Cercado por mitos e estigmas, o transtorno bipolar se caracteriza por episódios distintos de mania, hipomania e depressão, afetando diretamente a rotina, as relações e a saúde mental dos indivíduos. Ainda assim, o transtorno é erroneamente reduzido à ideia de mudanças bruscas de humor. Para a psicóloga Elyasmim Sobral, que integra o Programa de Tratamento de Transtorno Bipolar da Holiste Psiquiatria, o senso comum esconde a gravidade do problema e pode atrasar o tratamento.
“Muitas pessoas pensam que se trata de uma oscilação frequente entre dois sentimentos, como tristeza e alegria. Contudo, o transtorno bipolar envolve mudanças complexas, que não se limitam aos altos e baixos, alegrias e tristezas. O quadro é uma questão séria de saúde mental, marcada por episódios que geralmente não aparecem de um dia para o outro, mas se desenrolam ao longo da história do paciente e impactam intensamente o sujeito, seus pensamentos, relações sociais, laborais e nas próprias relações familiares”, explica.
Março Bipolar: uma homenagem a Vincent Van Gogh
Em homenagem ao pintor Vincent Van Gogh, que possivelmente sofria do transtorno, março é reconhecido internacionalmente como o mês de atenção ao transtorno bipolar. A data acende um alerta sobre a importância do tratamento para a qualidade de vida dos pacientes. Por isso, a psicóloga destaca que é importante combater a desinformação, e estar atento aos sinais do transtorno, também chamado de doença maníaco-depressiva, sobretudo em pessoas próximas. Este cuidado pode, efetivamente, salvar vidas.
“Pessoas próximas podem notar os primeiros sinais referentes à mudança no funcionamento do sujeito. Na fase de mania, por exemplo, o sujeito pode se tornar extremamente determinado a realizar projetos irreais, os pensamentos ficam acelerados e muitas vezes desorganizados, há quadros de irritabilidade, impulsividade e falta de sono. Na hipomania, os prejuízos costumam surgir no círculo íntimo, como em conflitos nos relacionamentos e no trabalho. Já a fase depressiva do bipolar é muito comum após a fase de hipomania ou mania”, detalha.
Tratamento e qualidade de vida
A profissional esclarece que o primeiro passo para qualquer pessoa que desconfie de um quadro de transtorno bipolar é falar com um psiquiatra ou psicólogo qualificado. Quanto antes a ajuda profissional chegar, melhor será a evolução do quadro e menor a possibilidade de impactos negativos na vida pessoal, profissional e financeira. Para obter mais qualidade de vida, o tratamento é multidisciplinar e envolve até a família do paciente, que também precisa ser cuidada para conseguir oferecer o suporte necessário.
“Na clínica, o Programa de Transtorno Bipolar envolve tratamento psiquiátrico, acompanhamento psicológico, acompanhante terapêutico e até educador físico. Isso inclui a participação da família, que recebe acolhimento para construir uma rede de apoio. Realizamos grupos terapêuticos com os familiares que recebem orientações e trabalham na construção de estratégias para melhor lidar com o adoecimento. Combater estigmas e buscar ajuda profissional melhora a qualidade de vida de todos”, finaliza.