Desde sua concepção, o objetivo da Copa da Floresta 2023 foi dar vez e voz aos povos tradicionais, por meio do futebol. Tal missão ganhou contornos desafiadores, tendo em vista as particularidades da região amazônica. Entretanto, durante quase três meses de disputa, a Federação Amazonense de Futebol (FAF) superou todos os desafios para que o homem da floresta pudesse mostrar sua força e seu talento, dentro e fora de campo.
Orgulhoso do trabalho desempenhado por sua equipe, o presidente da FAF, Ednailson Rozenha destaca que a diretoria da entidade sempre esteve ciente e preparada em relação a tudo que precisaria enfrentar para realizar a maior competição de futebol não profissional da Região Norte do Brasil.
“Antes mesmo do início da nossa gestão, já tínhamos em mente que nosso objetivo era levar luz, por meio do futebol, ao Amazonas mais profundo. Mostrar para o mundo não só os talentos esportivos, mas as riquezas do nosso povo. E tínhamos total consciência de que essa missão não seria fácil. Por isso, com a chancela da CBF e um trabalho árduo de toda equipe da Federação, conseguimos realizar a Copa da Floresta em todas as sedes planejadas. Com dificuldades sim, mas com muito empenho de quem ama esse esporte e nosso estado”, declarou o mandatário.
Horas e mais horas de viagens
Ao longo da realização da Copa da Floresta, a FAF esteve presente em seis regiões do Amazonas. Levando toda estrutura necessária para a disputa da competição, a entidade percorreu mais de 5.700 quilômetros, entre deslocamentos terrestres, aéreos e, principalmente, fluviais. A nível de comparação, essa distância é maior que a de ida e volta entre Manaus e São Paulo (SP).
A competição teve início em Presidente Figueiredo (Região do Médio Amazonas), passou por Alvarães (Médio Solimões), São Paulo de Olivença (Alto Solimões, Humaitá (Calha do Rio Madeira), Maués (Baixo Amazonas), Manaquiri (Baixo Solimões) e teve suas semifinais disputadas tanto em Manaus, quanto em Manacapuru (região metropolitana da capital).
Um dos responsáveis pela logística de estruturas e equipamentos da Federação, o assessor de gerenciamento de futebol amador, Rainey Pinto, passou mais de 200 horas viajando de barco, quando realizou o transporte de equipamentos de Manaus até São Paulo de Olivença (a 1.008 quilômetros da capital). Mesmo acostumado a esse tipo de viagem, já que é natural de Benjamin Constant, Rainey, conta como é cansativo passar tanto tempo dentro de uma embarcação, mas destaca a satisfação de poder levar o esporte ao Brasil mais profundo, que muitas vezes, é esquecido.
“Sou da terra e já viajei muito por todo Amazonas, me desloquei e conheço a maioria dos nossos municípios. Já tinha noção do quanto essa viagem seria complicada, pelo tempo e também pela responsabilidade de levar os materiais necessários para a realização da partida no padrão alinhado pela Federação. A viagem foi muito cansativa, não é fácil ficar tanto tempo dentro de um barco, mas no fim das contas, depois que a missão foi cumprida, fiquei muito orgulhoso de ter contribuído para valorizar os talentos da nossa terra. Foi muito gratificante”, relatou.
A seca
Maior estado do país em dimensões territoriais, o Amazonas possuiu a maior bacia hidrográfica do planeta e tem o transporte fluvial como principal meio de transporte entre um município e outro. Como relatado, dependendo da distância, a viagem pode levar até uma semana. Não bastasse isso, a histórica seca que atinge a região amazônica este ano, dificultou ainda mais os deslocamentos por meio dos rios.
Durante o período de descida dos rios, as embarcações estão sujeitas a ataques de piratas, podem ainda ficar encalhadas ou sofrer acidentes, por conta da presença de sacos de areia e troncos, principalmente na bacia do Rio Madeira e do Solimões. Além disso, com os rios secos, embarcações maiores não conseguem atracar nos portos dos municípios, o que aumenta ainda mais o tempo de deslocamento, como explica o presidente do Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial (Sindarma), Galdino Alencar Júnior.
“Nestes meses, o tempo de viagem quase dobra porque alguns trechos, a navegação é suspensa de noite, fica mais lenta durante o dia, e as embarcações se tornam um alvo fácil para ação dos criminosos. O deslocamento dos passageiros até a sede dos municípios torna-se mais difícil, porque pessoas idosas e crianças tem que andar muito no leito seco para chegar no destino, uma vez que não há portos preparados para atracação dos recreios”, explicou.
Inclusive, durante a realização do Grupo 6 da Copa da Floresta, em Manaquiri, a seleção de Anori enfrentou desafios causados não só pela vazante histórica, mas também pelas fumaças, que prejudicarem a visibilidade e fez com que a embarcação em que a equipe viajava retornasse ao porto de Manacapuru. Da Terra da Ciranda, os anorienses seguiram no mesmo barco que a seleção de Novo Airão para o tão aguardado duelo, no município do Baixo Amazonas.
A vazante prolongou o caminho, a chuva de verão assustou e a fumaça atrasou a chegada, mas apesar dos obstáculos, ambas as seleções conseguiram chegar ao destino, unidas e ainda mais motivadas. Tal episódio, mostrou mais uma vez, como a Copa da Floresta tem sido palco de um espetáculo de demonstração de força e garra de caboclos que sonham e acreditam juntos no futebol local.