Nas últimas semanas, duas notícias trouxeram à tona a necessidade urgente de maior atenção ao desenvolvimento de habilidades sociais como estratégia de promoção da saúde mental: o aumento expressivo dos casos de depressão e ansiedade e a nova legislação que obriga empresas a cuidar da saúde mental de seus trabalhadores. Essas notícias evidenciam a relevância de programas estruturados voltados para o aprimoramento das relações interpessoais e da regulação emocional.
Aumento dos Casos de Depressão e Ansiedade: Um Alerta Global
Estudos recentes indicam um crescimento significativo nos diagnósticos de transtornos mentais, particularmente depressão e ansiedade. No Brasil, a prevalência desses transtornos já se configura como uma das mais elevadas do mundo, gerando impactos diretos na qualidade de vida, nas relações interpessoais e na produtividade no trabalho. Esse fenômeno está associado a diversos fatores, incluindo mudanças no estilo de vida, sobrecarga emocional e dificuldades nas interações sociais.
A literatura científica tem demonstrado que déficits em habilidades sociais podem estar correlacionados ao desenvolvimento e à manutenção desses transtornos. Indivíduos com dificuldades em assertividade, empatia, comunicação e manejo de conflitos tendem a apresentar maior vulnerabilidade a sintomas depressivos e ansiosos, reforçando a necessidade de intervenções voltadas para a promoção dessas habilidades.
Exigências Legais para a Saúde Mental no Trabalho: Um Novo Paradigma para as Empresas
Paralelamente ao aumento dos transtornos mentais, observa-se um movimento regulatório que busca garantir melhores condições psicossociais no ambiente de trabalho. A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entrará em vigor em 2025, impõe às empresas a obrigação de identificar e gerenciar riscos psicossociais, como estresse crônico, assédio moral e sobrecarga mental.
Essa regulamentação reflete uma crescente preocupação com o impacto das relações interpessoais e da cultura organizacional na saúde mental dos trabalhadores. Considerando que o ambiente profissional é um espaço privilegiado de interação social, o desenvolvimento de habilidades sociais torna-se um fundamental para a prevenção do adoecimento mental e a promoção de um clima organizacional mais saudável.
Eu estou há mais de 40 anos na área e me aprofundei no entendimento sobre a influência das habilidades sociais na promoção da saúde mental e no aprimoramento das relações interpessoais, bem como da base científica para intervenções eficazes em ambientes clínicos, educacionais e organizacionais. Desenvolvi um arcabouço teórico e prático que evidencia os déficits em habilidades sociais como possíveis fatores de risco para transtornos psicológicos, ao passo que a superação desses déficits contribui para a resiliência emocional, a assertividade e a qualidade das interações interpessoais.
A aplicabilidade de meus estudos no ambiente de trabalho constitui uma alternativa para estratégias preventivas nas empresas, por meio de programas de habilidades entre seus colaboradores e gestores. A implementação desses programas tem se mostrado altamente efetiva na redução do estresse ocupacional, na melhoria do clima organizacional e na promoção de relações interpessoais mais saudáveis e produtivas.
As habilidades sociais, compreendidas como um conjunto de comportamentos que favorecem interações sociais efetivas e saudáveis, desempenham um papel essencial na promoção na mitigação de fatores de risco psicossociais para a saúde mental.
Diversos estudos indicam que programas de treinamento em habilidades sociais podem contribuir significativamente para:
- Redução da ansiedade social e do isolamento, por meio do fortalecimento de redes de apoio e da melhoria da comunicação interpessoal;
- Prevenção e manejo do estresse laboral, favorecendo o enfrentamento de desafios interpessoais e melhora do ambiente profissional;
- Aprimoramento da resolução de conflitos, reduzindo fatores de tensão e promovendo ambientes mais colaborativos;
- Fortalecimento da autoestima e da regulação emocional, fatores essenciais para a resiliência psicológica.
O avanço das pesquisas na área mostra que indivíduos e organizações que priorizam o desenvolvimento de habilidades sociais estão mais preparados para enfrentar os desafios contemporâneos, promovendo bem-estar, relações interpessoais saudáveis e maior qualidade de vida. Empresas que adotam esse investimento não apenas cumprem com as novas exigências da NR-1, mas também constroem ambientes mais saudáveis, produtivos e sustentáveis a longo prazo.
Por isso mesmo, temos assumido o compromisso de formar profissionais habilitados a conduzirem programas de habilidades sociais em diferentes contextos. Como especialistas em habilidades sociais, esses profissionais podem, portanto, assumir o papel de agentes da prevenção de problemas e promoção de saúde mental também no contexto de trabalho.
*Por Zilda Del Prette, PhD, Mestre e Doutora em Psicologia e Professora Universitária com mais de 40 anos de experiência