Iniciativa levará para a maior feira de arte do país o trabalho de seis fotógrafos, com diferentes olhares e perspectivas sobre o território
Entre os dias 24 a 28 deste mês, a iniciativa Uma Concertação pela Amazônia participa da nova feira da SP–Arte, Rotas Brasileiras, um dos mais importantes eventos do mercado de arte do país. Com curadoria do pesquisador, fotógrafo e jornalista Eder Chiodetto, a Concertação convidou seis fotógrafos para preencher um espaço de 100m² com diferentes visões sobre a Amazônia. O estande da iniciativa terá trabalhos de Paula Sampaio, Marcela Bonfim, Rogério Assis, Edu Simões, João Farkas e Lalo de Almeida (ver abaixo minibio dos artistas).
Uma Concertação pela Amazônia é uma rede com mais de 500 lideranças — entre representantes dos setores público e privado, academia, sociedade civil e imprensa — criada em 2020 como um espaço democrático de discussões na busca de soluções para o desenvolvimento sustentável da região. Com a participação na SP–Arte, a iniciativa espera aproximar as várias Amazônias do restante do país. “Nosso objetivo é mostrar a multiplicidade de representações da região e valorizar o trabalho de artistas locais que vêm nos ajudando a atualizar o imaginário sobre a Amazônia”, afirma Fernanda Rennó, facilitadora dos Grupos de Trabalho de Cultura e de Educação na Concertação.
Segundo Fernanda Feitosa, fundadora e diretora da SP–Arte, a iniciativa vai ao encontro do desejo de valorizar a produção artística e novos enfoques sobre a Amazônia. “O olhar desses fotógrafos e fotógrafas se soma a nomes consagrados da fotografia como Pierre Verger, Sebastião Salgado ou Mario Cravo Neto, formando uma costura em que se entrelaçam diferentes visões sobre o Brasil”.
Para a Concertação, a cultura — entendida de uma maneira ampla como modos de vida, modos de fazer e de representar — é um componente essencial na construção de ações de desenvolvimento sustentável. “Para se aproximar de um território, além da racionalidade e dos aspectos técnicos, é preciso sensibilidade”, explica Fernanda. “A Amazônia vai além de desmatamento e não-desmatamento. O que nos ajuda a (re)conhecer tudo que existe entre esses dois pontos, escapando dessa visão polarizada, é justamente essa teia sociocultural. Para a Concertação, não é possível falar de sustentabilidade sem se apoiar na arte e na cultura”.
Em uma rede formada por integrantes das mais diversas áreas em busca de convergência, e não de consenso, a arte também facilita os diálogos. “A arte é uma potência, todos os encontros e ações da iniciativa são marcados pela presença de artes e artistas locais”, reforça Fernanda.
A escolha dos artistas envolveu não só o curador Eder Chiodetto, mas um colegiado formado por fotógrafos e pelas equipes da SP–Arte e da Concertação. “Ao final, com a definição das obras de cada um, criou-se uma constelação que tem um forte viés documental sobre esse momento distópico da Amazônia”, afirma Eder. “A fotografia tem a seu favor o fato de ser um testemunho contundente sobre a forma como a floresta e seus povos estão sendo atacados”, complementa.
Segundo Eder, o espaço dedicado à Amazônia é exemplo de um movimento que tem sido empreendido pela SP–Arte, e dessa vez potencializado pela Concertação, de criar exposições que amplificam seu poder discursivo, aproveitando para injetar uma massa reflexiva num evento que, em princípio, seria consagrado apenas ao mercado de arte. “Acho louvável essa posição, pois nunca podemos pensar a circulação das obras de arte, e o mercado que a sustém, sem colocar em prática o melhor que a arte nos propõe que é a possibilidade de enxergar as realidades por pontos de vistas mais amplos, políticos, oníricos, poéticos, e assim por diante.”
Nascido em Belém, o fotógrafo Rogério Assis, presente na exposição com retratos contrastantes de um mesmo território — beleza natural x destruição —, reforça a importância do diálogo entre a causa socioambiental e as artes. “É muito significativo ter um espaço para discutirmos, através da fotografia, a necessidade da conscientização para a preservação socioambiental com um público como o da SP–Arte”.
Baseada em Rondônia há 11 anos, a fotógrafa Marcela Bonfim espera com sua obra abrir diversos caminhos para o território. “Estamos falando de um território múltiplo. A expectativa é que a gente consiga, mais do que afirmar algo sobre a Amazônia, questionar essa multiplicidade. O próprio território consegue dialogar e tem a legitimidade e a capacidade de falar por si, nós [artistas] vamos desenvolvendo formas de criar mais fluidez nessa comunicação”.
Rotas Brasileiras acontece na ARCA, galpão industrial na Vila Leopoldina, em São Paulo. Com 70 expositores, a feira busca estreitar laços entre agentes das cinco regiões do país, valorizando a produção fotográfica e artística de todo o território nacional.
*Sobre A Uma Concertação pela Amazônia*
É uma rede com mais de 500 líderes criada em 2020 como um espaço democrático de debate para que diversas iniciativas que atuam em prol da região pudessem se encontrar, dialogar e ampliar o impacto de suas ações. Apartidária e plural, a iniciativa reúne representantes dos setores público e privado, academia, sociedade civil e imprensa, que se juntaram para buscar propostas e projetos para a floresta e as pessoas que vivem na região.
Para a Concertação, a Amazônia é uma trajetória de desenvolvimento para o país e tem papel determinante no enfrentamento da emergência climática e no futuro do planeta. Este ano a iniciativa tem se dedicado à construção de propostas factíveis de desenvolvimento para a região, que possam ser implementadas nos primeiros 100 dias pelo executivo federal, subnacional e congresso nacional.