Quando o tema é saúde da mulher durante a gravidez são numerosos os mitos que rondam essa fase pela qual muitas mulheres passam. Em relação à saúde bucal, por exemplo, correm muitas informações totalmente infundadas, alerta o dentista Sérgio Kignel, doutor em Diagnóstico Bucal, professor titular da disciplina de Semiologia do Centro Universitário Herminio Ometto (UNIARARAS) e diretor da Clínica Sérgio Kignel. Algumas delas são que gestantes não podem: realizar tratamento odontológico; fazer radiografia dentária ou tomar anestesia durante procedimentos no dentista. Além disso, a crença de que em algum momento, durante a gestação, o bebê retira cálcio dos dentes da mãe, aumentando o risco de perda de dentes e por aí vão as histórias que de tanto serem contadas, transformam-se em “verdades”.
Um editorial publicado na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health referencia que o acesso aos cuidados de saúde oral varia entre 35% em países de baixo rendimento e 75% em países de rendimento médio-alto. Como exemplo, nos Estados Unidos, apenas 46% das mulheres grávidas fazem profilaxia oral (limpeza dentária) durante a gravidez, e este número é muito menor para mulheres socialmente desfavorecidas. “Os autores destacam também que não há um check-up dentário de rotina recomendado durante a gravidez na maioria dos países de baixa e média renda”, lamenta Kignel.
O texto mostra que os impedimentos mais significativos são a falta de informação para as mulheres grávidas sobre a importância das consultas odontológicas durante a gravidez, equívocos sobre a segurança do tratamento odontológico durante este período e a falta de percepção da necessidade de ir ao dentista durante a gravidez. “Além disso, mulheres com baixos rendimentos têm menos probabilidades de receber cuidados dentários antes e durante a gravidez do que aquelas com rendimentos mais elevados. Outro problema é que quando essas mulheres grávidas precisam de cuidados dentários, muitas vezes têm dificuldade em encontrar alguém para tomar conta dos seus filhos mais velhos”, observa Kignel.
Os cuidados corretos à gestante são fundamentais para a saúde da mãe e do bebê e para que o parto transcorra sem problemas. Isso é tão importante que 28 maio foi instituído para ser o Dia Nacional da Redução da Mortalidade Materna, valorizando a importância da assistência e acolhimento que garantam o bem-estar materno. Nesse contexto, afirma Kignel, os cuidados com a saúde bucal também têm seu espaço. “Sabemos, por exemplo, que a inflamação na gengiva, quando não tratada, está entre as causas de partos prematuros e, portanto, do nascimento de bebês de baixo peso”, informa.
Inflamações dentárias devem ser tratadas
Os dentes das gestantes podem ficar um pouco mais fragilizados durante a gravidez, mas por motivos muito diferentes do que a maioria das pessoas acredita. Quando a gestante apresenta refluxo e vômito, por exemplo, as substâncias ácidas provenientes do estômago podem contribuir para desmineralização dos dentes. Mas não é uma situação frequente. Outro efeito que pode ocorrer na gravidez é a alteração do paladar e do olfato devido o aumento da quantidade de hormônios no organismo, especialmente o estrógeno.
Também há risco de inflamação de gengiva, em função do aumento de fluidos. “Toda inflamação na gengiva causa reabsorção de osso, que pode prejudicar estruturalmente os dentes”, afirma. Entre os sintomas de uma possível inflamação está o sangramento da gengiva. Nesse caso, é preciso escovar os dentes com mais cuidado e usar fio dental para melhorar a higienização. Se dentro de uma semana, o sangramento não parar, é preciso, orienta Sérgio Kignel, procurar o dentista para uma higienização profissional.
Pelo menos duas visitas ao dentista
Portanto, a visita ao dentista deveria fazer parte do pré-natal, como acontece nos Estados Unidos, onde o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), coloca a visita ao dentista como uma das recomendações do pré-natal das gestantes. Kignel recomenda que, no caso de uma gravidez planejada, a futura gestante, vá a seu dentista antes de engravidar para fazer um exame completo da boca e os procedimentos necessários para a manutenção da saúde bucal. Depois, a gestante deve retornar no final do primeiro trimestre e no final do segundo trimestre. Essa agenda vale para as gestações não planejadas: visitas ao dentista no final do primeiro e segundo trimestres, mesmo que não haja qualquer queixa.
“O quinto e sexto mês de gravidez são os melhores períodos para realizar qualquer tratamento dentário que seja necessário, uma vez que o feto já está formado e nesse período dedica-se a seu crescimento”, informa Kignel. Isso, no entanto, não quer dizer que uma gestante deve ignorar eventuais problemas odontológicos fora desse período. Ao contrário, qualquer problema deve ser verificado e tratado. “Sempre que vamos cuidar de uma gestante, entramos em contato com o obstetra que a atende. Qualquer procedimento, como radiografias, anestesias, medicamentos são realizados com concordância do obstetra”, informa.
Radiografia odontológica é segura
No caso de radiografias dentárias, por exemplo, Kignel explica que, embora, ela seja evitada nos três primeiros meses, em um caso que seja necessária antes desse período não há risco para a gestante e o bebê. “A radiografia odontológica tem baixa dose de radiação e o feixe principal é localizado na região da mandíbula e da maxila. Além disso, a gestante utiliza um protetor de chumbo durante o procedimento, o que garante total segurança”, diz.
O granuloma gravídico é outra alteração que pode acometer as gengivas da gestante. “Há um aumento da gengiva e aparecem pequenas granulações. Em geral, depois que o bebê nasce, o granuloma gravídico tende a desaparecer. Se em até três meses isso não acontecer, a mãe deve ir ao dentista para remoção das granulações”, informa.