Ansiedade, tédio, vergonha e inveja são as quatro novas emoções que entram em cena da agora adolescente Riley na animação Divertida Mente 2, da Disney, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20). Se no primeiro filme, Divertida Mente, lançado há quase dez anos, a personagem principal se desenvolveu com alegria, tristeza, medo, nojo e raiva. Agora, nesta nova fase da vida, há uma verdadeira virada na chave e muita coisa muda. Mas até onde o desenho pode refletir o que acontece na vida real? A biomédica Telma Abrahão, especialista em neurociência e desenvolvimento infantil, explica o que está por trás dessa fase.
“A adolescência é uma fase de grandes alterações hormonais, comportamentais, emocionais e na forma de olhar para si e o mundo. Também é um momento da construção de novas sinapses e desenvolvimento de importantes habilidades socioemocionais, onde o adolescente aprende a pensar nas consequências de suas atitudes, se preocupa mais com o julgamento alheio, deseja ser aceito e querido”, comenta Telma.
“Essa fase é uma consequência da infância, mas agora os pais deixam de ser os heróis da vida e os amigos ganham mais espaço. O medo de ser rejeitado, de não ser bom o suficiente aumenta muito, o que traz consigo uma grande ansiedade. E foi justamente essa emoção a personagem de maior destaque nesse filme novo”, afirma.
Mas segundo Telma, se essa emoção não for compreendida pode causar danos também. “A ansiedade é a emoção muito presente na adolescência e pode simplesmente levar o adolescente a agir com impulsividade, tomar decisões de forma impulsiva e precipitada o pode trazer inclusive resultados indesejados. Por outro lado, também é positiva porque ela nos faz olhar para o futuro tentando minimizar os erros e nos coloca para pensar antes de agir. Então é uma fase marcada por um grande conflito: ‘eu estou muito ansiosa querendo que as coisas deem certo. E por outro lado eu estou paralisada pelo medo de errar’”, comenta.
Para Telma, cabe orientação e atenção dos pais para guiar esses sentimentos, mas entendendo que já é um ser com personalidade formada, alguém com vontade e ideias próprias. “E aí qual que é a importância da reflexão aqui? A mudança que a gente quer fazer na nossa vida nunca está lá no futuro. Está sempre no presente. Mas desenvolver essa habilidade de prever as consequências das nossas próprias atitudes é fundamental. É justamente o que acontece na adolescência. A criança age por impulso, não tem o controle neurológico das ações. Já o adolescente tem uma função executiva que se chama controle inibitório responsável pelo controle de impulso mais desenvolvido”, explica a especialista.
Essa habilidade ajuda na hora de frear as próprias vontades, começar a pensar um pouco mais na consequência das ações. “Esse é o papel da ansiedade, o de mostrar o tempo inteiro e colocar o adolescente em dúvida. ‘Se eu fizer isso e acontecer aquilo?’, ‘será que sigo em frente?’, ‘será que eu devo ou não ir por esse caminho?’. Isso pode deixar ansioso, mas também serve para medir suas atitudes e pensar nas consequências”, aconselha.
Nessa fase também é bem comum que o adolescente fique perdido, pedindo a opinião dos outros, como podemos ver com a protagonista. E é aí que entram as bases da infância. “Aquele adolescente que foi criado num lar com valores firmes, com amor, com segurança, vai ter mais repertório de vida para tomar boas decisões. Os pais, que eram heróis na infância, durante a adolescência ficam com um papel mais secundário, e os amigos ganham força. Mas ainda assim o relacionamento com os pais pode ganhar um olhar diferente, desde que esses pais passem a se relacionar com esse adolescente com mais respeito, com mais conexão, levando em consideração que o filho não é mais uma criança”, finaliza.