“A leitura se tornou para ele um vício insaciável.” (Gabriel Garcia Márquez – O amor nos tempos do Cólera)
Quem a vivencia como parte integrante da jornada, compreende o poder que os livros exercessem na vida. A cada página lida, somos transportados para mundos, personagens, cenários e emoções diferentes, onde desenvolvemos a empatia, nos tornamos mais compreensivos, respeitamos as diferenças, além, é claro, de nos tornamos pessoas mais críticas, conscientes e letradas.
Então, se por meio dos livros somos capazes de evoluir como pessoa, por que não usar a literatura a favor da inclusão?
Para mim, o Brasil está longe de ser um país inclusivo. Aquela famosa frase muito se fala e pouco se faz, se aplica perfeitamente na sociedade em que vivemos. Para apresentar uma literatura inclusiva é de suma importância que aconteça uma diversidade literária, ou seja, livros que retratem diferentes realidades, culturas, etnias, gêneros, orientação sexual e deficiências.
Em relação às políticas públicas, precisamos de uma educação inclusiva e bilingue desde a educação infantil, nas escolas particulares e públicas; a formação inicial e permanente de professores; o atendimento na rede básica de saúde para os que precisam de tratamento, medicação e terapia contínua; atendimento psicológico para as famílias; escolas de qualidade com profissionais em quantidade e qualidade.
Independentemente da deficiência, temos que conscientizar as pessoas de que a inclusão é a busca pela igualdade e que esse conceito deveria ser ensinado desde o berço, e não somente quando a necessidade surge.
E justamente por causa dessa necessidade, que me deparei com a Libras. Alheia ao mundo surdo, sempre enxerguei a língua de sinais como algo bonito e interessante. Existia curiosidade em conhecer um pouco mais sobre as mãos que falavam diante dos meus olhos, mas nada tão expressivo que me levasse para os estudos. Até o dia em que conheci um surdo. Um contato simples, cheio de expectativas (da parte dele) e vergonha (da minha parte).
Se a inclusão é a busca pela igualdade, cadê a minha empatia? E com a mente repleta de questões sem respostas, me matriculei no curso de Libras, em 2018. A partir desse momento, compreendi a importância da acessibilidade em todas as esferas, vídeos legendados, tradução e interpretação, apoio e divulgação dos profissionais e produtores de conteúdos surdos, e a certeza de que somos iguais.
Levar o mundo surdo para as páginas de um livro tornou-se primordial. Mostrar por meio da literatura que existe vida no silêncio. Que todos somos capazes de sonhar, amar e ser feliz. Usar o romance de Raquel (surda) e Bernardo (ouvinte) transformou a história de Sinais de Amor em uma imersão na cultura surda.
*por Cris Valori – autora de “Sinais de Amor” (Qualis Editora) e especialista em Libras.