O “Cabaré Chinelo”, do Ateliê 23, embarca para a temporada em São Paulo nesta segunda-feira (24/07), com a tradição de esgotar ingressos em todas as sessões. O espetáculo tem agenda confirmada na capital paulista no dia 25 de julho, no Sesc Pinheiros, e no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, nos dias 27 e 28 deste mês, todos com ingressos esgotados.
A produção inspirada na pesquisa do historiador Narciso Freitas tem público cativo ao longo de 42 apresentações, divididas em oito temporadas. Gustavo Fernandes assistiu o “Cabaré Chinelo” 13 vezes.
“Não tem como assistir só uma vez. Porque é um misto de emoções, você não sabe se chora, se grita, se xinga, se canta e fica paralisado o espetáculo todo”, pontua o estudante. “Quando eu assisti pela sexta vez, eu consegui, de fato, compreender tudo aquilo”.
Gustavo destaca ainda as músicas, danças e performances, que, segundo ele, são um espetáculo à parte. O estudante conta que as apresentações em que ficou mais impactado foram no Teatro Amazonas e no Casarão da Inovação Cassina, prédio histórico que sediou o Hotel Cassina durante a belle époque e o Cabaré Chinelo no período de decadência da borracha.
“Toda vez que eu consigo ir, eu vou, porque é a história de mulheres que, durante muito tempo, foram caladas e, agora, pelo Ateliê 23 e pelo Narciso Freitas, elas são ouvidas”, comenta Gustavo. “O ‘Cabaré Chinelo’ é um acontecimento para a cultura amazonense e muito especial para mim”.
A empreendedora Maysa Oliveira, que já foi em cinco apresentações, explica que é interessante assistir de lugares diferentes do teatro, para que o público possa viver a experiência imersiva e observar todas as cenas já que o espetáculo acontece em todos os ambientes.
“Todas as vezes que eu fui, eu vi uma coisa diferente e igualmente emocionante. Eu saio de lá sorrindo e chorando, com o nó na garganta e muita coisa a falar. É a obra mais inacreditável que eu já presenciei, indescritível, tão atual, apesar de falar de histórias de 100 anos atrás, mas trata de um tema de hoje, como a violência contra a mulher”, define Maysa. “Você sai transformado, uma pessoa com mais empatia, todo mundo precisa assistir e eu sempre levo o máximo de pessoas que posso a cada apresentação”.
História – O produtor cultural Haisan Hossary ressalta que a carga cultural e histórica da peça traz para a realidade uma reflexão sobre o passado, especialmente como Manaus se desenvolveu e mostrar o que teve por trás da construção da Paris dos Trópicos.
“Como amazonense, é muito importante saber um pouco sobre isso e entender que existe um lado tenebroso que não devemos aceitar, um lado de coisas que são pesadas mesmo que sejam datadas daquela época. São mulheres que sofreram tanto nesse período da belle époque, onde foram usadas, violadas e diversas vezes tiradas das suas famílias”, afirma Haisan. “O Brasil todo precisa conhecer essa história. Fui assistir três vezes e a peça me pega muito, todas as vezes que eu vou, me emociono muito. É um sentimento diferente, vamos nos familiarizando com as personagens”.
A cantora Luli Braga, radicada em São Paulo, já garantiu o ingresso para a apresentação no Sesc Pinheiros, no entanto, ela assistiu ao espetáculo em Manaus, nos meses de dezembro e janeiro. A artista aponta que estar na capital paulista amplia o debate sobre o enredo para nível nacional.
“É uma peça que remexe no nosso imaginário do que era a Manaus de algumas décadas atrás, crescemos pensando nas belezas e no requinte que foi viver na belle époque e ela também mexe no fundo do baú para trazer as histórias que foram apagadas, que não foram contadas”, define a artista. “Para mim, como manauara, essa é a relevância, no nosso inconsciente e no nosso contexto histórico, uma perspectiva sobre a vida de pessoas que não teriam sua história contada no palco”.
Enredo – Numa imersão entre 1900 e 1920, o espetáculo de teatro musicado do Ateliê 23 conta a história de Mulata, Balbina, Antonieta, Soulanger, Felícia, Laura, Joana, Luiza, Enedina, Sarah, Maria e Gaivota. O projeto em parceria com a companhia argentina García Sathicq traz, 100 anos depois, uma denúncia sobre mulheres vítimas de um grande esquema de tráfico internacional e sexual no início do século XX, na capital do Amazonas.
No elenco estão Vivian Oliveira, Sarah Margarido, Andira Angeli, Julia Kahane, Thayná Liartes, Fernanda Seixas, Daphne Pompeu, Daniely Peinado, Vanja Poty, Ana Oliveira, Bruna Pollari, Allícia Castro, Taciano Soares e Eric Lima, além dos músicos Yago Reis, Guilherme Bonates e Stivisson Menezes.
O “Cabaré Chinelo” tem apoio do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), além da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e Fondo de Ayudas para las Artes Escénicas Iberoamericanas – IBERESCENA.
FOTOS: Hamyle Nobre