No município de Alvarães (530 km distante de Manaus) existem peculiaridades únicas e que deixam qualquer alvaraense orgulhoso. A começar pelo lado de fora do único estádio da cidade, onde uma árvore em especial, se destaca pela beleza e tamanho: é a Sapucaeira. A imponência é tanta que ela chama atenção de longe, tanto pela altura, 37 metros, quanto pela sua história que é contada de várias maneiras pelos moradores da cidade, tanto idosos, quanto crianças, que tem a Sapucaia como um símbolo do município.
Na construção do estádio de Alvarães foi definido que o gramado não seria feito com as dimensões oficiais da FIFA, que determina o tamanho máximo de comprimento de 120 metros o mínimo de 90 metros. A decisão tomada foi para incorporar a árvore que fica ao fundo do estádio no projeto. O tamanho do gramado ficou com 88 metros de comprimento por 47 metros de largura. A ideia inicial era derrubar a árvore de mais de 100 anos, para construir um espaço multifuncional, mas o projeto foi repensado e a árvore preservada.
Dentre os 33 municípios sede, o Caiçarão é o único a sediar a Copa da Floresta sem possuir as medidas oficiais exigidas. O Departamento de Competições da FAF considerou a presença da árvore centenária no local, cuja preservação foi prioritária. Para viabilizar a realização do evento, as duas seleções envolvidas no único jogo no estádio foram consultadas e chegaram a um acordo. Ambas assinaram um documento garantindo que concordam em jogar nas condições existentes, sem que isso prejudique a qualidade ou a segurança da partida.
Para o presidente da Federação Amazonense de Futebol (FAF), Ednailson Rozenha, esta decisão não apenas preserva um importante patrimônio natural, mas também destaca o compromisso com a sustentabilidade e a valorização do meio ambiente, a verdadeira essência da maior competição de futebol não profissional da região Norte do país.
“A Copa da Floresta transcende as quatro linhas, tornando-se um palco onde a paixão pelo esporte e o respeito à natureza se encontram. E que gigante exemplo Alvarães nos dá. A seleção municipal correu o risco de não ser aceita na competição, mas o seu compromisso com a natureza falou mais alto, essa garra de guardiões da floresta provou que é possível unir o futebol com a responsabilidade de proteger nosso meio ambiente. A árvore centenária no estádio de Alvarães é um símbolo vivo dessa harmonia, representando nosso compromisso inabalável com a sustentabilidade e a preservação do nosso legado natural, com a nossa ancestralidade. A Copa da Floresta é isso, essa é a sua pura essência”, destacou.
A adaptação para que não houvesse a derrubada teve o apoio do engenheiro, Taivan Pena, que enxergou a importância da árvore para os moradores e para o projeto: “Entendemos que era preciso fazer algo diferente nesse estádio. A árvore seria o carro chefe do nosso paisagismo. Além de preservar uma árvore centenária, pensamos no valor histórico da cidade que é contada a partir da Sapucaeira. Perdemos espaço físico no projeto e ficamos fora dos padrões oficiais do futebol. No entanto, ganhamos muito mais, deixando essa árvore em pé”, conclui o engenheiro.
O agricultor Pedro Costa, 64, mora nos arredores do estádio Caiçarão, em Alvarães desde criança e sabe bem o que representa o pé de Sapucaia. “Desde que eu era criança, essa Sapucaeira existe aí. Uma árvore centenária que só traz benefícios aos moradores. Faz sombra, traz ventilação e deixa nossa paisagem mais bonita”, afirma o agricultor.
O motorista Edivaldo Praia, também fala do orgulho pela gigantesca árvore. O servidor público conta que quando criança usava os galhos da árvore como arquibancada, em dias de jogos. “Lembro da época que tinham jogos entre municípios e muita gente da minha idade, usava a Sapucaia para assistir os jogos. Hoje não é mais permitido subir na árvore, mas garanto que lá de cima, a vista do jogo é muito bonita”, garante o servidor público.
É inegável que a árvore de Sapucaia tem um papel importante e marcou a vida de muitos moradores da cidade Alvarães. Prova disso é que o estádio Caiçarão, que foi reconstruído recentemente, teve de se adaptar a um projeto arquitetônico bem peculiar.
A Sapucaia (Lecythis pisonis) é uma árvore que pode atingir até 50 metros de altura na floresta, com um tronco largo e cilíndrico, é conhecida por suas florescências exuberantes que ocorrem de setembro a dezembro na região Amazônica, cobrindo a árvore com flores brancas e vermelhas. Essas flores dão lugar a grandes frutos globosos, com cerca de 15 centímetros de diâmetro, que se abrem quando maduros, revelando sementes comestíveis que são consumidas por várias espécies de animais silvestres.
A Sapucaia desempenha um papel crucial no ecossistema amazônico, não apenas por sua importância na alimentação da fauna, mas também por seu papel na regeneração da floresta através da dispersão de suas sementes. Ela é uma espécie típica de áreas de várzea, onde pode ser encontrada próxima a rios e lagos, e tem uma ampla distribuição na bacia amazônica. Recentemente, pesquisadores têm dedicado esforços para entender melhor o processo de reprodução da Sapucaia, o desenvolvimento dos frutos e as interações da árvore com outros organismos do ecossistema. Em Alvarães ela foi catalogada recentemente, em 2023.
Alvarães x Uarini no estádio Caiçarão
Diante da majestosa árvore de Sapucaia, as seleções de Alvarães e Uarini se enfrentam, nesta terça-feira, (11/6), no primeiro duelo entre as duas equipes, válido pela primeira fase da Copa da Floresta 2024. Conhecido como “Clássico da Farinha”, pelos municípios serem dois dos maiores produtores do alimento e disputam quem produz com maior qualidade. O jogo está marcado para às 15h, deve ser assistido por mais de 2 mil moradores, que prometem lotar as arquibancadas do estádio e serem o 12º jogador de suas seleções.
O jogo da volta entre Uarini e Alvarães será na sexta-feira, 14, no estádio Dorvalzão, na cidade de Uarini. Quem vencer o “Clássico da Farinha”, vai enfrentar a seleção de Tefé, atual campeã da Copa da Floresta e que vai estrear somente na segunda fase da competição. A partida será no estádio do 17º BIS do Exército Brasileiro, na cidade de Tefé, no próximo domingo, 16 de junho.