As férias escolares são sinônimo de diversão, descanso e flexibilização da rotina para as crianças. Muitos pais utilizam os recursos tecnológicos para entreter os filhos nessa época, ainda mais por continuarem trabalhando normalmente, mesmo com os pequenos em casa. A tecnologia pode ser uma aliada nesse período, desde que usada com consciência e responsabilidade, tanto pelos adultos como pelas crianças.
Um estudo da Universidade Federal do Ceará, em parceria com a universidade norte-americana Harvard, destacou que 69% das crianças de até 3 anos foram expostas a algum tipo de tela de forma excessiva e 80% das que tem 4 e 5 anos usam telas em tempo acima do recomendado pelas Organizações. “É importante que pais e cuidadores estabeleçam horários, locais e regras para o uso de eletrônicos dentro de casa e que elas valham para toda a família”, orienta Juliana Potter, psicóloga e co-autora do livro Crianças Bem Conectadas (Editora Maquinaria). “É a partir dessa relação que meninos e meninas vão construir os valores em que vão ancorar os comportamentos futuros”, completa.
Com crianças em casa é necessário manter os cuidados durante o uso da tecnologia e das mídias digitais. “Mesmo com a flexibilidade da rotina, segue sendo fundamental que elas acessem conteúdos adequados para a própria idade”, explica Laura Moreira, psiquiatra e co-autora da obra. “Alguns temas estão além do que os pequenos podem compreender e é possível que tenham potencial traumático no desenvolvimento”, reforça Juliana.
Combinados devem ser mantidos e válidos para toda a família mesmo nesse período. “Evitar os eletrônicos durante as refeições e limitar o uso no final do dia e a noite para preservar a quantidade e a qualidade do sono das crianças é importante também nas férias”, salienta Laura.
Usando a tecnologia nas férias
Nesse período fora da escola, é essencial reequilibrar as atividades para aproveitar o tempo com qualidade. “Dormir, conviver com a família e os amigos, brincar e praticar esportes continuam sendo fundamentais e precisam ser mantidos, mas podem ser administrados de forma diferente da rotina habitual durante as férias”, argumenta Laura. As mídias digitais podem ser um recurso interessante na hora de entreter os filhos e por isso faz sentido que o tempo de uso aumente em relação aos períodos letivos. “Nas férias, a ideia é que o uso dos eletrônicos não tome o espaço de outras atividades importantes para o desenvolvimento infantil. Até mesmo o tédio, que pode ser um bom estímulo para a criatividade, precisa ter o seu lugar”, sugere a psiquiatra.
É indicado prezar pelo equilíbrio. “Não há problema que a criança passe parte de um dia chuvoso jogando e vendo filmes na TV, desde que no dia seguinte outras atividades sejam prioridade, como jogar bola, brincar ao ar livre, desenhar, passear, jogar cartas, andar de bicicleta ou ainda estar com a família”, elucida Laura.
Uma oportunidade para criar vínculos afetivos
Adultos que conseguem estar com as crianças durante as férias podem ter uma oportunidade de se conectar com elas, inclusive através das mídias digitais. “Pais podem pedir aos filhos que os ensinem seu jogo favorito, conhecerem com que personagem jogam ou assistirem juntos a um vídeo que a criança goste”, destaca a psiquiatra. “Os pequenos adoram o interesse dos pais no que gostam e isso aproxima, fortalece laços, melhora a relação de confiança e oferece ganhos que se estendem por toda a vida”, ressalta Laura.
3 dicas para tornar a tecnologia uma aliada nas férias
Auxilie na busca de aplicativos: “Se o seu filho se interessa por desenho, música ou qualquer outra atividade, aproveite as férias para ajudá-lo a encontrar um aplicativo que contribua para o seu desenvolvimento ou até mesmo com a pesquisa sobre a área que ele gosta”, indica Aline Restano, psicóloga e co-autora do livro Crianças Bem Conectadas.
Conheça os jogos que seu filho brinca: “Aproveite o tempo menos corrido para saber quais são os jogos que as crianças gostam, os avatares utilizados e com quem estão jogando”, sugere a psicóloga.
Utilizem juntos: “Esse é o momento ideal para usar a tecnologia em conjunto com as crianças, seja jogando com os amigos ou assistindo um filme em família”, finaliza Laura.
Crianças Bem Conectadas
Escrito pelos médicos psiquiatras Daniel Spritzer e Laura Moreira, as psicólogas Juliana Potter e Aline Restano, e o pesquisador e coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da PUCRS, Bernardo Bueno, o livro reflete sobre como fazer da tecnologia uma aliada em casa, na escola e na sociedade. O principal debate deste conteúdo pioneiro é como orientar pais, cuidadores, familiares e crianças a usar dispositivos e mídias digitais de maneira saudável, conscientizando adultos e educando os pequenos.