O mercado imobiliário da Flórida tem sido objeto de intensa atenção recentemente e despertado preocupação com a possibilidade de uma bolha semelhante àquela que desencadeou a crise financeira de 2007. No entanto, a situação atual pode ser mais complexa.
Em primeiro lugar, é importante notar que o aumento dos preços imobiliários da Flórida não deve ser visto como uma “bolha” nos mesmos moldes do passado. Naquela época, isso foi alimentado por uma crise no setor bancário, uma dinâmica significativamente diferente da qual estamos testemunhando.
Os preços dos imóveis aumentaram cerca de 10% em relação aos valores mais altos no pico em 2007. Esse aumento é atribuído a diversos fatores, incluindo a grande migração para Miami, especialmente durante a pandemia de COVID-19. No entanto, nos últimos 18 meses, os preços têm se estabilizado e até mesmo apresentado leve decrescimento. Parte disso é resultado da escassez de moradias disponíveis.
Entretanto, o preço médio de venda é uma métrica fundamental para avaliar a saúde do mercado imobiliário. Atualmente, os valores na região sul da Flórida, por exemplo, são: Miami-Dade: US$ 1.034.110 (pequena queda em relação a junho de 2022); Broward: US$ 823.005 (estável em comparação a 2022); e Palm Beach: US$ 1.066.235 (redução de 9,9% em relação ao ano anterior).
Por outro lado, o aumento das taxas de juros teve um impacto notável na compra de novos imóveis. Muitos hesitam em vender suas casas atuais, pois as altas taxas de juros tornam a compra de uma propriedade de valor algo desafiador. Isso não se aplica apenas ao mercado de luxo, mas também àqueles que adquiriram residências primárias há alguns anos e testemunharam uma valorização significativa. A venda dessas casas atuais significaria, em muitos casos, mudar-se para uma residência menor ou em uma localização menos desejável.
Em resumo, embora existam desafios, a situação atual não se assemelha às condições de 2007. A dinâmica por trás dos preços imobiliários é complexa e influenciada por inúmeras variáveis, entre essas, como já mencionado, a migração para a região e as taxas de juros. Portanto, a situação merece uma análise cuidadosa antes de tirar conclusões precipitadas sobre essa “bolha”.
Deste modo, mesmo com as preocupações quanto a uma possível desaceleração do mercado em 2023, é provável que estejamos caminhando para uma estabilidade. A base crescente de compradores, a baixa oferta e condições econômicas favoráveis na Flórida são pontos positivos. Talvez o setor veja uma redução na atividade de vendas, mas não uma quebra. Propriedades de alto padrão ainda atraem compradores e a oferta restrita mantém a competição. À vista disso, a tendência é um cenário mais equilibrado.
*Por Daniel Ickowicz