O recente caso do suicídio cometido por um estudante bolsista do Colégio Bandeirantes, na capital paulista, reacende o debate em torno da inclusão social nos colégios de elite de todo o Brasil. Recentemente, o jornal Folha de S.Paulo abordou em podcast problemas enfrentados por estudantes bolsistas em escolas privadas. Foi relatado que, em algumas instituições, os bolsistas são segregados: estudam à noite, usam uniformes especiais para identificá-los e são impedidos de frequentar as instalações em período diferente de suas aulas. Ou, então, são alocados em unidades exclusivas para eles.
Para Filipe Colombini, psicólogo parental e CEO da Equipe AT, a questão é emergente, para que mais tragédias sejam evitadas. “A inclusão social no ambiente escolar é tarefa de todos, desde a equipe da coordenação e professores até monitores e pessoal da cantina. É de total responsabilidade da instituição, jamais do aluno”, ressalta ele. “Nesse contexto, o papel do psicólogo escolar é fundamental. Mas em vez de ocupar uma sala na escola para apenas ficar ouvindo queixas dos alunos, este profissional deve ter participação ativa no ambiente, para poder trabalhar as relações institucionais e propor intervenções junto a professores, alunos, equipe pedagógica e toda a comunidade escolar”, conclui.
Colombini destaca, ainda, que é fundamental envolver as famílias de todos os alunos, bolsistas ou não, nessas discussões. “E além da bolsa de estudos, os alunos aceitos para estudar na instituição devem receber todo o suporte necessário, por meio de reuniões, treinamentos, oficinas de integração e sessões de orientação, para que ocorra, de fato, a inclusão naquele ambiente”, diz ele.
Segundo o especialista, grande parte das escolas particulares demonstram não ter uma preocupação efetiva com os estudantes bolsistas, já que consideram que o simples fato de eles estarem ali representa um privilégio e é resultado de uma ação de filantropia. “Porém, é essencial que o ambiente escolar seja saudável e acolhedor para todos os estudantes”, completa Colombini.
“Falta um trabalho de habilidades emocionais e sociais envolvendo toda comunidade escolar. Vemos que muitas escolas privadas dão muito mais importância para manter bons índices de aprovação nos vestibulares do que, por exemplo, com os aspectos socioemocionais de seus alunos e formação da cidadania”, destaca.
“O papel da escola é também trabalhar em favor de uma sociedade mais justa e igualitária e, para isso, é essencial garantir uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, inclusiva”, enfatiza o CEO da Equipe AT.
Ações efetivas podem mudar essa realidade
O psicólogo reforça que as políticas de inclusão nas escolas devem ter a saúde mental dos bolsistas como um de seus principais pilares. “Não é raro que estes estudantes tenham a saúde mental impactada porque não se sentem plenamente incluídos. Eles sofrem com bullying e preconceitos, sendo que muitas vezes não se sentem efetivamente integrados ao ambiente acadêmico”, diz Colombini.
Portanto, a melhor gestão das políticas que se referem aos alunos bolsistas, por parte da direção das escolas, é crucial. “A instituição é responsável, assim como também são as entidades que atuam com a finalidade de inserir os estudantes bolsistas ali. É importante discutir amplamente o real objetivo de essas escolas aceitarem alunos bolsistas, se, de fato, não existe uma política interna para apoiar este público”, questiona. “Obviamente, quando ocorre um ambiente onde impera a segregação e o preconceito, este será o palco propício para o surgimento de movimentos de violência e ações extremas de bullying”, conclui.
Para além das condutas já mencionadas, Colombini destaca, ainda, que seria essencial que a escola oferecesse a possibilidade de alunos bolsistas e pagantes interagirem fora do colégio, com a mediação e auxílio de profissionais especializados, envolvendo, inclusive, familiares. “O trabalho de inclusão social requer grupos de reflexão e atividades práticas, sempre mediadas pelo psicólogo escolar, em conjunto com a coordenação pedagógica”, explica o especialista.
“Deve haver um esforço para entender em profundidade como é o círculo social de cada aluno”, diz o especialista. “E, ainda, compreender que as ações precisam ser individualizadas. É preciso partir do princípio que os estudantes requerem suporte voltado para cada uma de suas necessidades; porque é justamente aí que a gente vai observar a fragilidade das escolas com relação a uma educação verdadeiramente inclusiva”, finaliza o CEO da Equipe AT.