Usando uma das redes sociais do político, a esposa de Enrique Márquez, Sonia Lugo de Márquez, denunciou, na quarta-feira (8). “Já se passaram 24 horas desde que meu marido, Enrique Márquez, foi sequestrado por grupos paramilitares que, usando a força como lei, pretendem silenciar e intimidar aqueles de nós que queremos um país melhor e temos uma visão diferente”, informou.
Ainda na quarta-feira (8), o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, disse que ele é acusado de articular um golpe de Estado e a formação de um governo paralelo.
O governo ditatorial da Venezuela já havia colocado uma recompensa de $ 100 mil dólares para prender Márquez. O sequestro aconteceu três dias antes da posse do ditador Nicolás Maduro
De acordo com o governo, Márquez estaria “articulando uma posse paralela à presidência do país do opositor Edmundo González a partir de alguma embaixada venezuelana no exterior”.E complementou, “como o senhor [Edmundo González] não pode vir aqui, ou não quer vir aqui, vão se reunir cinco criminosos na sede de uma embaixada estrangeira e lá vão juramentar Edmundo porque ele está em território venezuelano”, disse Cabello, acrescentando que “o responsável por isso se chama Enrique Márquez. Parte do golpe de Estado que eles querem realizar na Venezuela. Não há anjos aqui, menos entre os opositores”.
Antes da declaração de Diosdado, deputados opositores do partido Copei criticaram qualquer tentativa de se formar uma administração paralela. “É inaceitável um governo interino, passado ou futuro, que pretenda deslegitimar as instituições do Estado venezuelano e se atribua qualidade administrativas sobre os ativos da República no estrangeiro”, comentou o deputado e secretário-geral do Copei, Juan Carlos Alvarado, na terça-feira (7).
Em janeiro de 2019, após se autodeclarar presidente da Venezuela, o deputado Juan Guaidó conquistou o apoio de parte da comunidade internacional, que transferiu ao controle do político os ativos do Estado venezuelano no exterior.
Desta vez, o opositor Edmundo González, candidato à presidente do principal grupo oposicionista do país, a Plataforma Unitária, acusa o governo de fraudar a eleição presidencial de 2024, prometendo regressar ao país antes da posse de Maduro, marcada para esta sexta-feira (10). Grupos da oposição convocaram manifestações para hoje (9).
Repercussão internacional
Edmundo González, reconhecido pelos Estados Unidos como presidente eleito da Venezuela, disse que seu genro foi sequestrado por homens encapuzados. Esta era a principal notícia há dois dias no poderoso The New York Times
O Sr. González, 75, foi forçado a fugir do país logo após milhões de venezuelanos votarem nele, e agora vivia exilado na Espanha. Ele prometeu repetidamente retornar ao seu país para ser empossado na sexta-feira, quando Maduro, no poder desde 2013, deve tomar posse para outro mandato de seis anos.
O governo Maduro impôs uma recompensa de US$ 100.000 ao Sr. González e ele provavelmente será preso se retornar.
O governo venezuelano desencadeou uma onda de repressão contra qualquer um que desafie sua vitória declarada, prendendo cerca de 2.000 pessoas e acusando a maioria de terrorismo. Grupos de direitos humanos descreveram isso como a campanha de repressão mais brutal da Venezuela nas últimas décadas.
O governo libertou centenas desses prisioneiros nos últimos meses, o que muitos analistas viram como um sinal ao presidente eleito Donald J. Trump de que está disposto a flexibilizar os direitos humanos em troca de tratamento favorável.
O Departamento de Estado dos EUA chamou o desaparecimento de uma tentativa de “intimidar a oposição democrática da Venezuela”.
A prisão do ex-candidato Enrique Márquez teve repercussão internacional. Ele vinha, desde a votação que deu a reeleição a Maduro, em 28 de julho de 2024, denunciando a falta de transparência na divulgação dos resultados eleitorais.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse que esse tipo de detenção impede que ele participe pessoalmente da posse de Maduro. “Assim como nosso amigo Enrique Márquez, um destacado progressista venezuelano, Carlos Correa, um destacado defensor dos direitos humanos na Venezuela, foi preso. Esse e outros fatos impedem minha presença pessoal na cerimônia de posse de Nicolás Maduro”, afirmou em uma rede social.
Carlos Correa é diretor da organização não governamental (ONG) Espaço Público, da Venezuela, que denuncia que Correa foi levado por “funcionários de segurança” no centro de Caracas na terça-feira (7). Ainda nesta quinta (9), a ONG informa que não sabe seu paradeiro.
O presidente colombiano, Gustavo Petro, acrescentou, porém, que a Colômbia não romperá relações com a Venezuela, “nem intervirá nos assuntos internos daquele país sem ser convidado. Mas pedimos, com base em nossa própria luta pelos direitos humanos na Colômbia, que eles sejam respeitados por todos na Venezuela”.
Entenda
A oposição da Venezuela e parte da comunidade internacional, como Estados Unidos e a União Europeia, além de organismos internacionais e eleitorais, têm apontado que a eleição venezuelana descumpriu as regras do país ao não realizar auditorias previstas e não divulgar os dados por mesa eleitoral, como sempre ocorreu, ou seja, ser uma grande farsa e fraude.
Por sua vez, o governo Maduro defende que as eleições foram ratificadas pelas instituições do país, tanto o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), quanto o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). Com isso, tem exigido que a oposição respeite a decisão dos tribunais e que os governos estrangeiros não interfiram nas questões internas da Venezuela.