O Dia Internacional da Talassemia, 8 de maio, é uma convocação à conscientização sobre essa doença genética hereditária que afeta a produção de hemoglobina no sangue. Com formas que variam de leves a severas, a talassemia pode comprometer significativamente a qualidade de vida dos pacientes e o Igenomix, laboratório de biotecnologia do Vitrolife Group, destaca a importância do diagnóstico genético e do aconselhamento reprodutivo como ferramentas essenciais para prevenir a transmissão da doença e promover cuidados personalizados para pacientes e famílias
Na próxima quinta, 8, o Dia Internacional da Talassemia / International Thalassaemia Day, chama a atenção para uma das doenças genéticas mais frequentes no mundo, cuja detecção precoce pode transformar a qualidade de vida de pacientes e orientar decisões reprodutivas em famílias com histórico da condição. A talassemia é uma doença de origem genética, que afeta a produção de hemoglobina, podendo levar à anemia hemolítica crônica, que se manifesta com palidez, déficit de crescimento e sobrecarga de ferro no corpo.
Entre os desafios está o desconhecimento sobre a doença. De acordo com a Federação Internacional de Talassemia (TIF), mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo são portadoras de alterações em genes relacionados à talassemia, muitas delas sem sequer saber. Conscientização, triagem e educação são fundamentais para a prevenção, o manejo e escolhas informadas. A estimativa é que mais de 300 mil recém-nascidos sejam diagnosticados com a forma grave da doença a cada ano. (1) No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que 1 a cada mil nascidos vivos possam ser afetados por alguma forma de talassemia. (2)
A talassemia é uma hemoglobinopatia hereditária causada por mutações em genes responsáveis pela produção das cadeias de globina, componentes fundamentais da hemoglobina. Existem dois tipos principais: a talassemia alfa e a talassemia beta, que variam de acordo com o gene afetado. A alfa é causada por mutações nos genes HBA1 e HBA2 e, dependendo do número de genes deletados (de um a quatro), a condição pode ser assintomática ou potencialmente fatal. Já a beta está associada a mutações no gene HBB e tende a apresentar sintomas mais severos.
Com base na gravidade, a talassemia beta apresenta três subtipos: a forma mais grave da doença é conhecida como talassemia major, também conhecida como anemia de Cooley, na qual o paciente necessita de transfusão de sangue por toda a vida; enquanto a talassemia intermediária apresenta anemia leve; e a doença assintomática com estado de portador é conhecida como talassemia minor. A hemoglobina inadequada leva à anemia hemolítica crônica e se manifesta com palidez, déficit de crescimento e sobrecarga de ferro no corpo. (3)
Embora algumas pessoas com talassemia alfa leve (portadoras silenciosas) levem uma vida normal, formas mais graves, como a Hidropsia Fetal (quando há ausência completa de genes alfa), são incompatíveis com a vida se não houver diagnóstico pré-natal e intervenção médica especializada. Já a talassemia maior, forma grave da beta, requer transfusões de sangue regulares e, em alguns casos, transplante de medula óssea, considerado atualmente a única possibilidade de cura.
A IMPORTÂNCIA DO TESTE GENÉTICO
O papel da genética é central tanto na identificação precoce , conscientização e prevenção da transmissão da talassemia. O diagnóstico precoce da condição por meio de painéis genéticos neonatais ou pré-natais pode mudar significativamente o curso do tratamento, possibilitando intervenções médicas oportunas e acompanhamento multidisciplinar desde o início da vida do paciente.
A especialista Susana Joya destaca que testes como o CGT (Carrier Genetic Test), oferecido pelo Igenomix, investigam variantes genéticas em até 2200 genes, incluindo os relacionados à talassemia, permitindo uma avaliação abrangente do risco genético reprodutivo. “O rastreamento genético em casais assintomáticos é eficiente para detectar se ambos são portadores de variantes genéticas associadas à doença. Se confirmado pelo teste de portador, esse casal tem 25% de probabilidade, a cada gravidez, de que seus filhos tenham a condição”, explica Susana, bióloga geneticista do laboratório Igenomix Brasil, do Vitrolife Group.
“Os testes genéticos são ferramentas que podem auxiliar na prevenção e planejamento familiar, se assim for o desejo do paciente. O Teste Genético Pré-Implantacional para Doenças Monogênicas (PGT-M) é umas das possibilidades no planejamento, para os casais que já tem risco genético detectado previamente. E claro, para conhecimento de todas as possibilidades no campo da genética, é recomendável sempre contar com o aconselhamento genético. Em casos de histórico familiar, suspeita clínica ou origens étnicas de maior risco (como mediterrânea, asiática e africana), a sugestão é buscar orientação genética ainda no planejamento familiar, afirma Susana.
