Marisa Maiô apareceu na internet há uma semana e já tem mais influência do que muita gente que passou anos tentando construir uma. O detalhe? Ela não existe.
Criada por inteligência artificial pelo talentoso roteirista Raony Phillips (o mesmo de Girls in the House), Marisa é uma apresentadora de talk-show com estética anos 90, humor ácido e vídeos tão bem produzidos que muita gente jurou que era real. Em poucos dias, Marisa ganhou matéria no Fantástico, memes, threads virais e até campanha com a Magalu.
Tudo isso em menos de sete dias de existência pública.
Esse fenômeno nos leva a uma pergunta incômoda: o que faz alguém ser um influenciador? Durante anos, acreditamos que era preciso carisma, coragem, vulnerabilidade, rotina compartilhada, exposição, autenticidade. Mas com Marisa, estamos vendo nascer um novo tipo de influência: a programada.
Não baseada em vivência, mas em engenharia de prompt. Não em experiência, mas em capacidade de combinar roteiro, timing e estética viral.
O artista virtual é um engenheiro. O real é um corpo em risco.
Hoje, pra você se tornar um influenciador, precisa colocar a cara no mundo. Apanhar, aprender, se expor. Influência sempre foi sinônimo de presença — não só digital, mas emocional.
Já o criador de um influenciador virtual precisa, na verdade, dominar:
. escrita de prompt,
. lógica de engajamento,
. referências culturais e estéticas,
. e conhecimento técnico pra rodar modelos como o Veo 3.
Enquanto isso, o influenciador humano é… humano. Erra, chora, amadurece. Junto a seu público e na troca, na interação com ele. É isso que, até hoje, construiu confiança e identificação real.
Não queremos discutir aqui o talento do roteirista que aproveitou estruturas de programas pré-existentes e, numa combinação de falas e situações absurdas jamais ditas ou passíveis de serem vividas por uma pessoa de carne e osso, conquistou audiência. É preciso destacar, inclusive, que sem seu repertório, sua histórias, as referências que imprime na personagem, talvez parte desse sucesso não aconteceria.
A questão aqui é: qual tipo de credibilidade Marisa Maiô pode passar a uma marca, qual fala pode não ser apenas deboche e sim uma troca de informação e ponto de vista baseado na confiança em sua personalidade? Se isso será construído, somente o tempo dirá.
Na era da abundância artificial, cria-se um paradoxo da confiança. Segundo dados da DailyAI (2024), influenciadores virtuais já superam os humanos em engajamento em nichos como tech, moda e games. Mas aí entra a dissonância: 71% dos consumidores ainda preferem histórias humanas quando querem confiar em alguém real.
Estamos entrando numa era de abundância de conteúdo. De vídeos hiperotimizados por IA. E, paradoxalmente, talvez os únicos ativos não-clonáveis que restem sejam:
➡️ a comunidade real;
➡️ a marca pessoal construída com afeto e verdade.
A pessoa por detrás de Marisa Maiô trabalhou inúmeras vezes junto à IA, que é uma realidade, tentando tornar aquelas situações mais críveis seja do ponto de vista da forma, seja do conteúdo. Quem é real? O roteirista por detrás dela, com CPF, história, referências. Tal qual um influenciador.
Li um comentário na internet que me marcou: “Eu não sei mais o que é real.” Essa talvez seja a grande provocação: se a Inteligência Artifical já é capaz de viralizar com vídeos curtos, quanto tempo falta pra termos miniprogramas, talk shows completos, documentários com personagens que nunca existiram, mas falam diretamente com você?
É inevitável que o mercado de influência vá mudar. Mas uma coisa é certa: em um mundo artificialmente perfeito, o imperfeito vira diferencial competitivo.
Por Ígor Beltrão, co-fundador e diretor artístico da Viraliza, maior agência de marketing de influência do Nordeste brasileiro