O IPCA-15 surpreendeu o mercado, com uma variação de 0,62% no mês contra o consenso de 0,50%. A principal surpresa foi em passagens aéreas, que subiram 22,6%, bem acima da nossa projeção de 6%. Se não fosse esse desvio, o IPCA-15 teria ficado em 0,52%, próximo do esperado. Tivemos uma forte aceleração em alimentação no domicílio, com destaque para as carnes, que subiram 7,5%. Aves e ovos também subiram bastante, cerca de 1%, e o óleo de soja avançou 8,4%. Essa alta nos preços dos alimentos deve continuar nos próximos meses, com aceleração em dezembro, principalmente por causa das proteínas.
Dois pontos importantes a destacar: a bandeira amarela nas tarifas de energia elétrica, que desacelerou a inflação nesse setor, e o aumento dos impostos sobre o cigarro, que contribuiu para a alta de 0,27% em industriais. Em serviços, tivemos surpresas baixistas em relação à nossa projeção, como em cinema e condomínio. A parte de alimentação fora do domicílio, principal componente do núcleo de serviços, avançou 0,57%, em linha com o esperado.
A métrica de serviços subjacentes saiu de 4,8% para 5,25%, mostrando uma forte aceleração. Isso indica um mercado de trabalho apertado e uma economia crescendo acima do seu potencial, o que se reflete em uma inflação de serviços mais alta. Apesar da surpresa no IPCA-15, a inflação de industriais segue relativamente comportada, em torno de 3%. Já a média dos núcleos de inflação está em 4,35%, bem acima da meta. Diante desse cenário, o Banco Central deve continuar o aperto monetário.
Nossa projeção para a taxa Selic terminal é de 13,25% em meados de 2025, mas a probabilidade de uma aceleração no ritmo do aperto, para 0,75%, aumentou. Nossa projeção para a inflação deste ano se mantém em 4,9%, e para o ano que vem em 4,7%, mas com viés de alta. O bônus de Itaipu, em discussão no momento, deve impactar essas projeções. Se ele se concretizar, a inflação deste ano deve ficar em torno de 4,5% e a do ano que vem em torno de 5,5%. Em breve, divulgarei uma nota com os números revisados.
*Por Alexandre Maluf, economista