Um dos três maiores sistemas de corais do mundo está na costa brasileira. A constatação está em uma pesquisa feita por um grupo de cientistas do Brasil, Itália, Alemanha e dos Estados Unidos, publicada na Revista Nature.
Até então, se acreditava que as áreas de corais existentes no Nordeste, Sudeste e Amazônia eram isoladas. Mas, agora, os pesquisadores descobriram que a área que vai da Guiana Francesa até o sudeste brasileiro, com 4 mil quilômetros, é um único sistema. Além disso, a pesquisa confirmou que a costa semiárida do Nordeste, que inclui Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, tem um sistema de coral imenso, com cerca de mil quilômetros, e que ele não está isolado dos demais. “O sistema da costa da Amazônia, que começa na Guiana Francesa e passa pelo Pará, Amapá e Maranhão está conectado ao da costa semiárida. Esses dois sistemas estão conectados ao da costa leste do Brasil, que é Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia, chegando até o Sudeste”, explica o professor associado do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Soares, que integra o grupo de 23 autores da pesquisa. Os cientistas analisaram dados de cerca de 8 mil espécies que se movem e se conectam, 95% estão no Brasil
O pesquisador brasileiro, que recebe apoio como Professor Experiente pelo Programa Bolsas para Pesquisa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em parceria com a Fundação Alexander von Humboldt, da Alemanha, ressalta que, diferentemente da Grande Barreira de Corais na Austrália, onde o sistema é mais raso e as águas são transparentes, aqui, a maior parte está em águas muito profundas e que só pode ser observado com mergulho, uso de satélites, vídeos, e fotos.
A descoberta representa uma oportunidade para o Brasil explorar essas riquezas de modo sustentável. Segundo o pesquisador, cálculos econômicos dão conta de que cada hectare de recife gera US$ 355 mil por ano para a sociedade. “É um dos ecossistemas mais valiosos do planeta”, ressalta. Entre as oportunidades estão destinação das áreas para recreação e turismo, principalmente para mergulhos. Mas tem também o potencial tecnológico. “Como é uma área muito biodiversa, você pode ter muitos produtos biotecnológicos, inclusive, para a questão farmacêutica e humana. Várias substâncias antibióticas, anticâncer já foram encontradas em recifes. Então, o potencial para patentes e tecnologia é altíssimo”, ressalta Marcelo Soares.
Os corais têm, ainda, importância para a pesca, já que são berçários da vida marinha, proporcionando a procriação de uma variedade de peixes consumidos pela população. Além disso, esses sistemas formam uma barreira natural que protegem a costa litorânea e absorvem carbono.
O trabalho do grupo de pesquisadores pode servir para uma série de ações de conservação e uso sustentável, como implementação de unidades de conservação marinha nessas áreas, combater espécies invasoras, fazer a compatibilização de algumas atividades econômicas como portos, energias, cabos submarinos e agricultura. “O Brasil tem um grande potencial de ser um líder nessa área ambiental, de receber recursos, fazer inclusão social, combater a pobreza e preservar os ecossistemas”, conclui o pesquisador.