Quase ninguém discordaria de que a brincadeira é fundamental para o desenvolvimento de uma criança pequena. Ao brincar, as crianças aprendem a conviver com o outro, a negociar, a lidar com frustrações e a exercitar a criatividade, entre outros comportamentos fundamentais para um crescimento saudável.
Mas poucos associam o brincar a crianças mais velhas ou adolescentes. Parece que, ao crescer, os adultos se esquecem de que as atividades lúdicas também são importantes para o crescimento emocional, social e cognitivo dos jovens.
Quando se reúnem para atividades lúdicas — como jogos (de cartas, tabuleiro etc) , esportes, brincadeiras de contação de história, mímica, adivinhação, investigação de enigmas, montar quebra-cabeças ou peças tipo Lego etc —, os jovens aprendem a identificar e expressar emoções, desenvolver empatia e lidar com desafios de forma construtiva.
E isso vale para os jovens adultos também. Uma pesquisa da Universidade Metropolitana de Hong Kong, publicada em 2022 na revista científica Frontiers in Psychology, mostrou que experiências lúdicas em pessoas entre 19 e 25 anos influenciam positivamente o desenvolvimento da resiliência e inteligência emocional.
Isso acontece porque o brincar em grupo proporciona oportunidades para que as pessoas aprimorem habilidades sociais essenciais, como comunicação eficaz, cooperação, desenvolvimento de senso crítico e resolução de problemas e conflitos, aptidões que eles vão levar para todas as esferas da vida. Além disso, essas atividades lúdicas fomentam o senso de pertencimento e fortalecem os laços pessoais, aumentando a sensação de bem-estar.
“Nós associamos o brincar só aos pequenos, mas a atividade lúdicas também é importantíssima para crianças maiores, adolescentes e, por que não, até para adultos, por conta de todas essas habilidades adquiridas”, diz Danielle Admoni, psiquiatra da infância e adolescência, supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). “Além disso, tudo o que fazemos de construtivo que nos afaste do vício em telas, hoje em dia, é positivo”, afirma. A dica da psiquiatra é encontrar amigos que tenham interesses parecidos. “A pessoa pode ter a turma da balada, por exemplo, e a galera dos jogos, que vai se juntar para jogos de tabuleiro, cartas, montar Lego, que é algo que envolve desenvolver coordenação, abstração etc. O legal é ir montando grupos de acordo com seus interesses”, diz.
Na ausência de oportunidades para brincar e interagir em grupo, os jovens têm um risco aumentado de desenvolver problemas como altos níveis de estresse e transtornos como ansiedade e depressão. Ou seja, incorporar mais atividades lúdicas no cotidiano deles pode atuar como um fator de proteção, promovendo o bem-estar mental e emocional.