O PGT-M é um estudo realizado em uma biópsia de um embrião gerado no tratamento de Fertilização In Vitro (FIV) e pode ser realizado para condições monogênicas, como as talassemias, incluindo também a análise do antígeno leucocitário humano (HLA) ajuda a identificar os embriões não afetados que são HLA compatíveis com a criança afetada, se o casal já tiver um filho com a condição. O TCTH de tal doador relacionado compatível está associado a menos complicações e melhores resultados do que de um doador haploidêntico relacionado, não relacionado incompatível ou não relacionado compatível. (4) O teste concomitante com o Teste Genético Pré-Implantacional para Aneuploidias (PGT-A) tem o potencial de reduzir perdas gestacionais. (5)
ESTUDO TRAZ NÚMEROS DA TALASSEMIA EM TRÊS DÉCADAS
Um estudo publicado em 2024 na revista The Lancet apresenta dados de talassemia na população mundial a partir de informações extraídas do Estudo da Carga Global de Doenças (GBD). De 1990 a 2019, o número de casos incidentes de talassemia, casos prevalentes, casos de mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) diminuíram 20,9%, 3,1%, 38,6% e 43,1%, respectivamente. A taxa de prevalência global foi maior em homens do que em mulheres e a taxa de mortalidade global apresentou uma diminuição consistente com o aumento da idade. (6)
A conclusão dos autores é que a carga global da talassemia diminuiu significativamente, mas existem disparidades notáveis em termos de gênero, faixas etárias, períodos, índice de desenvolvimento social (IDS), entre outras variáveis. Afirmam que intervenções sistêmicas, que incluem triagem precoce, aconselhamento genético, exames de saúde pré-marital e diagnóstico pré-natal devem ser priorizadas em regiões com IDS baixo e médio-baixo. Além disso, os autores ressaltam que futuros estudos populacionais devem se concentrar especificamente nos subtipos de talassemia e na necessidade de transfusão, e os registros nacionais devem aprimorar a captura de dados por meio da triagem neonatal.
AS MANIFESTAÇÕES DE TALASSEMIA
A forma de a talassemia se manifestar varia amplamente, dependendo do tipo e da gravidade. Um histórico completo e um exame físico podem fornecer várias pistas que, às vezes, não são óbvias para o próprio paciente. (7). Os seguintes achados podem ser observados:
Pele – A pele pode apresentar palidez devido à anemia e icterícia devido à hiperbilirrubinemia resultante da hemólise intravascular. Os pacientes geralmente relatam fadiga devido à anemia como o primeiro sintoma de apresentação. O exame das extremidades pode mostrar ulcerações. A deposição crônica de ferro devido a múltiplas transfusões pode resultar em pele bronzeada.
Músculo-esquelético – A expansão extramedular da hematopoiese resulta em deformações nos ossos faciais e de outros ossos esqueléticos, além de uma aparência conhecida como “face em esquilo”, com ponte nasal pouco significativa (em sela, afundada) associada a padrão facial convexo.
Cardíaco – A deposição de ferro nos miócitos cardíacos devido a transfusões crônicas pode interromper o ritmo cardíaco, resultando em diversas arritmias. Devido à anemia crônica, também pode ocorrer insuficiência cardíaca evidente.
Abdominal – A hiperbilirrubinemia crônica pode levar à precipitação de cálculos biliares de bilirrubina e se manifestar como dor em cólica típica da colelitíase. A hepatoesplenomegalia pode resultar em elevada quantidade de ferro e de hematopoiese extramedular nesses órgãos. Infartos esplênicos ou autofagia resultam de hemólise crônica devido à hematopoiese mal regulada.
Hepático – O envolvimento hepático é um achado comum em talassemias, particularmente devido à necessidade crônica de transfusões. Insuficiência hepática crônica ou cirrose podem resultar da deposição crônica de ferro ou hepatite viral relacionada à transfusão.
Referências bibliográficas
- Global Thalassaemia Review 2024. Thalassaemia International Federation (TIF), disponível em https://internationalthalassaemiaday.org/about/
- Ministério da Saúde. Doença Falciforme e outras hemoglobinopatias: Diretrizes para o cuidado integral. Brasília: 2018.
- Gul Z, Malik M, Uzair U, Baloch A, La QD, Sadiq N, Lo DF. Awareness About Thalassemia Among the Parents of Thalassemic Children in Balochistan: A Cross-Sectional Study. Health Sci Rep. 2025 Apr 18;8(4):e70715.
- Yousuf R, Akter S, Wasek SM, Sinha S, Ahmad R, Haque M. Thalassemia: A Review of the Challenges to the Families and Caregivers. Cureus. 2022 Dec 13;14(12):e32491.
- Kattamis A, Forni GL, Aydinok Y, Viprakasit V. Changing patterns in the epidemiology of β-thalassemia. Eur J Haematol. 2020 Dec;105(6):692-703.
- Tuo Y, Li Y, Li Y, Ma J, Yang X, Wu S, Jin J, He Z. Global, regional, and national burden of thalassemia, 1990-2021: a systematic analysis for the global burden of disease study 2021. EClinicalMedicine. 2024 May 6;72:102619.
- Bajwa H, Basit H. Thalassemia. [Updated 2023 Aug 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK545151/