Conheça o Burnon, síndrome em que o amor excessivo ao trabalho leva ao desgaste
No universo corporativo, a busca incessante por sucesso e reconhecimento muitas vezes leva os profissionais a ultrapassarem os limites saudáveis, resultando em um fenômeno pouco explorado, porém igualmente perigoso: o Burnon. Enquanto o Burnout é amplamente reconhecido como um estado de esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho, o Burnon descreve um cenário em que os profissionais se envolvem de maneira excessiva e obsessiva com o trabalho, sem terem a percepção do desgaste, o que também pode levar a problemas de saúde física e mental e a um colapso súbito no qual os sinais de esgotamento não foram percebidos.
“A principal diferença entre o Burnout e o Burnon está na percepção do desgaste. No Burnout, a pessoa eventualmente percebe a fadiga e os problemas causados pelo estresse, enquanto no Burnon há uma negação dos problemas, uma visão idealizada e romantizada do trabalho“, explica a Dra. Simone Nascimento, médica com especialização em saúde mental e bem-estar corporativo.
Segundo ela, os impactos na saúde mental são igualmente sérios, mas diferentes. Enquanto o Burnout pode levar à depressão, ansiedade e doenças físicas devido ao estresse crônico, o Burnon pode resultar em um esgotamento súbito, sem aviso prévio.
Como diferenciar um Burnout do Burnon?
No Burnout, a pessoa chega a um ponto de colapso emocional e físico devido ao excesso de pressões e demandas, frequentemente sentindo-se desmotivada e incapaz de continuar. O Burnon, por outro lado, é marcado por um comprometimento intenso e uma incapacidade de se desconectar das funções do trabalho. Nessa situação, o indivíduo ignora sinais claros de cansaço e continua a trabalhar com entusiasmo excessivo, muitas vezes em detrimento de outras áreas da vida. Nele, há uma redução gradual da motivação, com um claro prejuízo na qualidade do trabalho e na produtividade, já no Burnon, a motivação pode ser excessiva e compulsiva, levando ao perfeccionismo e comportamento workaholic.
“Outra diferença prática entre as duas situações é que no Burnout a pessoa se sente sem controle da situação e incapaz de lidar com o estresse, enquanto no Burnon, ela pode ter uma falsa sensação de controle e acreditar que pode suportar qualquer coisa pelo trabalho”, esclarece a doutora.
O termo Burnon foi criado em 2021 por Timo Schiele e Bert te Wildt, psicólogos de uma clínica psicossomática próxima a Munique, na Alemanha, que observaram essa tendência em pacientes inicialmente encaminhados para tratamento de Burnout. Embora o termo Burnon ainda não seja oficialmente reconhecido como uma condição médica, é um tema de crescente interesse entre profissionais de saúde mental.
Para preveni-lo, é crucial estabelecer limites saudáveis entre trabalho e vida pessoal, cultivar interesses fora do ambiente profissional e reconhecer a importância do descanso e da desconexão.
“Quando tentamos fazer tudo o tempo todo, fazemos concessões que nos afastam das nossas metas, inclusive as de saúde e sucesso. Além disso, cultivar hobbies fora do ambiente profissional e reconhecer a importância do descanso e da desconexão é crucial para prevenir o Burnon”, esclarece a Dra. Simone Nascimento, que completa dizendo que o tratamento pode envolver terapia para ajudar a reestruturar o pensamento, colocar as prioridades em perspectiva e repensar o comportamento em relação ao trabalho. Além disso, também podem ser úteis técnicas de manejo de estresse e o estabelecimento de um equilíbrio mais saudável entre trabalho e descanso.
“Considerando que nossa saúde mental não vem sozinha, mas é resultado de fatores biopsicossociais, é necessário investir também nos outros pilares da saúde integral, como alimentação, prática regular de atividade física, sono de qualidade, além de um olhar especial para os relacionamentos interpessoais, base fundamental de saúde física e mental, e da longevidade”, conclui Simone.