A esquizofrenia é um transtorno mental grave que afeta cerca de 20 milhões de pessoas no mundo e dois milhões de pacientes no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Por ser uma doença caracterizada por episódios contínuos ou recorrentes de psicose, incluindo alucinações, delírios e desorganização do pensamento, ela não só impacta significativamente a capacidade do indivíduo de manter relacionamentos, trabalhar e cuidar de si mesmo, como provoca receio entre as pessoas no entorno de conviver com alguém que sofre de esquizofrenia. Por isso, é preciso elucidar o que é a doença e como o paciente pode ser ajudado a se integrar na sociedade.
A esquizofrenia é uma doença que costuma aparecer por volta dos 18 anos e é mais prevalente em homens. É um transtorno multifatorial, ou seja, não tem uma causa única. Seu desenvolvimento depende de uma combinação de predisposição genética e fatores ambientais. Entre os fatores de risco estão histórico familiar da doença, infecções virais pré-natais, uso de substâncias psicoativas na adolescência, como a maconha, e até complicações no parto.
Esse último fator foi corroborado por um estudo da Unidade de Saúde Pública Infantil e Adolescente do Condado de Estocolmo, entre outras instituições, publicado na revista científica Archives Of General Psychiatry, que confirmou que existe uma associação entre complicações obstétricas e esquizofrenia, com a pré-eclâmpsia sendo o fator de risco individual mais forte, embora a ciência ainda não tenha desvendado o mecanismo dessa associação.
Os primeiros indícios da esquizofrenia costumam se manifestar por meio de isolamento social e dificuldades de interação interpessoal. Por volta dos 18 a 20 anos, podem surgir os sintomas psicóticos, como alucinações, principalmente as auditivas, caracterizadas por ouvir vozes que não existem, e delírios, que consistem em pensamentos desconectados da realidade. “É fundamental que a família esteja atenta, pois, durante uma crise, o indivíduo geralmente não reconhece que está em um estado psicótico e que está tendo alucinações”, explica Danielle Admoni, psiquiatra da infância e adolescência, supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).
Dessa forma, quando o jovem apresenta retraimento social, perda de iniciativa e passa a adotar comportamentos percebidos como incomuns pela família, é essencial buscar avaliação especializada. “Quem observa de fora precisa identificar esses sinais precoces e o início do quadro psicótico, a fim de evitar a progressão do transtorno. O tratamento precoce aumenta significativamente as chances de estabilização e controle das crises”, orienta a médica.
Além dos sintomas já citados, a esquizofrenia também pode causar redução da expressão emocional, falta de motivação e isolamento social, além de dificuldades de concentração, memória e tomada de decisões. Por isso, muitos pacientes continuam dependendo de familiares durante a idade adulta.|
MitosDois mitos frequentes associados à esquizofrenia são que os pacientes desenvolvem uma inteligência acima do esperado e também que são violentos. “Não existe evidência científica que corrobore nenhuma dessas crenças”, afirma a psiquiatra.
Segundo a médica, o paciente de esquizofrenia só vai se tornar violento se estiver em uma situação em que, por exemplo, acredite que outras pessoas queiram fazer mal a ele. Por isso o controle das crises é tão importante. “Mas não precisamos ter medo dessas pessoas, e sim acolhê-las como quaisquer outros pacientes com problemas de saúde mental”, diz Danielle.
Diagnóstico e tratamentoO diagnóstico da doença é clínico e baseado na observação do paciente com presença de sintomas por pelo menos seis meses.
Embora a esquizofrenia não tenha cura, é possível controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente com tratamento adequado, que inclui o uso de medicações para reduzir os sintomas psicóticos, psicoterapia para ajudar no desenvolvimento de habilidades sociais e reabilitação psicossocial, ou seja, participação em programas que visam reintegrar o paciente à sociedade e ao mercado de trabalho.
Um risco é que a pessoa com esquizofrenia pare a medicação quando está se sentindo bem. “Nós falamos que isso é não ter crítica em relação à doença, porque do paciente, ele está bem”, diz Danielle. Em alguns casos o médico pode aplicar um medicamento injetável que dura um mês ou até três meses, para garantir que o paciente tome o remédio. “É fundamental a adesão ao tratamento, é aí que entra a família, o entorno dessa pessoa”, afirma a psiquiatra.
Seguindo o tratamento corretamente, é possível que a pessoa com esquizofrenia tenha um funcionamento mais próximo do que é considerado “normal”, ou seja, pode estudar, trabalhar e se relacionar. “Mas, para isso, é preciso evitar ou pelo menos diminuir essas crises”, diz Danielle Admoni.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito por meio da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que inclui Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e serviços de atenção básica. ONGS como AMME (Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia) e ABRE (Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia) também ajudam na inserção social dos pacientes