A ansiedade e a depressão infantil estão se tornando uma preocupação crescente na sociedade contemporânea. Embora tradicionalmente associadas a adultos, esses problemas de saúde mental também afetam as crianças, e a falta de atenção e o excesso de mimos podem estar desempenhando um papel crucial nesse cenário. Um levantamento do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) indicou que 36% dos jovens brasileiros desenvolveram quadros de ansiedade e depressão durante a fase mais aguda da pandemia da Covid-19.
Além do número elevado, os pesquisadores temem que, mesmo com o retorno das atividades com aglomeração, os quadros dos pacientes estudados permaneçam o mesmo. E o pior: podem ser permanentes.
O psicanalista Rafael Cobra destaca que “só se pode afirmar que se sabe algo se você vive aquilo que você fala.” Isso ressalta a importância dos pais estarem presentes e atentos aos sinais de desconforto emocional em seus filhos. A falta de atenção pode passar despercebida e levar ao isolamento emocional das crianças, o que pode contribuir para quadros de ansiedade e depressão. “A aceleração da vida contemporânea também desempenha um papel no aumento da ansiedade infantil. As crianças de hoje estão acostumadas à gratificação instantânea, com acesso imediato a entretenimento e informações na internet. Isso resulta em uma incapacidade de esperar e lidar com a frustração, o que pode contribuir para problemas de saúde mental”, completa.
Cobra alerta que “as pessoas confundem o mínimo com amor”. O excesso de mimos pode prejudicar o desenvolvimento das crianças, tirando delas a oportunidade de realizar tarefas por si mesmas e desenvolver habilidades de resolução de problemas. “Permitir que as crianças enfrentem desafios e responsabilidades apropriadas à sua idade é fundamental para fortalecer sua autoestima e senso de utilidade”, afirma.
Uma das principais conclusões das pesquisas recentes é que a falta de atividade e de um senso de utilidade é um dos principais fatores de risco para a depressão e a ansiedade nas crianças. A sensação de ser útil, de ter um papel a desempenhar na família e na comunidade, é essencial para o bem-estar emocional das crianças. “Os pais e cuidadores devem repensar suas abordagens, priorizando a presença, a atenção, a criação de desafios apropriados e a promoção da sensação de utilidade nas crianças. Somente com uma abordagem holística e atenta ao bem-estar emocional das crianças podemos esperar reduzir os índices de ansiedade e depressão infantil. Afinal, o que as crianças mais precisam é de amor genuíno, cuidado e apoio emocional, muito mais do que presentes materiais”, conclui Cobra.