Ao assumir a liderança do mercado de adquirência com a Rede, no segundo trimestre do ano passado, o Itaú Unibanco solidificou o sucesso da reintegração da companhia aos seus canais em uma estratégia montada para fidelizar as pequenas e médias empresas ao banco. Agora, Bradesco e Banco do Brasil querem tentar o mesmo caminho com a Cielo, que pretendem tirar da Bolsa. Sem pertencer a bancos tradicionais, mas como dono de um digital, o PagBank (ex-PagSeguro) acredita ter uma vantagem nesta corrida: entende que já está à frente por ter “nascido” de forma integrada.
“É um fator positivo, que só comprova o sucesso da nossa estratégia. Temos uma vantagem competitiva grande, porque os competidores tradicionais têm dois legados grandes que não se conversam do ponto de vista sistêmico e operacional”, disse a jornalistas o CEO do PagBank, Alexandre Magnani, na quarta-feira, 28. “Dá trabalho copiar esse modelo integrado, ainda mais quando se vem de dois legados de muito tempo.”
No ano passado, a empresa teve lucro líquido recorrente de R$ 1,77 bilhão, o maior da história e um crescimento de 11% em base anual. Resultado da recomposição de margens na adquirência, após alguns trimestres em que as receitas do banco digital foram pressionadas pelo teto da tarifa de intercâmbio para os cartões pré-pagos, modalidade em que a empresa era um dos maiores emissores do País.
Na visão de Magnani, não ameaça essa retomada de margens. “Observamos que alguns desses competidores alternam ciclos de ganho de mercado com ciclos de rentabilização, e consequentemente de perda de mercado. Não vemos uma competição irracional por parte deles”, disse.
Analistas de mercado consideram que uma das armas da Rede e da rival Getnet, controlada pelo Santander espanhol e que também saiu da Bolsa, é a redução de preços. As empresas negam, mas os bancos admitem que com os negócios com capital fechado, é possível fazer ofertas mais flexíveis. Traduzindo, não necessariamente se ganha dinheiro com a maquininha, mas sim com a relação bancária para a qual ela abre as portas.
Retomada
Em maquininhas, o PagBank encerrou 2023 com 6,5 milhões de clientes ativos, queda de 8% em um ano, mas uma alta de 3% se desconsiderados os chamados nano comerciantes, que movimentam até R$ 1.000 por mês, e que deixaram de ser prioridade para a companhia desde 2022. No degrau acima, o dos microempreendedores, que movimentam de R$ 1.000 a R$ 10.000, a empresa voltou a crescer no ano passado.
“As condições econômicas dos País melhoraram. Em 2021 e 2022, a taxa de juros estava crescendo ou estável em um patamar alto. Como ela começou a cair, nos trouxe mais segurança de que esses clientes vão retornar o que esperamos lá na frente”, afirmou o vice-presidente Financeiro da empresa, Artur Schunck.
Os nano e microempreendedores foram trazidos para o mercado de maquininhas pela PagBank, que na década passada, sob o nome de PagSeguro, passou a oferecer maquininhas menores, sem aluguel e com preços mais baratos, o que abriu espaço para que esses comerciantes passassem a receber pagamentos com cartões. É um segmento mais rentável, e que todas as demais companhias do setor tentaram atingir. A maioria desistiu porque atender esse público é caro: a alta mortalidade dos negócios no Brasil faz com que muitos desliguem a maquininha antes que ela se pague para a companhia.
Segundo o diretor de Relações com Investidores, ESG e Inteligência de Mercado da empresa, Eric Oliveira, a equação está mais equilibrada. O patamar de ativação das maquininhas no quarto trimestre foi o maior desde o começo de 2021. Além disso, o período para que cada maquininha se pague caiu, e as perdas por fraudes com cartões foram reduzidas à metade. Ele não detalhou os números. “A operação fica mais saudável, e por ficar mais saudável, a gente fica mais forte e mais robusto para servir esse empreendedor.”
A empresa espera que o lucro líquido cresça até 21,5% neste ano, e que o volume processado aumente em até 16%. De acordo com Schunck, o primeiro trimestre tem tido um desempenho similar ao quarto trimestre do ano passado, o que reforça o guidance da companhia. No último trimestre de 2023, o volume processado pelas maquininhas da empresa subiu 21% no comparativo anual, para R$ 113,7 bilhões.
Com informações de Matheus Piovesana/Estadão Conteúdo e M&C
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