Conhecida como “Shopee do Brás”, a loja “Busca Busca”, aberta há 2 meses, recebe até 5 mil pessoas por dia em filas que chegam a 4 horas de espera. O público procura produtos mais baratos que aqueles encontrados em uma das plataformas de vendas mais populares no Brasil.
A proporção choca o dono Alex Ye, autointitulado como “Chefe do Benefício”, que aspira revolucionar o varejo brasileiro através do live commerce, com o plano de criar um site similar ao Alibaba, somente com os importadores, a “fonte das fontes”, como ele diz, que beneficiem os clientes.
O fenômeno começou no Kwai, onde ganhou o nome divulgando diversos produtos que hoje fazem parte das prateleiras da loja, desde eletrônicos a utensílios de casa.
Atualmente, Alex tem mais de 300 funcionários espalhados em mais 5 lojas, mais de 6 milhões de seguidores nas redes sociais e uma legião de fãs que param os corredores para tirarem fotos com ele.
Alex Ye passa pelo público com um guarda-costas, devido a questões de segurança pelo fluxo de pessoas que se aproximam, seja para falar com ele, realizar uma sugestão/crítica ou pedir um vídeo, explica a sua assistente pessoal, Julia Crispim.
A equipe da CNN visitou o empreendimento situado no Brás e comparou o preço de diversos produtos populares com a Shopee.
Um pouco de Shopee, um pouco de Brás, qual vale a pena?
As filas que ocupam muitas vezes todo o quarteirão do bairro conhecido pelo seu comércio também se forma dentro do “Busca Busca” na hora do pagamento.
Dentre as pessoas que esperam para passar no caixa seus “achadinhos baratos” se encontram não só aqueles que pretendem fazer um consumo pessoal, mas também diversos revendedores.
É o caso de Larissa Vieira Duarte, 24, que carregava mais de 10 garrafas de 2L coloridas em duas cestas e esperava na fila que já se encontrava no segundo andar da loja, a mais de três lances de escada.
Ela disse valer a pena comprar essa quantidade para sua loja, a “Casa das utilidades”, devido ao preço e à qualidade, “nunca deu problema”. No empreendimento do Chefe do Benefício, o trio de garrafas com tamanhos diferentes custa R$ 15. Na Shopee, o mesmo kit pode ser encontrado por R$ 25,99, sem considerar o frete.
Outros produtos populares também estão disponíveis com algumas diferenças de preço que podem chamar a atenção, como secador de cabelo R$ 8 mais barato, máquina de barbear por R$ 10, enquanto na Shopee é R$ 18,99, e massageador elétrico que de R$ 46,99 no e-commerce, sai por R$ 45 na loja.
Mesmo que muitas vezes o produto tenha um custo de pouco mais de R$ 1, Alex ressalta que “a pessoa tem que ver para confiar”. Além do preço, outro benefício da loja física é a disponibilidade imediata do produto, tirando o frete e o tempo de espera.
Mas, diversos produtos não podem ser testados ou tirados da caixa. No expositor é disponibilizado um modelo para teste e, após a compra, é possível devolvê-lo em caso de avarias.
“Minha estratégia não é lucrar”
A CNN perguntou sobre a margem de lucro ao chefe, mas ele informou que os valores não são divulgados. Ele diz que “minha estratégia não é lucrar (…) se você só pensa em você, nunca acontecerá nada. Vai acontecer sempre se pensar em primeiro lugar no público, no povo, na galera. É como beneficiar eles. Como deixa importador beneficiado”.
Seu objetivo é, daqui a alguns anos, montar um site similar ao Ali Express “sem investir um centavo”.
Ele explica que a loja servirá como um show room para que os consumidores conheçam, e após fortalecer a marca, ele oferecerá uma plataforma confiável para os importadores venderem e seus clientes comprarem na fonte, escolhida por ele a dedo.
As entregas seriam feitas por transportadores, assim como eles fazem hoje com suas vendas online. Alex disponibiliza produtos por atacado via Whatsapp, recebendo diariamente de 1.000 a 3.000 clientes por dia.
Ele diz que vai “mudar a estratégia do comércio no Brasil”, explicando que quando existirem outras “Busca Busca” espalhadas pelo Brasil, a pressão da concorrência fará os outros comércios abaixarem o preço.
Antes, o Chefe do Benefício realizava no Kwai lives para comercializar seus produtos, época em que se autointitulou como “Chefe do Benefício”, pois “se não consegue trazer o benefício para nossos seguidores, então essa conta não tem sentido”, explicou.
Julia conta que a equipe administrava as lives que podiam durar até 12 horas, com os produtos que os importadores mandavam e utilizando as próprias ferramentas disponíveis da plataforma para promover e receber os pagamentos.
Porém, ele parou com essa estratégia que o fez ficar conhecido. Pelo menos por enquanto.
Formato inédito onde você assiste, clica e chega na sua casa
Alex diz que nunca pensou que viraria um influenciador, mas que um dia disse para si: “Eu tenho que fazer algum diferente, eu não posso continuar como uma pessoa normal (…) eu quero fazer algo para entrar na história”.
Fundou seu primeiro negócio com 15 anos e investiu no live commerce anos depois. Esse tipo de venda ocorre por meio de vídeos ao vivo nas redes sociais, divulgando os produtos e disponibilizando um link para fazer a compra imediatamente.
Os ganhos ficam na rede social e podem ser sacados com uma conta bancária vinculada.
Hoje, essa opção existe apenas no Kwai, mas o chefe espera que o TikTok traga a ferramenta, já disponível fora do Brasil, e assim voltará a fazer as lives commerce.
Seus vídeos mostrando aos clientes as novidades que chegam na “Busca Busca” continuam a todo vapor no Tiktok e Instagram, nos quais ele geralmente faz comparações com a Shopee.
Os comentários nas postagens são geralmente de pessoas de diversas regiões do Brasil que querem visitar a loja ou que esperam a abertura de uma unidade em sua localidade.
Ele explica que essa estratégia de divulgação é certeira, já que seu público, geralmente de 22 a 50 anos, assiste seu conteúdo ou o acompanha nas redes, o que aumenta o potencial de compra.
Por Marien Ramos/CNN* – São Paulo
*Sob supervisão de Ligia Tuon
Foto: Reprodução