O que começa como diversão em forma de apostas pelo celular, pode se transformar em um problema sério, que impacta a saúde mental e financeira de quem abusa dos jogos de apostas online.
As bets, que rapidamente se disseminaram no Brasil, já são uma preocupação real entre os profissionais de saúde mental e casos de vício estão aumentando a procura por ajuda. “As apostas começam como entretenimento, mas, para algumas pessoas, elas podem evoluir para um comportamento problemático, levando a sérios problemas emocionais, psicológicos e sociais”, afirma a psicóloga e psicanalista Ana Volpe, membro-filiada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
De acordo com a especialista, os efeitos dos jogos no cérebro são similares aos das drogas de abuso e ativam a produção de dopamina, que atua nos sistemas de recompensa e sensação de prazer. “Podem viciar devido a uma combinação de fatores psicológicos, neurológicos e sociais que criam um ciclo de dependência. O mecanismo de vício nas bets envolve recompensas imediatas, reforço intermitente e estímulos emocionais intensos que, com o tempo, podem alterar o comportamento do indivíduo”, diz.
Além do impacto na saúde mental das pessoas, o vício pode trazer à tona outro problema sério: o endividamento familiar. Segundo a Confederação Nacional do Comércio, a taxa de agosto foi superior a 78%, um número que pode ter sido impulsionado pelo descontrole no uso abusivo nos jogos.
Como reconhecer o vício
Para identificar se a diversão se transformou em vício e precisa de apoio profissional, a dica é entender a incapacidade de parar. A perda de controle é um sintoma clássico de compulsão, onde a pessoa repete a ação mesmo contra sua vontade consciente. A tendência em negar ou minimizar o problema é outro ponto de atenção.
“Mesmo quando as consequências negativas começam a aparecer, vem a fase da racionalização para tentar justificar a incapacidade de interromper o ciclo repetitivo. Além disso tudo, o indivíduo pode se isolar e apresentar sintomas de ansiedade e depressão, especialmente quando as perdas começam a se acumular”, afirma Ana Volpe.
Segundo a profissional, o reconhecimento do vício em jogo é o primeiro passo para a recuperação. “É um processo delicado e complexo, que exige paciência, apoio e, muitas vezes, uma escuta psicanalítica atenta e sensível para ajudar o sujeito a lidar com os impulsos que o levam a repetir esse comportamento autodestrutivo”, finaliza Ana.