10 de julho de 1884, quatro anos antes da princesa Isabel sancionar a Lei Áurea, a província do Amazonas declarava a abolição da escravatura.
O documento foi assinado pelo então governador Theodoreto Souto, mas é reflexo da luta de várias comunidades negras e abolicionistas do norte brasileiro. Entre elas, as comunidades quilombolas localizadas às margens do Rio Andirá, no baixo Amazonas.
Maria Amélia Castro faz parte de uma dessas comunidades. Ela é bisneta do fundador, Benedito Rodrigues da Costa, que veio da Angola para o Brasil na condição de escravo, traficado por portugueses e espanhóis. Benedito teria fugido a nado pelos rios do Amazonas.
“Meu bisavô que meu avô contava, que meu pai contou, o meu avô também ainda tive a oportunidade em 69, tive a oportunidade de dizer pra gente que o pai dele tinha vindo da África junto com os portugueses e os espanhóis. Os espanhóis ficaram na entrada em frente à Barreirinha e ele, como negro Benedito, subiu o rio e ficou no rio Andirá onde ele casou com Jerônima e formou família.”
Maria Amélia completa 58 anos neste 13 de maio e, apesar da abolição da escravatura no Amazonas ser anterior a essa data, ela considera o marco importante para a luta negra como um todo.
“Hoje é diferente. A gente não tem mais vergonha de dizer: ‘eu sou negra’. Eu vim de uma negritude, de uma geração diferente, de uma geração de seres humanos já reconhecidos como pessoas.”
As cinco comunidades quilombolas do Rio Andirá possuem escolas onde é obrigatório o ensino da história negra no Brasil. Adriane Nogueira, de 20 anos, estudou em uma delas e agora tenta passar no vestibular para medicina. Neta de Maria Amélia e descendente de Benedito, ela quer levar adiante o conhecimento que recebeu dos mais velhos.
“Eu acho muito bonito o que a minha vó faz, corre atrás. Há muitas coisas que acontecem em volta disso, pessoas que não gostam de ver o reconhecimento sobre isso.”