Carlos Alberto Rodrigues Junior, gerente de câmbio e líder mesa de operações na WIT Exchange – Crédito: Divulgação
1. Quais foram os principais fatores que influenciaram a taxa de câmbio no mês de outubro?
R: Tanto fatores internos quanto externos seguiram influenciando a taxa de câmbio por aqui neste mês de outubro. Pelo lado doméstico, o aumento dos riscos fiscais atrelado a uma expectativa de mais cortes na taxa básica de juros, iniciada em agosto, ajudaram na desvalorização do real e fuga de investimentos estrangeiros com um cenário menos atrativo. Do outro lado, o medo de uma recessão econômica global ainda preocupa o mercado internacional e países como EUA e outros na Europa, seguem apertando suas taxas de juros para combater a inflação, o que também ajuda na desvalorização do real frente a estas moedas consideradas mais seguras.
2. Como a taxa de câmbio do Brasil em relação a outras moedas se comportou em outubro
R: Com esse cenário externo de preocupação com uma recessão global, inflação e juros mais altos nos países considerados de moeda mais forte e segura, existe uma atratividade maior para os investidores migrarem seus investimentos para estes países, principalmente em produtos de renda fixa, caso das treasuries nos EUA. Desta forma, temos uma fuga de investimentos de países emergentes como o Brasil, trazendo maior pressão na taxa de câmbio frente a outras moedas.
3. Houve volatilidade significativa nas taxas de câmbio durante o mês de outubro?
R: Tivemos uma grande volatilidade nas taxas de câmbio em outubro, principalmente pelos pontos já expostos anteriormente, como um cenário de taxas de juros mais atrativas nos EUA e o aumento do risco fiscal e queda na taxa de juros no Brasil. Dentro do mês, o dólar americano chegou a bater R$ 5,22 na sua cotação máxima frente ao real, uma variação de mais de 5%, e cotação essa que não víamos desde março deste ano. O euro seguiu o mesmo movimento e também ultrapassou os 5% de variação, chegando, na sua máxima dentro do mês, à cotação de R$ 5,46.
4. Qual foi a tendência geral das taxas de câmbio no mês de outubro: valorização ou desvalorização da moeda local?
R: No mês de outubro tivemos uma desvalorização do real frente aos seus pares, muito puxado pelo receio do cumprimento das metas fiscais no Brasil e possibilidade de taxas de juros mais atrativas nos exterior, principalmente nos EUA.
5. Além do conflito entre Israel e Hamas, quais foram os impactos do cenário político e econômico global nas taxas de câmbio em outubro?
R: A guerra entre Israel e Hamas trouxe ainda mais incertezas no cenário econômico global, que já vinha sendo afetado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que já dura a mais de 1 ano e 8 meses, e também os desafios de uma recuperação econômica ainda decorrentes da pandemia. Desta forma, os países tendem a adotar políticas mais restritivas para combater a inflação, com aperto monetário e controle da atividade econômica, gerando um desafio ainda maior para um cenário de crescimento no mundo.
6. Quais são as expectativas para o câmbio em novembro e até o final do ano?
R: Com as incertezas tanto no cenário externo, quanto interno, o câmbio ainda deve trazer certa volatilidade até o final do ano. A projeção do Banco Central, divulgada ontem (30) no Relatório Focus, é de dólar em 5,00 até o final do ano. Devemos estar atentos a 2 principais fatores que podem ditar o ritmo dessa volatilidade no câmbio: Decisão do FED (Federal Reserve) nos EUA quanto ao aperto monetário nos próximos meses, levando em conta também a projeção de novos cortes de juros no Brasil e, o risco fiscal que entrou no holofote do mercado após as recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que dificilmente o governo cumprirá a meta de zerar o déficit primário em 2024, meta essa anunciada no início de seu governo pelo Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Desta forma, nos meses de novembro e dezembro devemos ter bastante oscilação nas taxas de câmbio, mas com uma expectativa de projeção do dólar bem próximo ao divulgado pelo Banco Central, na casa dos R$ 5,00.