiquiatra.
Neste Dia das Mães, a melhor homenagem pode ser ouvir de verdade o que as mães sentem, para além dos clichês.