A ferida de rejeição, uma das mais comuns entre as mulheres, tem origem em fatores que muitas vezes antecedem o nascimento. A psicanalista e especialista em saúde mental, Ana Lisboa, explica que esses traumas podem começar no período intrauterino. Pesquisas neurocientíficas confirmam que condições como instabilidade emocional, problemas financeiros ou vícios maternos durante a gestação deixam marcas no sistema límbico do feto.
“Quando uma mãe enfrenta desafios emocionais durante a gravidez, a criança pode internalizar um sentimento de rejeição que impacta diretamente sua autoestima e visão de mundo”, afirma Ana. Esse processo, segundo ela, é reforçado durante a primeira infância, especialmente entre 0 e 5 anos.
De acordo com Ana Lisboa, meninas são mais propensas a internalizar o modelo materno devido à identificação intensa com as mães. Esse vínculo, no entanto, pode gerar consequências negativas quando a mãe rejeita, critica ou compara a criança com outras pessoas. “A sensação de nunca ser boa o suficiente se torna um padrão emocional que acompanha essas mulheres na vida adulta”, aponta.
Na prática, isso resulta em uma busca incessante por aprovação. Muitas mulheres assumem papéis de “boazinhas” ou evitam situações de exposição emocional para fugir da rejeição. “Elas se esforçam para agradar, mas quando estão sozinhas, sentem que nada do que fizeram foi suficiente”, observa. Essa dinâmica alimenta baixa autoestima, dependência emocional e até autossabotagem, como abandonar projetos antes de concluir.
A ferida de rejeição não apenas afeta relacionamentos interpessoais, mas também pode travar o fluxo financeiro. “Mulheres que carregam esse trauma têm dificuldade em cobrar por seus serviços e produtos, sentem que precisam merecer qualquer reconhecimento”, explica a psicanalista. Essa mentalidade contribui para a sensação de estagnação, tanto na vida pessoal quanto profissional.
A cura dessa ferida exige um processo consciente de autorreflexão e reconexão com a própria história. “O primeiro passo é reconhecer que é natural sentir dor e que, muitas vezes, os traumas não foram intencionais”, ressalta Ana Lisboa. Ela destaca a importância de resgatar o vínculo interrompido com a mãe, compreendendo que a rejeição vivida pode ser trabalhada para construir uma relação mais saudável consigo mesma e com os outros. “Esse movimento interno de cura não apenas liberta do passado, mas também desbloqueia o caminho para novas realizações, inclusive financeiras”, conclui.