O que significa brincar? Para muitos, essa pergunta parece simples, mas sua resposta ecoa por toda a nossa existência. Brincar não é apenas uma atividade infantil, é uma experiência vital, uma manifestação intrínseca da nossa condição humana.
Em meio a um mundo acelerado e pressionado, somos levados a acreditar que o brincar é algo a ser deixado para trás, abandonado na infância, como se fosse uma frivolidade que não tem lugar na vida adulta. Porém, quero provocar aqui uma reflexão: e se o brincar fosse justamente o que nos falta? E se brincar fosse o antídoto para a exaustão e a sobrecarga emocional da vida moderna?
As pesquisas mais recentes, assim como os pensadores clássicos da psicologia contemporânea, como Stuart Brown e Mihaly Csikszentmihalyi, indicam que o brincar vai muito além do simples entretenimento. É um mecanismo de construção de identidade, uma forma de nos conectarmos profundamente com o mundo e com os outros.
Como bem argumentou o psiquiatra Stuart Brown, “brincar é uma força primordial que molda o cérebro, abre a imaginação e revitaliza a alma”. E, no entanto, por algum motivo, à medida que envelhecemos, vamos nos afastando dessa força tão essencial à nossa natureza.
Nosso afastamento do brincar é uma tragédia silenciosa que poucos reconhecem, mas cujos efeitos são visíveis em nossa sociedade exaurida. Vivemos em tempos de burnout, de cansaço crônico, de desilusão e desconexão.
A sociedade contemporânea nos impõe uma agenda rígida, onde a produtividade reina absoluta, e qualquer atividade que não gere um retorno tangível ou financeiro é vista como perda de tempo. A pergunta que paira no ar é: onde está o espaço para o prazer, para a espontaneidade, para o brincar?
A cultura nos vende a ideia de que, ao envelhecer, precisamos abandonar certas “infantilidades”. Brincar se torna algo restrito aos pequenos, um “luxo” que não cabe em agendas de adultos responsáveis. Mas será mesmo?
Se pararmos para pensar, veremos que o que chamamos de “seriedade” adulta nada mais é do que uma armadilha construída por expectativas externas, uma máscara que nos distancia da nossa autenticidade. Perdemos o contato com a nossa criança interior e, com isso, perdemos também a capacidade de nos maravilharmos, de improvisar, de descobrir novos significados para o mundo.
A provocação aqui é direta: em que momento acreditamos que amadurecer significava abrir mão do prazer, da leveza e do brincar? Mais do que nunca, precisamos desafiar essa noção limitada de amadurecimento. A brincadeira não é o oposto da seriedade; é, na verdade, a ponte que nos permite encarar a vida de forma mais leve, criativa e flexível.
*Por Lucas Freire