Dina Boluarte se recusou a renunciar, apesar dos furiosos protestos em todo o país pedindo sua renúncia, disse na sexta-feira (27) que as eleições deveriam ser antecipadas para dezembro deste ano as eleições que ocorreriam em abril de 2024, em uma tentativa de aliviar as sete semanas de agitação que já custou 57 vidas – a maioria civis mortos em confrontos com as forças de segurança.
Falando em uma base aérea militar em Lima, Boluarte disse esperar que a proposta incondicional “nos tire deste pântano”. Ela disse que o ramo executivo do governo convocará eleições assim que o Congresso definir a data. A câmara profundamente impopular aprovou a antecipação das eleições em dois anos, até abril de 2024, em uma primeira votação no início deste mês, mas deve fazer uma segunda votação para finalizar a decisão.
“Ninguém tem interesse em se agarrar ao poder… e eu, Dina Boluarte, não tenho interesse em permanecer na presidência”, disse ela.
O Peru está envolvido em turbulência política e violência nas ruas desde o início de dezembro, quando o ex-presidente Pedro Castillo foi preso após tentar dissolver o Congresso e governar por decreto. Boluarte, seu vice-presidente e ex-companheiro de chapa, assumiu o cargo.
Mas as manifestações e bloqueios se espalharam em tamanho e escala à medida que dezenas de civis foram mortos em confrontos violentos com as forças de segurança, predominantemente no sul dos Andes, uma região ignorada e marginalizada pelo establishment de Lima, que apoiou amplamente o deposto Castillo, que prometeu erradicar pobreza e derrubar o status quo.
Centenas de manifestantes marcharam pelas ruas da cidade de Cusco, no sul, na quinta-feira, carregando cartazes que denunciavam o presidente como um monstro, um assassino e um Judas.
“Estamos aqui para protestar contra este governo autoritário que mata seu povo”, disse um dos manifestantes, um professor de 40 anos chamado Javier Cusimy.
“Nos sentimos mais fortes do que nunca e vamos continuar lutando até o fim. Esta é uma luta pacífica e sem balas. A violência vem do governo. Muitos de nossos irmãos morreram. Este governo não pode continuar”, acrescentou Cusimy, enquanto o protesto avançava pelas ruas de paralelepípedos do pitoresco centro histórico da cidade.
Os protestos se espalharam para a capital, Lima, enquanto os manifestantes viajavam em comboios do sul dos Andes para a capital para exigir a renúncia de Boluarte, o fechamento do congresso e novas eleições.
Os estudantes juntaram-se às fileiras dos manifestantes na terça-feira em protestos massivos que terminaram em confrontos violentos com a polícia. Vários jornalistas estavam entre os feridos por balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela polícia.
Uma batida policial em uma universidade no sábado passado provocou mais indignação com as táticas policiais de mão pesada e engrossou as fileiras dos manifestantes exigindo consequências políticas para Boluarte e seu gabinete.
Boluarte, de 60 anos, pediu desculpas pela forma como a invasão da universidade foi realizada na terça-feira, mas elogiou a “conduta imaculada” da força policial nos protestos em Lima na semana passada. Ela pediu uma “trégua nacional” e afirmou que grupos violentos, alguns deles da Bolívia, estavam semeando “caos e anarquia” para uma agenda política.
A advogada e ex-funcionária pública, natural de Apurímac, no sul dos Andes, apelou aos manifestantes, dizendo em quíchua que ela era um deles.
Informações: The Guardian