O povo Deni do rio Xeruã não apenas conseguiu realizar a sua pesca anual de pirarucu, como alcançou a maior cota em seis anos de manejo sustentável: 150 pirarucus, totalizando cerca de 9,5 toneladas de pescado. Os rios Juruá e Xeruã já estavam bastante secos em meados de setembro, quando aconteceu a pesca, o que colocou muitos desafios para a realização da atividade.
Superando as adversidades, 170 indígenas do povo Deni, organizados nas funções de pescadores, transportadores, limpadores, monitores e cozinheiras, realizaram a pesca em cinco dias ininterruptos de trabalho intenso. “As cinco aldeias Deni do rio Xeruã estão bem organizadas para participar do manejo de pirarucu. Nós pescamos bem e as cozinheiras trabalharam bem”, relata, orgulhoso, Kavarivi Minu Deni, coordenador do manejo na Terra Indígena Deni em 2023.
A pesca ocorreu em cinco lagos da terra indígena. Em razão da estiagem, os acessos a alguns desses lagos se davam apenas por terra, pois os canais que os conectam com o rio secaram. Retirar os peixes dos lagos foi um trabalho ainda mais difícil, pois foi necessário carregar os peixes por longas distâncias.
Outro desafio foi o de enfrentar as corredeiras formadas ao longo do rio Xeruã. Os pilotos das pequenas embarcações precisaram ficar ainda mais atentos para encontrar o melhor caminho entre troncos e árvores inteiras que foram carregadas pela força das águas. “Nós lutamos pelo nosso manejo e para que os jovens Deni continuem o trabalho no futuro. Daqui um ano vamos pescar novamente, um trabalho coletivo, de mutirão”, afirma Kavarivi.
Além de uma importante ferramenta de conservação da biodiversidade e de gestão territorial, os Deni também avaliam o manejo como uma atividade já incorporada na cultura do povo. “Gostamos muito de pescar. Esse é o nosso futuro, a nossa vida. Queremos continuar com esse trabalho”, conta o coordenador do manejo.