Internet ruim e problemas logísticos frustram audiência sobre assassinato de jornalista britânico e especialista indígena brasileiro
Ativistas e advogados que representam as famílias de Dom Phillips e Bruno Pereira expressaram frustração e raiva depois que as audiências preliminares de três de seus supostos assassinos foram suspensas devido a problemas de internet e logística nas prisões de alta segurança onde os réus estão sendo mantido os presos.
Três dos supostos assassinos do jornalista britânico e especialista indígena brasileiro deveriam prestar depoimento atrás das grades esta semana durante audiências parcialmente online, que devem abrir caminho para um julgamento com júri, possivelmente no segundo semestre deste ano.
No entanto, problemas de conectividade e logística nas penitenciárias onde o trio está preso atualmente, nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, bem como no tribunal da cidade amazonense de Tabatinga, impossibilitaram a conclusão do processo porque muitos depoimentos ficaram incompreensíveis.
Os advogados esperavam ouvir mais de 10 testemunhas durante uma sessão prevista para durar três dias, mas apenas cinco foram ouvidas entre segunda e quarta-feira. Os advogados não conseguiram interrogar os três réus, Amarildo da Costa de Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima. Na terça-feira, a sessão teria sido prejudicada por um corte de energia em Tabatinga.
Os advogados que representam as famílias de Pereira e Phillips – que foram mortos a tiros em junho passado quando voltavam de uma viagem de reportagem na Amazônia – expressaram exasperação.
“Lamento que o Estado brasileiro pareça não estar dando a devida importância ao caso – a ponto de, por exemplo, não conseguir garantir que os réus compareçam a essas audiências”, disse João Bechara Calmon, advogado da A viúva de Pereira, Beatriz Matos.
“Isso é uma coisa tão simples de garantir e até agora o Estado brasileiro parece não ter conseguido. Acho que isso causa sofrimento adicional às famílias”, acrescentou Calmon, que chamou a situação de “vergonhosa”.
O grupo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), que Pereira ajudou a fundar, disse que o fiasco “envergonhou a sociedade brasileira” e causou sofrimento desnecessário às famílias dos homens.
“Se o julgamento dos três carrascos enfrenta esse tipo de dificuldade, como podemos acreditar que os mandantes serão levados a julgamento?” Opi perguntou.
Rafael Fagundes, advogado da família de Phillips, disse: “Lamentamos esses problemas técnicos e esperamos que sejam resolvidos o mais rápido possível para que o processo possa continuar”.
A Anistia Internacional Brasil denunciou a “incrível negligência” do judiciário para com as pessoas que pagaram para tentar proteger as florestas tropicais do Brasil com suas vidas. “Exigimos justiça para Bruno e Dom!” o grupo twittou.
Calmon disse acreditar que os promotores públicos tinham um caso muito sólido contra os três homens, com base em um extenso corpo de evidências convincentes produzidas durante a investigação. Ele estava confiante de que assim que a audiência preliminar – que deve ser retomada na quinta-feira – fosse concluída com sucesso, o juiz ordenaria um julgamento completo.
“O Estado, que tanto falhou, tem agora a chance de se redimir, de alguma forma, pelas falhas e omissões que acabaram levando a essa tragédia”, disse o advogado. “Embora obviamente todos saibamos que nenhuma condenação jamais reparará os danos causados por esses indivíduos.”
*Com informações: The Guardian