SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA . Pedido de socorro, revolta, indignação e cartas de repúdio contra as explorações e tutela da Funai e de duas ONGs: Instituto Socioambiental (ISA) e seu braço, Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (FOIRN), marcaram depoimentos de lideranças de várias etnias durante a sessão da CPI das ONGs realizada hoje na aldeia Pari Cachoeira, na região de São Gabriel da Cachoeira. Alguns líderes informaram ter viajado 14 dias de canoa rabeta para denunciar á CPI que veem lutando há 30 anos por autonomia e são isolados, roubados e tutelados para continuar na miséria pelo ISA, Funai e FOIRN. Nos documentos entregues á CPI eles pedem a saída definitiva do ISA e FOIRN da região. Participaram da diligência os senadores Plínio Valério (Presidente), Márcio Bittar (relator) e Francisco Rodrigues (membro).
Os indígenas fizeram denúncias graves que vão ser investigadas pela CPI, como recursos recebidos pelo ISA para um projeto de gestão indígena, mas segundo os depoentes, ninguém sabe como os R$12 milhões foram gastos, já que apenas 50 indígenas ligados ás duas ONGs foram consultados e nenhum projeto foi realizado . Silvio Baniwa disse desconhecer, por exemplo, o que a Associação Indígena do Alto Içana fez com R$150 mil recebidos para a construção de galpão para produção de artesanato. O que sabe é que um balaio feito nas comunidades vale uma miséria nas mãos de ONGs que o revende por um preço exorbitante fora dali. Sílvio e parentes viajaram 6 dias até Pari Cachoeira .
Em carta de repúdio lida por uma liderança Baré, os indígenas dizem que se sentem presos em suas terras, já que qualquer projeto para geração de renda ou exploração sustentável, tem que passar por consulta prévia no ISA. Na carta a sigla do Instituto Socioambiental foi rebatizada de ÍNDIO SENDO ASSALTADO (ISA). O professor indígena Tule, da etnia Coripaco/Baniwa denunciou que o ISA ganha muito dinheiro com a venda da pimenta com a grife Baniwa. A ONG exporta a pimenta Baniwa produzida por índios para fábrica de produção de cerveja na Irlanda.
“Ganham um bom dinheiro em cima do nosso conhecimento , quantos milhões levaram? para nós? Há 30 anos ouvimos falar na nossa autonomia e nada. Só pregam assembleias para capacitação de líderes, quantos líderes temos formado? Do nosso lado não temos nada. Já roubaram nosso dinheiro e temos que trabalhar sozinhos. O que mais dói é que quando apresentamos um projeto tem que passar por eles (ISA). Quando o projeto está pronto, quem aproveitou foi o ISA levando nossos parceiros para pegar dinheiro. Tudo bacana na vida deles, carro, casa, para nós nada”, relatou o professor Tule Coripaco.
Deilton Corupaco disse que seus parentes fizeram uma viagem muito longa para encontrar os senadores da CPI das ONGs e revelar a realidade de suas comunidades.
“Venho para pedir socorro para meu povo Corupaco. A gente mora quase em frente a cidade. As sedes do ISA e da FOIRN ficam em frente a praia, perto da gente. O ISA e a FOIRN nunca chegaram lá para nos ajudar. Quem nos dá sustentação é o batalhão. Eu queria trazer aqui a única coisa que o ISA e a FOIRN deu para nossa comunidade: uma plaquinha“, contou o indígena Corupaco.
\”Nós recebemos da FOIRN uma lamparina para cinco famílias. E o dinheiro, para onde foi? “, questionou o indígena Baniwa Jesus dos Santos.
Apesar de todas as dificuldades para levar a CPI para o Alto Rio Negro, o senador Plínio Valério encerrou a diligência satisfeito por ver confirmadas todas as denúncias que já chegaram á CPI, agora contada pelos próprios indígenas. Os três senadores se comprometeram a destinar emendas parlamentares para atender a demandas de melhoria da vida das comunidades do Alto Rio Negro.
“Só de ouvir os depoimentos dos indígenas na terra deles já valeu a pena a vinda da CPI. É muito empolgante saber que todos eles rejeitam a tutela das ONGs sanguessugas , como sempre o ISA e a FOIRN. Isso já vale nossa viagem até aqui “, disse Plínio.