Segundo as projeções mais recentes, 30% da população adulta do Brasil será obesa até 2030. E por que tanta preocupação com esse dado que cresce aos galopes? Porque a obesidade é um importante combustível para doenças como diabetes tipo 2, hipertensão, acidentes vasculares, bem como vários tipos de câncer.
Além disso, durante a pandemia, foi possível perceber que as complicações da COVID-19 eram mais frequentes em pacientes obesos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a obesidade como uma doença crônica, presente na Classificação Internacional de Doenças, sob o código “CID E66”.
Se o consumo de calorias é excessivo, ultrapassando o valor necessário para que o organismo realize a sua manutenção, a obesidade vai aparecer em algum momento. Diante dos custos médicos e econômicos associados à obesidade, o controle do peso não é uma questão de luxo ou padrão de beleza, mas sim fundamental para oferecermos melhor qualidade de vida para toda a sociedade, independentemente da idade, gênero ou classe social.
Se por um lado a obesidade precisa ser evitada, do outro é possível ver as mais diversas estratégias para a perda de peso. Algumas delas, divulgadas por celebridades e influencers digitais, tem encantado muitos como se fossem as mais seguras e adequadas para qualquer pessoa que queira retornar ao peso ideal. No entanto, é preciso avaliar os benefícios e riscos.
Uma substância que tem chamado a atenção é a semaglutida, comercializada como “Ozempic”. Em 2018, chegou no Brasil para o tratamento de pacientes diabéticos. Como um dos seus efeitos adversos é a perda de peso, passou a ser explorada via “offlabel” para esse fim, gerando a falta do produto para quem mais precisa, que são os pacientes diabéticos. Entretanto, cabe uma reflexão sobre os riscos oferecidos pela semaglutida.
De fato, os benefícios da semaglutida não podem ser negados. Estudos demonstraram que essa substância pode ajudar a reduzir o apetite, controlar os níveis de açúcar no sangue e, consequentemente, levar à perda de peso.
No entanto, como uma caixa de morangos bem suculentos ali também pode esconder realidades menos agradáveis (e que as celebridades não te contam). Entre os morangos mais vermelhos podem estar alguns verdes, ou até estragados. No contexto da semaglutida, esses “verdes” representam os riscos e complicações que também estão associados ao seu uso.
Estudos e relatos clínicos têm levantado preocupações sobre efeitos adversos da semaglutida, que vão de dores de cabeça, náuseas, vômitos, constipação, mau hálito e cansaço, até complicações mais sérias, como pancreatite, cálculos na vesícula biliar e até mesmo na tireoide.
Recentemente, tem sido investigada até sua relação com alterações importantes de humor e depressão. E só lembrando de um detalhe: por ter um tempo de ação prolongado, esses efeitos podem se estender por semanas mesmo após a suspensão do tratamento. Seu tempo de meia-vida, isto é, o intervalo de tempo no qual sua concentração plasmática se reduz à metade, é de sete dias.
Portanto, ao contrário do que muitos falam que seu tempo de ação é de sete dias, enfatizo que ela leva uma semana para atingir a sua metade na corrente sanguínea, e portanto, deixa seu rastro de efeito ainda por muitas semanas.
Coloque isso na sua cabeça: semaglutida não é um cosmético. Consultar um profissional de saúde qualificado é essencial. Um médico pode avaliar sua condição de saúde e reais necessidades para determinar se essa substância é uma opção segura e adequada. Os farmacêuticos também podem ser sua fonte segura de informação quanto a este produto tão requisitado. Os nutricionistas também são fundamentais para garantir uma dieta ideal que auxilie na perda de peso.
Nessa busca por perda de peso, não brinque com a saúde. Lembre-se da minha analogia das caixas de morangos: talvez a única de não encontrar os verdes ou podres, está na prática regular de exercícios físicos, boas noites de sono e uma dieta adequada. Assim, a conta fecha.
*Por Thiago de Melo Costa Pereira