A polícia brasileira acusou o suposto líder de uma “organização criminosa transnacional” de ser o mentor dos assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira na Amazônia há um ano.
O jornalista britânico e o especialista indígena brasileiro foram mortos a tiros quando voltavam de uma viagem de reportagem à remota região do vale do Javari em 5 de junho de 2022.
Três pescadores locais estão atualmente na prisão aguardando um possível julgamento por júri por suspeita de assassinato de Phillips e Pereira, um ex-funcionário do governo que ajudava ativistas indígenas a defender suas terras da pesca ilegal e gangues de mineração.
Na noite de domingo, a emissora brasileira TV Globo revelou que a polícia federal havia indiciado formalmente mais dois homens pelos assassinatos.
Eles são:
– Ruben Dario da Silva Villar, suposto líder de uma rede transnacional de pesca ilegal que operava na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru
– E Jânio Freitas de Souza, um pescador que teria sido um dos capangas de Silva Villar no rio Itaquaí, onde Phillips e Pereira foram assassinados.
A Polícia Federal acusou Silva Villar – conhecido pelo apelido de Colômbia – de mandante dos assassinatos e ocultação dos corpos das vítimas. Souza foi indiciado pela participação nos dois crimes.
A acusação de seis páginas da polícia federal, vista pelo Guardian, disse que as investigações policiais indicaram que Silva Villar e Souza haviam se falado repetidamente nos dias anteriores e posteriores ao crime do ano passado.
Durante entrevista à polícia em 2022, Souza teria afirmado que conhecia Silva Villar “de vista”. Mas, de acordo com a denúncia da Polícia Federal, um total de 419 ligações foram feitas entre os dois homens entre 1º de junho de 2022 – quando Phillips e Pereira chegaram ao Javari para iniciar uma viagem de reportagem de quatro dias – e 6 de junho, um dia depois de serem morto.
As evidências coletadas durante a investigação de um ano apontavam que “os passos de Bruno e Dom estavam sendo monitorados pela organização criminosa” nos dias que antecederam o crime.
Phillips, de 57 anos, havia viajado para a região para relatar as patrulhas indígenas que o ativista de 41 anos ajudou a criar para proteger o território indígena do Vale do Javari de grupos de pescadores e garimpeiros ilegais.
O documento da polícia federal de 31 de maio de 2023 também diz que um cartão de memória pertencente a Phillips, que os investigadores encontraram na região onde foram mortos, continha uma imagem do jornalista britânico conversando com Souza perto da cena do crime na manhã dos assassinatos.
A acusação acusa Silva Villar – que tem cidadania brasileira, colombiana e peruana – de ser o chefe de um sindicato armado de pesca ilegal que extraía peixes de terras indígenas protegidas no Brasil antes de vendê-los em cidades na fronteira com a Colômbia e o Peru.
Souza é descrito como o “braço direito” do suposto criminoso em São Rafael, vilarejo ribeirinho de onde Phillips e Pereira partiram de barco minutos antes de serem emboscados e baleados. Um dos três homens que aguardam julgamento pelos assassinatos, Amarildo da Costa de Oliveira, é descrito como o homem-chave da quadrilha em São Gabriel, outra comunidade de pescadores próxima.
A notícia chegou quando amigos e admiradores de Phillips e Pereira se preparavam para se reunir no Brasil e no Reino Unido para lembrar os homens e as causas que eles defendiam.
Para marcar o aniversário de segunda-feira, os eventos serão realizados na capital do Brasil, Brasília, onde Pereira já trabalhou para a agência indígena Funai, e na praia de Copacabana, no Rio, onde Phillips costumava praticar paddleboarding enquanto morava na cidade litorânea.
Outros memoriais serão realizados em Campinas, Salvador e na cidade amazônica de Belém, enquanto ativistas da EVU, a equipe de monitoramento indígena que Pereira ajudou a criar, subirão o rio Itaquaí para erguer uma imponente cruz de pau-brasil onde os dois homens foram mortos.
Homenagens também serão feitas no Reino Unido com um evento na noite de segunda-feira no centro de artes Rich Mix, no leste de Londres.
“Muitas pessoas foram tocadas por essa tragédia e esses eventos são para que as pessoas se unam e se lembrem de Dom e Bruno, e ajudem a lidar com a perda deles”, disse a irmã da repórter britânica, Sian Phillips.