Inaugurado em 31 de janeiro de 1974 pelo presidente do Brasil, à época, Emílio Garrastazu Médici, acompanhado do então superintendente da Autarquia, Hugo de Almeida, o prédio onde hoje funciona a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) completa 50 anos nesta quarta-feira (31).
Projetado por Severiano Mário Porto, conhecido como o “arquiteto da Amazônia”, em 1971, o edifício localizado no coração do Distrito Industrial, na zona Sul da capital amazonense, consolidou as bases do Polo Industrial de Manaus (PIM) e, além de ser alvo da curiosidade de arquitetos do mundo inteiro, é citado em várias obras sobre o tema.
O destaque são as cúpulas de concreto armado com ventilação por efeito chaminé, rompendo com as soluções regionais em madeira usualmente empregadas pelo arquiteto. Segundo relatos de pesquisadores, Porto afirmou que o projeto teve a preocupação de apresentar uma solução que levasse o mundo a acreditar que o Distrito Industrial “ia ser pra valer, não era uma coisa temporária”. Dessa forma, o concreto visava transmitir uma imagem de solidez e permanência à estrutura.
O superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, contextualiza o momento de construção do edifício da Autarquia com a ocupação do Polo Industrial de Manaus.
“Estamos no momento de construção do Distrito Industrial, com a instalação das primeiras indústrias na área destinada do PIM e é necessária uma sede para a Superintendência desse novo polo que promete revolucionar as bases desenvolvimentistas da região. Severiano Porto entende a dimensão do que deve significar a sede da Suframa e desenvolve essa estrutura arquitetônica única que criou um entrelaçamento entre o concreto armado e a floresta amazônica, que marca sua obra”, explicou.
A área construída totaliza 7.500 metros quadrados, composta por blocos distribuídos em módulos de 15m x 15m, permitindo expansão com a construção de novos módulos, se necessário. O edifício é constituído por dois blocos interligados por uma passarela coberta, abriga administração, biblioteca, auditório, castelo d’água e área de estacionamento, com um anexo contendo restaurante e escritórios.
Os espaços internos e externos são conectados por pátios e corredores cobertos, sob uma cobertura única em concreto, oferecendo suporte estrutural ao conjunto. Dentro do prédio principal há ainda um jardim interno, que ocupa o espaço de dois módulos.
Cerca de 400 servidores e colaboradores atuam na sede da Suframa, por meio de cinco superintendências adjuntas: Executiva; de Administração; de Projetos; de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica; e de Operações.
Memórias
Para os servidores da Suframa, especialmente os mais antigos na Casa, várias são as memórias e os relatos de vivência na sede da Suframa.
“A Suframa é uma parte da minha vida e muitos capítulos da minha história pessoal. É a continuação da minha casa e, como costumo dizer aos antigos e novos colegas de trabalho, é a nossa eterna escola, pois aqui aprendemos alguma coisa todos os dias’, afirma o servidor Emmanuel de Aguiar, servidor de carreira há quase 40 anos.
Emmanuel recorda, inclusive, do incêndio que destruiu grande parte da área interna do prédio, em maio de 1994.
“Esse episódio marcou muito a todos aqueles que se dedicam com afinco a essa Instituição. Nessa ocasião eu estava residindo em Rio Branco, no Acre. Ao ver na TV as imagens da destruição da sede e alguns colegas desolados, inertes diante daquela cena terrível, confesso que não deu para conter o choro e a imensa tristeza. Era como se eu tivesse perdido para o fogo a minha própria casa e esse certamente foi o sentimento de todos os outros colegas naquele momento”, disse.
Segundo ele, o incêndio suscitou argumentos para um tema recorrente em toda a trajetória do projeto Zona Franca de Manaus e sua política de incentivos fiscais: de que a Zona Franca de Manaus deveria acabar. “Ouvi um comentário de que se ainda faltava alguma coisa para o fim da ZFM, esse incêndio veio para transformar tudo em cinzas”, relatou.
Mas assim como na Zona Franca de Manaus, a resiliência também está no DNA dos servidores e colaboradores da Casa.
“A resposta veio rápida, numa demonstração de amor, de garra, determinação e espírito público dos seus dirigentes, servidores e colaboradores. Internamente, vivenciou-se uma mobilização de guerra para que os serviços de atendimento ao comércio e à indústria do polo industrial não fossem totalmente prejudicados. Depósitos, corredores e até banheiros do prédio anexo da Suframa foram transformados em gabinetes e salas de trabalho até a reinauguração da sede, em 1999”, destacou Emmanuel.
Reformas e tombamento
Com o incêndio em 1994, o edifício passou por reformas, com um novo projeto realizado por Severiano Porto, que trouxe modificações nos ambientes fechados e áreas de circulação. O sistema construtivo modular permitiu a adaptação da área construída às necessidades, com a cobertura sendo reaproveitada após o incêndio.
O novo projeto priorizou aspectos bioclimáticos, com ventilação natural e iluminação moderada, utilizando elementos arquitetônicos para melhorar o conforto ambiental e garantir flexibilidade no uso dos espaços.
A trajetória da sede da Suframa em Manaus exemplifica não apenas a resiliência dos servidores, mas também a importância histórica e cultural do edifício. Em 2016, de autoria de Bosco Saraiva enquanto deputado estadual, foi realizado o tombamento da sede da Suframa, bem como outras obras de Severiano Porto no Amazonas, por meio da Lei nº 312, em razão do valor arquitetônico e a relevância para a região.
“E hoje tenho o prazer de trabalhar debaixo dessa belíssima obra que é a simbiose entre a floresta e a arquitetura moderna”, finalizou Saraiva.
Por Layana Rios
Fotos: Arquivo e Divulgação/Suframa