Existe uma enorme chance de você ter, na sua casa, algum sabão em pó produzido pela Unilever em Indaiatuba. É na cidade do interior paulista que fica a maior fábrica (desse produto) da multinacional em todo o planeta.
Se esse sabão foi produzido a partir de dezembro de 2022, a boa notícia é que ele passou por um processo produtivo mais sustentável, que usa energia de biomassa de eucalipto no lugar de combustível fóssil.
A transição energética na fábrica de Indaiatuba (que produz marcas como OMO, Brilhante e Surf) integra os esforços da Unilever para zerar, até 2039, a pegada de carbono dos seus produtos, desde a aquisição de matéria-prima até o ponto de venda. O projeto vai reduzir as emissões de gases de efeito estufa dessa fábrica em 37 mil toneladas/ano – o que representa 50% das emissões da Unilever no Brasil e 5% das emissões globais.
Porém, o impacto, segundo Suelma Rosa, head de Assuntos Corporativos da Unilever para a América Latina, vai além desta meta:
“A implementação deste projeto em Indaiatuba contribui diretamente para o alcance de outras metas do negócio, como reduzir pela metade o impacto dos gases de efeito estufa de nossos produtos em todo o ciclo de vida até 2030 e zerar as emissões nas operações fabris, também até 2030”
O desenvolvimento e a implementação da transição energética em Indaiatuba levou um ano e meio, exigiu um investimento de 48 milhões de reais e foi feito em parceria com a ComBio, empresa especialista em energias renováveis, certificada pelo Sistema B e responsável por toda a operação de geração de energia.
A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA REDUZIU EM 96% AS EMISSÕES DA FÁBRICA
Para transformar eucalipto em energia, a Unilever consome, em média, 216 toneladas de cavaco (pedaços de madeira triturada) por dia, mobilizando cerca de oito caminhões cheios do material diariamente na fábrica.
A madeira certificada vem de florestas plantadas da ComBio localizadas em um raio de 150 quilômetros da fábrica, o que contribui para gerar menos impacto nas emissões da logística.
Ao chegar, essa madeira é direcionada à fornalha onde ocorre o processo de combustão, tornando-se uma fonte de energia limpa para as operações industriais.
Embora seja um projeto de grande impacto nas metas da companhia e a usina operada pela ComBio fique dentro da fábrica, não foi necessário fazer grandes mudanças na planta industrial, segundo Iluska Lopes, diretora da fábrica de Indaiatuba:
“A transição não gerou impactos na produção. Mantivemos nossos índices de produtividade durante e após a conclusão da implementação deste projeto. As alterações que tivemos na planta contemplam a instalação da fornalha de ar quente e da caldeira a vapor, além de ventiladores de alta potência para a queima do cavaco de madeira de eucalipto”
Com essas mudanças, foi possível reduzir 96% das emissões daquela unidade.
“Neste momento, a parada de manutenção da operação por biomassa ainda nos exige o mínimo de retorno ao modelo anterior e, por isso, não conseguimos afirmar termos chegado nos 100% de redução de emissões”, diz Iluska.
COMO A UNIVELER RECORREU A UMA REDE DE APOIO FORMADA POR ONGS, EMPRESAS, ESPECIALISTAS E OUTROS PLAYERS AMBIENTAIS
Para colocar este projeto em funcionamento, a Unilever envolveu diversas áreas da companhia como manufatura, saúde, segurança, sustentabilidade e negócios. Uma das preocupações era, segundo Suelma, o impacto que haveria no entorno.
Para entender essas questões, a Unilever consultou ONGs, especialistas em questões ambientais, plataformas como o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e Pacto Global – interagindo com outras empresas que passam pelos mesmo desafios de transição energética –, além de especialistas em silvicultura (estudo do cultivo de florestas), principalmente na área de papel e celulose, em que esse campo já está consolidado no Brasil.
“Uma parte importante do nosso processo de aprendizagem para implementação desse projeto de Indaiatuba foi essa rede de empresas que já tinham transitado energeticamente ou setores que usavam as mesmas bases de biomassa para outras finalidades, como é o setor de papel e celulose”, diz Suelma. “Isso para que tivéssemos certeza de que ao transitar para uma economia de baixo carbono não estaríamos impactando em biodiversidade, em sistemas hídricos – que também estão entre as nossas metas.”
O OBJETIVO AGORA É IMPLEMENTAR PROJETOS SEMELHANTES EM TODAS AS FÁBRICAS E INSPIRAR A CONCORRÊNCIA A FAZER O MESMO
Agora, com a implementação desse projeto na maior fábrica da Unilever no Brasil, a companhia espera ser inspiração para outros players do mercado. Segundo Suelma:
“Isso tem uma capacidade de transformação para estimular os nossos concorrentes a correr atrás. Para mim, esse é maior o impacto porque faz com que todo o nosso entorno se movimente para alcançar os mesmos objetivos. E nesse tema de economia de baixo carbono, eu só quero que todo mundo venha”
O projeto de Indaiatuba é o terceiro projeto de transição energética da Unilever no Brasil. O primeiro foi a fábrica de Valinhos (SP), que utiliza cavaco de madeira reciclada, seguida por Pouso Alegre (MG), que também utiliza biomassa de eucalipto certificado.
A meta da companhia, segundo Suelma, é implementar projetos de transição energética em todas as 16 fábricas do Brasil:
“Já temos projetos em curso em todas as fábricas. A expectativa é que no máximo em dois anos a gente consiga avançar para entregar resultados, porque precisamos canalizar os nossos esforços para o maior desafio, que é o escopo 3. Desse ponto de vista, a transição nas operações industriais foi nossa prioridade”
O escopo 3, na linguagem do universo ESG, refere-se às emissões da cadeia de valor, pela qual a empresa é indiretamente responsável. É considerado o maior desafio em termos de redução de emissões pela grande maioria das empresas, já que envolve terceiros.
No caso da Unilever, além dos fornecedores, a questão logística é uma preocupação, já que a companhia produz algumas das marcas mais consumidas e presentes em todas as regiões do país, como Kibon, Maizena, Hellmann’s e Seda.
“Estamos estamos fazendo o insetting, que é essa transição tecnológica para redução de emissões nas nossas operações fabris do mundo. E estamos justamente dando o foco em energia”, diz Suelma. “A minha expectativa é que a gente possa tirar da frente aqueles projetos que já estamos implementando para enfatizar essa cadeia de distribuição, o que nos levará a alcançar a meta de 2039.”
Por Maisa Infante / Projeto Draft